Numa recta final de ano com oferta bastante variada (felizmente) a cada fim de semana um pouco por todo o país, o RCA Club, em Lisboa, recebeu duas grandes bandas de hard’n’heavy, em pontos bem diferentes das suas respectivas carreiras, mas com muito mais coisas em comum do que aquelas que as separam. Os YELLOW DOGS CONSPIRACY já têm mais de uma década de existência e lançaram o álbum de estreia há alguns anos (com um bom impacto na crítica, na altura), estando neste momento com uma formação renovada (com menos um guitarrista depois de “perderem” Josh Riot para os Seventh Storm) e com a substituição de Nuno Correia no baixo (actualmente nos UHF) por Gabriel Carvalho, enquanto os XEQUE-MATE, a primeira banda de heavy metal nacional, estão prestes a lançar o novo álbum de originais «Não Consigo Manter A Fé» no próximo dia 17 de Dezembro.
Com a sala ainda muito vazia, os pioneiros XEQUE-MATE subiram ao palco, mas esse facto não teve qualquer impacto na entrega da já clássico «Ritual», que evidencia não só a vitalidade da banda como também toda experiência e toda a classe ao entregar hard’n’heavy de qualidade superior. Classe que também passa por conseguir superar pequenos percalços, como o ocorrido no tema-título do novo álbum «Não Consigo Manter A Fé», com Joaquim Fernandes a ter um problema com o auricular e com o pedal da bateria. Os temas novos encaixam perfeitamente no espírito mais clássico, onde se destaca obviamente o talento dos dois guitarristas, Tiago Costa e Artur Capela, a trocar solos e a juntarem-se a José Costa e a Joaquim Fernandes na secção rítmica. De destacar também a participação de Rute Fevereiro (das Black Widows e EnChanTya) no dueto com Xico Soares, num dos singles de avanço ao novo álbum, «Quase Esqueci A Tua Cara». À medida o concerto foi avançando, a casa também foi enchendo, com todos a ficarem instantaneamente agarrados a temas como «Cães Que Mordem» (do «Æternum Testamentum», tema que a banda regravou e que vai aparecer neste álbum novo), dedicado à classe política. Infelizmente, e por questões de rigor de horário, a actuação teve que ser encurtada e acabaram por ficar de fora do alinhamento os clássicos «Ás Do Volante», «Filhos Do Metal» e «Vampiro Da Uva». Ainda assim, este regresso dos XEQUE-MATE à capital não deixou de ser valoroso A repetir a dose muito em breve, esperamos.
Os YELLOW DOGS CONSPIRACY eram os senhores da noite e foi possível notar desce cedo que muito do público estava ali precisamente para os ver e apoiar de forma entusiasta. Verdade terá de ser dita, a sua música também convida (e muito) a esse entusiasmo. Com um espírito hard rock que já não se encontra muito nestes dias, mas sem deixar de soar actual e relevante, o início da actuação deu-se com umas estrondosas «Hello My Friend» e «Skinny Little Man», que colocaram de imediato toda gente a mexer. Uma constante, aliás, ao longo da actuação, até mesmo durante a versão de «Another Brick In The Wall», Pink Floyd, com um tratamento mais pesado, integrando-se bem no som da banda. Por falar em som, também é importante referir que a mudança de duas para uma guitarra é sempre algo com potencial para debilitar o poder global de um grupo, mas não foi o que sentiu neste caso. Luiz Arantes é um mago da guitarra e Gabriel Carvalho consegue garantir a coesão rítmica como ninguém. A estes dois junta-se Filipe Gonçalves na bateria, criando uma base instrumental de luxo que pode brilhar de forma especial m canções como a já clássica «Enough Is Enough», em que cada um teve oportunidade de evidenciar o seu talento individual. Não nos podemos esquecer também de Vice, que é um excelente frontman, conseguindo cativar e impulsionar o público a participar na festa. Tal como aconteceu com os XEQUE-MATE, o alinhamento teve de ser ligeiramente encurtado, mas ainda tivemos oportunidade de ouvir um tema novo, intitulado «RAD (Dumb’N’Blind)», que deverá figurar no próximo trabalho de originais.
Para a memória ficou a junção de sucesso destas duas bandas nacionais, que insistem (e ainda bem) em remar contra a maré e a apostar num estilo que é cada vez mais underground.
Fotos: Sónia Ferreira