GUANOAPES

Em contagem decrescente para a sua estreia no COMENDATIO MUSIC FEST, o baterista dos VOLA fala do novo álbum, da experiência de tocar ao vivo e do concerto em Portugal.

Ao longo da última década, os dinamarqueses VOLA consolidaram-se como um dos nomes mais intrigantes da nova vaga de metal progressivo europeu, fundindo riffs mastodônticos com melodias cristalinas, texturas electrónicas e uma sensibilidade pop disfarçada de peso. Mas para Adam Janzi, baterista da banda desde 2020, a palavra de ordem é simplicidade — ou melhor, intencionalidade.

Curiosamente, a entrada de Janzi coincidiu com uma viragem estética na banda — menos obcecada com as métricas labirínticas do prog moderno e mais focada na expressividade individual de cada elemento. O baterista, também conhecido pelo trabalho com os suecos The Flower Kings e Karmakanic, trouxe uma abordagem quase filosófica ao instrumento: menos centrada na exibição técnica, mais interessada no papel da bateria como eixo narrativo. “Tocar não é impressionar, é comunicar”, parece dizer em cada compasso, e essa visão molda profundamente o pulsar de «Friend Of A Phantom», o mais recente álbum dos VOLA.

Na véspera da actuação da banda dinamarquesa, com baterista sueco, no Comendatio Music Fest, que será a primeira em solo português com a formação actual, Janzi falou-nos num registo descontraído, via Zoom directamente da Suécia, onde se preparava para mais uma jornada de concertos. “Ainda estou a sonhar aqui”, disse entre risos, mas revelando imediatamente o entusiasmo pelo espectáculo que se avizinha: “Estou realmente ansioso. Vai ser divertido. É a minha primeira vez em Portugal”.

Desde que se formaram em Copenhaga, em 2006, os VOLA destacaram-se desde cedo pela forma como romperam com as fórmulas mais previsíveis do metal progressivo, trazendo influências que vão do djent à synthpop, da música clássica ao industrial. O EP «Homesick Machinery» foi o primeiro vislumbre desse ecletismo, mas foi com «Inmazes», de 2015, que o quarteto atraiu a atenção internacional. A partir daí, a crítica passou a elogiar não apenas a mestria técnica, mas também a capacidade de equilibrarem uma sempre presente grandiosidade sonora com intimismo lírico — algo que se acentuaria ainda mais em «Applause Of A Distant Crowd» e «Witness», de 2018 e 2021.

O mais recente álbum da banda, «Friend Of A Phantom», lançado em 2024, é o primeiro registo com Adam Janzi e o reflexo de um mundo pós-pandémico ainda a aprender a respirar. Criado num contexto de isolamento e suspensão temporal, o disco exala uma melancolia própria da sua época. “A pandemia fez com que tudo parecesse fora do tempo”, explica o baterista. “Sentia-se como se tudo estivesse parado, mas ao mesmo tempo o tempo passava depressa. Planeámos sessões de estúdio mas nem tínhamos músicas suficientes… O tema «Bleed Out», por exemplo, só foi terminado no último dia de gravações”.

Essa instabilidade temporal reflectiu-se não apenas na logística de gravação, mas também na estrutura das próprias composições. O baterista dos VOLA descreve um processo de criação quase fragmentado, em que os músicos trabalhavam separadamente, enviando ficheiros uns aos outros e finalizando ideias em tempo real. “Havia momentos em que eu estava a praticar ou a escrever partes de bateria, e o resto da banda não tinha nada para fazer. Depois trocávamos”, explica. A natureza remota do processo exigiu um grau de confiança e fluidez que acabou por beneficiar a coesão final do disco.

Apesar das dificuldades logísticas, «Friend Of A Phantom» revelou-se um sucesso junto do público e uma nova etapa para a sonoridade dos VOLA. Segundo Adam Janzi, os fãs têm criado uma ligação muito particular com os temas mais recentes: “As pessoas pedem-nos para tocarmos o material no novo álbum, cantam connosco, sentem-se felizes com essas músicas. É uma sensação incrível depois de tanto trabalho”. Uma das grandes marcas do disco é a sua abordagem mais melódica e aberta — uma opção deliberada da banda para dar espaço à respiração musical.

Tentámos simplificar algumas coisas para deixar as melodias brilharem”, diz Janzi. “É um contraste com o metal moderno, que às vezes é sobrecarregado. Queríamos permitir que a emoção tivesse protagonismo, independentemente de ser tristeza, felicidade ou raiva”. Essa busca por equilíbrio entre a complexidade progressiva e a acessibilidade emocional também se manifesta na bateria. Para Janzi, o virtuosismo só funciona se for aplicado com inteligência e propósito. “Falei disso com um aluno recentemente… Podes tocar algo incrivelmente técnico, mas se não estiver no momento certo, perde-se. Às vezes o mais simples pode ser o mais impactante, se for bem colocado”.

Questionado sobre qual o tema que melhor representa a identidade criativa dos VOLA, o simpático músico hesita antes de nomear duas. “A «Straight Lines» representa a direcção pessoal que sinto nos VOLA actualmente — é mais espontânea, um pouco mais longa, tem outro ritmo. Mas, se for para escolher uma que represente a banda no seu todo, diria a «24 Light Years». Junta o passado ao presente, combina o som clássico dos VOLA com um toque de modernidade e abertura à experimentação”.

Essa visão de futuro passa também pela abertura a colaborações e novos formatos de espectáculo. Para esta digressão de Verão, que inclui a presença no Comendatio Music Fest, a banda dinamarquesa conta com a colaboração da empresa inglesa de iluminação Verdigo, responsável por criar uma componente visual impactante para os concertos. “É claro que, num festival, temos sempre algumas limitações, mas conseguimos levar connosco as nossas luzes personalizadas. Vai valer a pena”, promete.

Apesar da experiência acumulada, Adam Janzi insiste que a emoção de estar em palco nunca deve ser banalizada. “Não quero que isto se torne um trabalho das 9 às 5. Quero continuar entusiasmado, como no início. É fácil cair na rotina quando fazes isto há algum tempo, mas é preciso manter vivo o entusiasmo”. E, como se não bastasse, revelou que a banda está a preparar um alinhamento com especial enfoque nas canções mais recentes, sem esquecer os clássicos que conquistaram os fãs desde a estreia «Inmazes». “Queremos criar uma boa atmosfera de festival. Não é como tocar numa sala fechada — há música por todo o lado, e temos de contribuir para esse ambiente”.

O entusiasmo não vem apenas do lado da banda. A relação dos fãs portugueses com os VOLA tem-se revelado especial e consistente, mesmo com a ausência prolongada de actuações em Portugal. “Os fãs portugueses sempre mostraram uma ligação forte com a nossa música”, observo — algo que o Sr. Janzi confirma com entusiasmo: “Isso deixa-me mesmo muito emocionado. Vai ser muito especial para nós”. A ligação emocional profunda — entre palco e plateia, entre artistas e admiradores — é, para o baterista, a essência de um espetáculo perfeito.

Claro que espero que as pessoas sintam a nossa música, mas se formos apenas mais uma banda que contribui para a energia do festival, se todos se divertirem… já valeu a pena”, afiança. No palco do Comendatio Music Fest, os VOLA prometem exactamente isso: emoção, envolvimento, e uma janela luminosa para o futuro do metal progressivo europeu.

A 21 e 22 de Junho, o Paço da Comenda, em Tomar, voltará a ser palco de mais um encontro inesquecível de artistas e público apaixonado pela música progressiva. Os passes de dois dias  (€76) e os bilhetes diários (€51) já estão à venda site oficial do Comendatio Music Fest.