As expectativas eram bem altas para o regresso dos austríacos VISIONS OF ATLANTIS ao nosso país e, ao chegar ao RCA Club, encontrámos muitos fãs entusiasmados para ver (ou rever) a banda de metal sinfónico. Para chegar até eles, teriam de passar primeiro pelos AUTUMN BRIDE, compatriotas que tiveram a missão de aquecer a sala. A tarefa até foi cumprida acom relativa facilidade, apesar de se notar que o público desconhecia praticamente a sua música. O álbum «Undying» esteve em evidência no alinhamento, com uma valorosa excepção feita para a novidade «H.Eart.H», que provavelmente irá figurar num próximo lançamento. Poderia pensar-se que, com apenas um álbum no catálogo, iam ter alguma dificuldade em “quebrar o gelo”, mas a frontwoman Suzy “Alison” Q revelou um talento natural para puxar pelo público — o momento em que, num frenesim de headbanging, abalroou o “nosso” Jorge Botas com o seu cabelo foi memorável. A sua voz também acabou por ser uma boa surpresa, com um registo mais grave, que ainda assim conseguiu ir aos agudos — como se ouviu na «Moonlit Waters». No final, aquilo a que assistimos foi a uma demonstração intocável de como escrever refrães catchy e músicas memoráveis, pensadas para serem tocadas ao vivo e contagiarem todos com a sua positividade e melodia.
Se a reacção aos AUTUMN BRIDE foi positiva, o que dizer da forma como os VISIONS OF ATLANTIS foram recebidos? Com a intro de «Master The Hurricane» a acompanhar a entrada da banda em palco, o entusiasmo era já outro, mas foi a revelação de Clémentine Delauney e Michele Guaitoli, a dupla de vocalistas, que fez a sala festejar de um jeito ainda mais mais efusivo. As diferenças em relação às anteriores visitas foram notórias desde o início, com os músicos austríacos a revelarem que existe muito trabalho por trás da crescente popularidade da sua música. Mais confiantes, sempre divertidos e com uma fórmula de lidar com o público que ajudou a que o espectáculo ainda envolvesse mais os seus fãs, assinaram uma actuação arrebatadora — e a forma como também não pararam um minuto acabou por revelar-se impressionante. A ligação que estabeleceram entre as duas partes, artista e público, não é muito comum de testemunhar e, claro, revelou-se uma mais-valia. Musicalmente, o foco da banda esteve no seu mais recente registo de originais, intitulado «Pirates», que foi quase todo tocado na íntegra, o que também revelou a confiança que têm nas novas canções. E, em termos cénicos, este conceito acaba por ser o mais forte que a banda alguma vez teve e ajuda a um espectáculo mais sólido. As incursões a outros tempos foram apenas ao passado mais recente, com «Wanderers» e «The Deep & The Dark» a terem maior protagonismo, e só com um tema de «Delta», de 2011, a representar o recuo mais significativo na sua discografia. Não se furtaram a repetir que fizeram questão de voltar a Portugal e relembraram a última vez em que tocaram naquela mesma sala, com a primeira parte a ser assegurada pelos nacionais Glasya, há três anos atrás. O mundo mudou substancialmente desde então e embora muita coisa tenha piorado, a sensação geral é de que os VISIONS OF ATLANTIS estão mesmo melhores que nunca. Para a memória, fica quase uma hora e meia de música e uma sala rendida a uma banda que saiu do palco de coração cheio com o seu público.
Fotos: Sónia Ferreira