THEDARKNESS

Foi uma noite de estreias em Lisboa com os WEATHER SYSTEMS, de Daniel Cavanagh (importante ex-Anathema) a subirem pela primeira vez a palco e os britânicos HAUNT THE WOODS a assinarem o seu primeiro concerto em Portugal.

Formados no interior de Inglaterra, mais concretamente, entre Plymouth, Devon e Cornwall, os HAUNT THE WOODS entrelaçam habilmente alt-rock, folk, prog e pop com um nível épico de pompa e elegância poética que sugere um período de existência muito mais longo do que a sua juventude nos sugere. Na sua música, há referências aos Queen e aos Muse, a Jeff Buckley e também aos Radiohead, e uma pitada de sensibilidade pop dos Beatles.

Em palco, o vocalista Jonathan Stafford referiu o seu sotaque de Cornwall, que alguém lhe tinha dito que soava posh! Além do sotaque, o que impressiona é o seu alcance vocal impressionante, principalmente no registo mais agudo, que se fez ouvir ao longo da noite, principalmente em «Gold» e «Save Me». No fim da actuação, a banda foi para meio do público que enchia a sala lisboeta, e tocou «Sleepwalking» num formato acústico com harmonia a quatro vozes, no que foi excelente momento a fechar a actuação de estreia dos HAUNT THE WOODS em Portugal.

O que se seguiu foi o primeiro concerto de sempre dos WEATHER SYSTEMS, que para além do ilustre ex-Anathema, Daniel Cavanagh, contam com um impressionante contingente nacional de músicos na sua formação; a saber, Daniel Cardoso na bateria (também ele um ex-Anathema), Soraia Silva (dos Needle) na voz e André Marinho, dos In Chaos, no baixo e nas vocalizações de apoio. Dada a ligação à banda britânica, foi mesmo com «Deep», um tema dos Anathema, que começaram a noite.

Desde o primeiro momento, o som estava forte, com destaque para a voz de Daniel, que se sobrepunha a quase tudo, mas acabou por atingir-se bastante equilíbrio à medida que a actuação foi progredindo. Em «Do Angels Sing Like Rain?», do disco de estreia dos WEATHER SYSTEMS, houve um começo em falso, mas nada como recomeçar para tudo acabar por correr bem.

Daí em diante, os temas do novo disco foram sendo intercalados com alguns clássicos dos Anathema, com especial destaque para as emotivas interpretações de «Ocean Without A Shore» e «Still Lake». Um dos momentos mais marcantes da noite aconteceu com «Simple Mistake», canção dedicada por Daniel ao irmão Vincent, e que esteve perto de ser excluída do alinhamento devido à carga emocional que carrega. O próprio músico confessou ter dúvidas sobre conseguir cantá-la, mas acabou por se superar, oferecendo uma interpretação sentida que justificou plenamente a sua inclusão no alinhamento.

Outro instante de grande envolvimento emocional aconteceu com «Are You There?», quando o vocalista pediu para que se desligassem as luzes de palco, convidando o público a iluminar a sala apenas com as lanternas dos telemóveis. Este gesto simples criou um ambiente intimista, reforçando uma ligação entre banda e a plateia. Uma actuação com altos e baixo, houve mais um pequeno percalço — algo normal no início de uma digressão e, principalmente, quando uma banda toca ao vivo pela primeira vez ao vivo —, com Daniel a pedir para pararem de tocar o tema «Untouchable Part 1» porque precisava de ouvir a click track na sua munição.

Sem mais percalços, seguiram-se a segunda e a tarceira partes de «Untouchable» e, já na recta final da actuação, «Flying», com o público a cantar o tema em uníssono, e, mesmo a terminar as excelentes duas horas de concerto, «Fragile Dreams», mais um clássico incontornável dos Anathema. Feitas as contas, se Daniel Cavanagh tinha receio que ninguém tivesse interesse em ver os WEATHER SYSTEMS, em Lisboa a casa estava cheia e, para os fãs dos Anathema, este foi um daqueles concertos obrigatórios.