Ao fim de quase vinte anos e sete álbuns (contando com este), já não será preciso fornecer contexto histórico ou grandes descrições dos WOLVES IN THE THRONE ROOM. O seu legado como uma das bandas mais importantes deste século, especialmente para o campo do black metal, está firmemente estabelecido, e as opiniões acerca deles também já estarão quase definitivamente formadas na cabeça de cada ouvinte deste género de música. Como têm feito ao longo do tempo, tirando um ou outro desvio radical para espairecer («Celestite», logo à cabeça, claro), agora é uma questão de ir explorando, refinando a fórmula, apanhando as influências dos guitarristas com quem os irmãos Weaver vão colaborando (desta vez é Kody Keyworth dos ALDEBARAN, cujo backgorund no doom, e em particular funeral doom, se nota claramente em variadíssimas passagens, tão belas como tenebrosamente opressivas), e crescendo dentro do mundo natural que ergueram à volta da sua música. Literalmente, diga-se.
Boa parte do que esta banda é está intimamente ligada à propriedade onde residem em Olympia, no estado de Washington, basta ouvir o Aaron Weaver a falar da grande árvore que tem à porta do seu estúdio e à ligação que tem com ela para entender isso, mesmo que a música em si não desse já pistas suficientes. É, aliás, com base nesse retiro espiritual que se explica melhor «Primordial Arcana» – enquanto muitas outras bandas começam em modo DIY e se vão expandindo e delegando à medida que adquirem recursos e experiência, os WIITR têm feito o caminho inverso, e este álbum é o primeiro que se pode considerar 100% um produto dos seus surroundings. Composto, ensaiado, gravado, produzido, misturado e masterizado no The Owl Lodge, assim se chama apropriadamente o estúdio, é única e exclusivamente produto da inspiração e talento dos manos Weaver e do buddy Kody. É por isso ainda mais impressionante que o resultado seja talvez o álbum mais completo da sua carreira.
Sem beliscar a importância incomensurável do «Two Hunters» ou a beleza transcendental do «Celesteal Lineage», por exemplo, a verdade é que «Primordial Arcana» reúne tudo aquilo que há para gostar nesta banda, e no black metal em geral, num todo coerente e natural. A frieza cortante da abertura «Mountain Magick», a glória sinfónica e expansiva de «Primal Chasm (Gift Of Fire)», onde Kody brilha a grande altura, o wink wink ao black metal norueguês e à comunidade internacional do género em «Spirit Of Lightning», uma espécie de «The Acclamation Of Bonds» deste século… Os pormenores brilhantes são mais que muitos, cada tema é um monumento encostado aos outros mas que também se mantém em pé por si só, e no final de cada uma das muitas audições que «Primordial Arcana» nos vai “obrigar” a dar-lhe, a sensação é sempre de que estamos perante uma obra maior da música extrema contemporânea. Saibamos apreciá-la. [9]