Lembram-se de, na semana passada, andar toda a gente a partilhar os seus resultados do Spotify Wrapped? Pois é, não tardou muito até surgirem inúmeras pessoas a esclarecer que, embora ter centenas de milhares ou até milhões, de streams pareça muito fixe num gráfico que as pessoas podem compartilhar no Instagram, as taxas de royalties das plataformas digitais afinal não pagam assim tão bem. Sendo que isto não é propriamente novidade para os melómanos mais atentos, um estudo recente levado a cabo no Reino Unido pelo The Musicians Union em parceria com a organização de compositores The Ivors Academy, revela que 82% dos músicos que responderam ao inquérito ganham menos de £200 (€219,26) com o streaming anual das suas criações.
O problema não se resume, no entanto, apenas ao Reino Unido, com músicos deste e do outro lado do Atlântico a virem a público falar sobre a questão. Recentemente, Mike Portnoy, o ex-baterista dos DREAM THEATER, hoje nos THE WINERY DOGS e SONS Of APOLLO, desabafou sobre os pagamentos feitos pelo Spotify numa publicação nas suas redes sociais, confessando que o seu rendimento anual com a plataforma de streaming mal paga um jantar à sua família. “Se o Spotify vai continuar a enviar essas estatísticas estúpidas de fim de ano para que todas as bandas se possam gabar de quantos ouvinte têm, talvez pudessem incluir também a quantidade de dinheiro que eles (não) estão pagar aos artistas por essa quantidade de streams”, diz o músico, explicando que, para obter uma remuneração equivalente ao salário mínimo padrão norte-americano, é necessário chegar às 1.117.021 reproduções de música na plataforma.
Numa entrevista ao jornal irlandês Irish Times, no início deste ano, Corey Taylor, o vocalista dos SLIPKNOT, revelou não concordar com o actual sistema de remuneração adoptado pelas plataformas de streaming. Segundo ele, os números apresentados actualmente não são justos ou rentáveis para os músicos. “Ganhamos menos que centavos“, começa por dizer o músico, que acumula funções nos STONE SOUR. “Tenho amigos que tiveram de desistir da música, e são de bandas populares, porque não conseguiam sobreviver. Para bandas intermédias e inferiores, é muito difícil. Quase que vale mais a pena tocar num pub e cobrar bilhetes à porta. Ganha-se mais dinheiro fazendo isso do que a gravar um disco. As editoras ainda ficam com a maior fatia do bolo“.
Quando o jornalista que pediu que desse exemplos concretos, o famoso músico norte-americano afirmou. “A taxa mais baixa é a do YouTube. Cada visualização oferece 0,04% de um centavo. Fazendo as contas rapidamente, num milhão de streams, vamos receber US$ 400. As pessoas não conseguem viver só com isso — e olhem que não há muitos músicos que conseguem atingir esses números. As plataformas de streaming não querem pagar a quem faz as canções e, mesmo assim, ganham biliões de dólares. Compram edifícios gigantescos e não querem pagar a quem lhes deu esse dinheiro. É de loucos. Algo tem de mudar“.