“Seven deadly sins
Seven ways to win
Seven holy paths to Hell
And your trip begins
Seven downward slopes
Seven bloodied hopes
Seven are your burning fires
Seven your desires”
Iron Maiden – «Moonchild», 1988
Existem diversos significados para o número sete, sendo alguns deles enumerados na introdução acústica de «Moonchild», que abre o sétimo álbum dos Iron Maiden, «Seventh Son Of A Seventh Son». O número é referido 77 vezes no Velho Testamento e, tendo criado o mundo em seis dias, o criador terá descansado ao sétimo dia, tornando o algarismo representativo da perfeição e da conclusão. No domínio da numerologia, representa a totalidade do universo e a busca da espiritualidade. Estes significados ocultos, e o livro de Orson Scott Card, inspiraram os Maiden para criar um conceito que atravessaria o seu sétimo álbum, que marcou o final da sua era dourada e, argumentariam muitos (nos quais me incluo) que representa a perfeição para a banda de Steve Harris.
Dificilmente encontraremos semelhanças estilísticas entre esse disco e o sétimo álbum dos Watain mas, de certa forma, existe um certo paralelo espiritual entre os dois, se quisermos assim defini-lo. Por certo inconsciente para uns e outros no seu processo de criação, ambas as bandas chegam ao seu sétimo trabalho com uma identidade bem vincada e uma bagagem musical de vastos recursos, e criaram um disco que não consiste apenas numa súmula de caminhos anteriormente percorridos mas de reinvenção e acrescento. Centrando-nos nos Watain, aqui não só englobam as duas vertentes mais vincadas da sua música, aquilo a que chamam de agonia e êxtase, de uma forma mais coerente que alguma vez tenham feito até aqui, como o fazem tornando o todo maior que a soma das partes. Se em «The Wild Hunt», de 2013, «They Rode On» e o tema-título foram temas que se distinguiram, porque inauditos no que seria o corpo de trabalho anteriormente produzido, aqui tudo flui de uma forma bastante mais natural, e é um trabalho bastante mais variado que «Trident Wolf Apocalypse», que marcou o contraste com «The Wild Hunt».
O início, com «Ecstasies In Night Infinite» e «The Howling» são os Watain no seu mais extremo mas também no mais inspirado, duas canções bem trabalhadas e memoráveis, afirmações de que são talvez a banda que maior capacidade tem de converter ouvintes ao género sem comprometer o cânone que tomam como sagrado. Mas tanto o black metal como os Watain contêm multitudes, e «Serimosa» traz o primeiro momento de êxtase, ainda que depois em «Black Cunt», «Leper’s Grace» e «Before The Cataclysm» essas duas vertentes se encontrem presentes em simultâneo nas próprias composições. Em rigor, são dois dos melhores temas da carreira dos Watain que melhor representam os dois extremos em que se movem e encontram multitudes, nomeadamente «Ecstasies In Night Infinite» (que devastação!) e depois «We Remain» no espectro oposto. Este último com a brilhante participação de Farida Lemouchi (Molassess, ex-The Devil’s Blood) a elevar o tema a outro patamar. «Funeral Winter» e «Septentrion», que encerram o disco, são outros destaques de um trabalho sem momentos menos realizados, e que marcará o black metal desta década.
Mais uma vez com produção de Tore Stjerna, a gravação foi captada ao vivo no estúdio e pela formação de Watain que se irá apresentar em palco (E. Danielsson – voz; P. Forsberg – guitarra; A. Lillo – baixo; H. Eriksson – guitarra; E. Forcas – bateria), o que torna a prestação mais orgânica e com a coesão que apenas uma banda a tocar junta consegue, e que tanta falta faz em muitas captações. Além dessa alma sonora, outra das mais-valias deste disco é que, passado algum período de convivência e múltiplas audições, torna-se cada vez mais difícil separar as duas vertentes, a agonia e o êxtase, pois nunca há uma leitura simples e singular. «The Agony & Ecstasy Of Watain» pode ter tido como propósito inicial juntar dois mundos aparentemente contrastantes; luz e trevas ou yin e yang; mas ao fazê-lo chegou ao âmago daquilo que são os Watain e este será, certamente, não só o disco mais representativo daquilo que são, como o mais bem conseguido. [9.5]