A guitarra iluminada no palco não era apenas um pormenor. Também a distância entre as pessoas — que, sentadas, se preparavam para assistir a um concerto de rock –, não era um pormenor. Porém, quando se tem quase quatro décadas de carreira e se celebram 35 anos da edição de um disco, o “novo normal” é apenas mais um virar de página numa longa vida. Claro que o “novo normal”, não permitiu aos maiatos celebrarem o aniversário da maneira que desejariam, mas mesmo assim, souberam romper confinamentos e subir sem medo ao palco. Uma actuação que surpreendeu, pois a dupla de guitarristas, deu poder ao grupo e alguns temas, como «Às Do Volante», ganharam um tom moderno que só os valoriza.
Nada de solos, não contando com o discurso final do Joaquim, nada de acelerar, por vezes jogando bem com a antecipação que um tema pode proporcionar e sempre com uma solidez que surpreende, mesmo sendo uma banda que não actua tantas vezes quanto isso e que clama também não ensaiar muito. O concerto começou com a projecção de fotos e partes de vídeo que ilustravam os 35 anos decorrentes desde a edição de «Em Nome Do Pai, Do Filho… E Do Rock ‘n’ Roll». A guitarra sempre presente na frente de palco, lembrava o seu dono, António Soares, e «Vampiro da Uva» arrancou, soando mais pesado que antes.
Logo aí se percebeu que as duas Ibañez iriam fazer estragos e marcar o concerto, para lá da voz forte de Xico Soares, hoje mais grave e pausado que antes. A secção rítmica permaneceu sólida e os backups vocais que surgiram a partir da metade do concerto, resultaram inócuos. O instrumental «Lai» e «Partiste» foram, claramente, momentos mais para a banda que para o público, mas como quase todos eram velhos conhecidos, percebeu-se bem a intenção. Não houve encore, mas «Filhos Do Metal» terminou em grande e em registo sóbrio, sem sofrer demasiada exposição como no passado. Por um par de horas, os anos 80 receberam todos os presentes e fizeram esquecer 2020.
ALINHAMENTO: «Vampiro da Uva», «Entornei o Molho», «A Prisão», «Ritual», «Não Tenho Tempo Miúdo», «Escrava da Noite», «Lai», «Partiste», «Ás do Volante», «Paraíso (Lugar de Sonho)», «Eles Rondam Isto», «Filhos do Metal»