WARBRINGER

WARBRINGER: Novo LP, «Wrath And Ruin», para ouvir na íntegra [review + streaming]

Naquele que é já o seu sétimo registo de longa-duração, os WARBRINGER mantêm a agressividade habitual, mas exploram territórios épicos e progressivos, que resultam numa reinvenção com tanto de intrigante quanto de irregular.

Os WARBRINGER são uma das poucas bandas da vaga de thrash revivalista dos anos 2000 que conseguiu manter uma carreira minimamente estável e relevante. Desde a estreia em 2008, o grupo californiano tem sido um nome constante no circuito, embora nem sempre com a mesma consistência. Álbuns como «IV: Empires Collapse» e o mais recente «Weapons Of Tomorrow», de 2020, mostraram o potencial da banda para criar petardos de thrash rápidos e agressivos, mas a verdade é que, feitas as contas, o catálogo dos músicos californianos tem oscilado entre momentos inspirados e registos bastante menos memoráveis.

Embora «Weapons Of Tomorrow» tenha sido bem recebido quando foi lançado, uma escuta atenta, uns escassos quatro anos depois, revela que o disco não envelheceu tão bem como se esperava — um caso clássico de sobrevalorização inicial. Com o sétimo álbum, «Wrath And Ruin», os WARBRINGER voltam com a mesma formação, mantendo a velocidade e a agressividade características, mas expandindo a sua sonoridade para territórios inesperados com elementos épicos e progressivos. O resultado acaba por ser tão intrigante como irregular — uma tentativa de reinvenção que revela tanto os pontos fortes como as fragilidades deste grupo de músicos.

O álbum arranca com «The Sword And The Cross», indubitavelmente um dos temas mais ambiciosos que assinaram até hoje. O que se ouve é uma fusão curiosa entre o thrash clássico e o metal mais épico, com elementos black metal (inseridos de forma bastante subtil) para darem à canção uma dimensão extra de grandiosidade. As guitarras de Adam Carroll e Chase Becker entregam riffs explosivos e solos virtuosos, John Kevill está em excelente forma, oferecendo uma interpretação vocal cheia de raiva e teatralidade, quase a roçar o dramatismo de um vocalista de metal tradicional. Apesar de se estender por mais de seis minutos — e de poder beneficiar de alguma edição —, esta é uma experiência maioritariamente bem-sucedida.

Saldo positivo, portanto, Logo a seguir, o mais recente single «Through A Glass, Darkly» aprofunda ainda mais esta incursão épica, com uma clara influência dos irlandeses Primordial. A cadência melancólica e o tom atmosférico lembram alguns dos melhores momentos de «To The Nameless Dead», e o facto destes músicos conseguirem fazer essa abordagem funcionar sem perderem a sua identidade é digno de nota… No entanto, aquele que é o momento mais surpreendente do disco só chega com «Cage Of Air».

O que os WARBRINGER nos servem no penúltimo tema do alinhamento é, pasmem-se!, uma composição de quase sete minutos onde experimentam com texturas e dinâmicas que não soariam deslocadas num disco dos Opeth. Aí, thrash, black metal e passagens melódicas fundem-se num épico coeso e ambicioso, provando que esta gente está disposta (e habilitada) a desafiar os limites do seu som. O problema é que, infelizmente, nem tudo corre pelo melhor em «Wrath And Ruin».

E o problema é curioso, porque são as faixas de thrash mais directo — tradicionalmente o ponto forte dos WARBRINGER — que acabam por soar demasiado formulaicas e, muito graças a isso, algo desinspiradas. Verdade seja dita, não há nada de errado em «A Better World» e «Neuromancer», mas são temas previsíveis, sem a chama e a intensidade que tornaram os primeiros lançamentos da banda tão cativantes. Por seu lado, a «The Jackhammer» destaca-se um pouco mais, com riffs cortantes e alguns momentos interessantes, mas ainda assim fica aquém do esperado.

O melhor thrash surge apenas em «Strike From The Sky», um tema tão veloz e agressivo que recupera a essência dos WARBRINGER, com riffs cortantes e uma prestação vocal feroz de Kevill. Já «The Last Of My Kind», que encerra o álbum, tenta fundir essa agressividade com a abordagem mais épica e expansiva do resto do disco e, embora a ideia seja muito interessante no papel, na prática, o tema acaba por perder-se em camadas desnecessárias e prolonga-se além do necessário, diluindo o impacto final.

Do ponto de vista técnico, o desempenho de Carroll e Becker nas guitarras é sólido, especialmente nos temas mais experimentais. Os solos são elaborados e a química entre os dois é evidente, mas nos temas mais directos o material rítmico soa algo genérico. John Kevill, por seu lado, merece crédito por tentar expandir a sua abordagem vocal para acompanhar o tom mais ambicioso do álbum. Embora a sua gama vocal seja limitada, consegue transmitir o peso emocional necessário.

Feitas as contas, «Wrath And Ruin» soa a um álbum de transição para os WARBRINGER — uma tentativa de redefinir o som da banda e expandir os limites do thrash. Ainda que a intenção seja louvável, e há por aqui momentos de verdadeira inspiração, o resultado não é mais que inconsistente. A banda mostra que tem a capacidade técnica e criativa para ir além, mas o equilíbrio entre os elementos tradicionais e esses novos territórios ainda não foi totalmente alcançado.