LACUNACOIL

Na ressaca da épica passagem por Lisboa, no fim de semana passado, WOLF HOFFMAN reflete sobre o impacto duradouro da música dos ACCEPT, mais de quatro décadas após o primeiro LP.

Quando os primeiros riffs de «Balls To The Wall» ecoaram numa garagem na Alemanha, nos anos 70, nem Wolf Hoffmann nem os restantes elementos dos ACCEPT imaginavam que, passadas mais de quatro décadas, aquela canção ainda faria parte de concertos lotados um pouco por todo o mundo — um dos quais aconteceu, no passado Sábado, dia 14 de Junho, no LAV – Lisboa Ao Vivo. Foi precisamente essa longevidade — improvável, mas agora inegável — que esteve no centro de uma entrevista recente dada por Wolf.

“Ainda me surpreende que as pessoas realmente… Quer dizer, quase parece que estas músicas são eternas, o que é algo que ninguém podia ter previsto”, confessou Wolf, com um misto de espanto e orgulho, ao canal Empire Extreme durante a edição deste ano do M3 Rock Festival. “Quando penso naqueles tempos, na Alemanha, em que éramos basicamente miúdos numa garagem a tentar formar uma banda e a escrever as primeiras músicas, ninguém imaginava que isto iria durar. Não fazíamos ideia de que aquelas canções iriam ter tanto poder de permanência.

E agora, 40 anos depois, elas continuam a significar algo para as pessoas. Não desaparecem. É uma loucura. E é uma coisa maravilhosa; o que mais na vida tem este tipo de impacto?”, deixa Wolf a pairar no ar. Acaba por ser surpreendente, de facto. Em 2024, os ACCEPT celebraram o 45.º aniversário do álbum de estreia homónimo, originalmente lançado em 1979. Com ele começou uma das mais notórias jornadas do heavy metal europeu, marcada por discos como «Restless And Wild», de 1982, «Balls To The Wall», de 1983, e «Metal Heart», de 1985.

Entre explosões de energia, críticas sociais e uma sonoridade a cavalo entre a tradição e a inovação, os ACCEPT construíram um legado duradouro — muito para lá do que o próprio Wolf Hoffmann alguma vez poderia ter suposto. “Estive afastado do mundo da música durante alguns anos”, continuou o músico, reflectindo sobre a pausa que fez na sua carreira. “Percebi ainda mais claramente que, independentemente do emprego que possas ter, não há nada que tenha tanto impacto nas pessoas como a música e a arte em geral. É fantástico. É um privilégio.”

E há um tema em particular que personifica esse impacto: «Balls To The Wall», um verdadeiro hino do metal dos anos 80 e, talvez, a canção mais emblemática do catálogo dos ACCEPT. Wolf lembra-se bem do momento em que apresentou a ideia para o tema à banda: “Lembro-me quando trouxe as primeiras partes dessa canção. Pensei: ‘Isto é uma música muito fixe. Acho que vai fazer algo por nós.’ No entanto, acho que ninguém fazia ideia de que o heavy metal iria durar tanto tempo.”

Entretanto, o tempo passou e os ACCEPT não só continuaram como renasceram. Após um período de pausa, Wolf Hoffmann encontrou no vocalista Mark Tornillo, de New Jersey, o parceiro ideal para uma nova fase. A entrada de Tornillo em 2009, substituindo o histórico Udo Dirkschneider, trouxe um novo fôlego à banda e uma sucessão de álbuns bem-sucedidos que os recolocou nas bocas do mundo. Desde então, Mark Tornillo tornou-se o frontman com mais tempo de serviço nos ACCEPT, e a sua colaboração com Wolf é hoje reconhecida com distinção no Metal Hall Of Fame.

Com seis álbuns de estúdio lançados nesta nova era, os ACCEPT provaram que a fidelidade ao espírito do heavy metal não precisa necessariamente de ceder à nostalgia. Em vez disso, continuam a criar, a evoluir e a marcar presença nos palcos internacionais com energia e convicção. Ao fim de quase meio século de carreira, milhões de discos vendidos e uma influência que atravessa gerações, os ACCEPT continuam a ser um dos pilares do metal europeu. E, como revelou Wolf Hoffmann, foi essa autenticidade despretensiosa — a vontade de “tocar enquanto der” — que acabou por cimentar um legado que ninguém previa, mas que hoje parece destinado a durar.

A foto do header é do JORGE BOTAS.