1984

«1984»: Uma breve história o profético sexto álbum dos VAN HALEN

Apropriadamente intitulado «1984», o sexto álbum dos VAN HALEN mostrou-os a gravarem “em casa” e a ensaiarem um enorme salto evolutivo. A ousadia valeu-lhes uma bela recompensa, que celebra hoje 40 anos.

Feitas as contas, percebe-se que não são muitos os álbuns que definiram uma era e receberam certificações de diamante (o correspondente a vendas de mais de dez milhões de cópias). No entanto, mais raros ainda são discos gravados em estúdios caseiros que alcançaram esse nível de sucesso. Temos títulos como «Nebraska», do Bruce Springsteen, ou o lendário «The Basement Tapes», de Bob Dylan com The Band, que atingiram grande sucesso e são reverenciados pela crítica.

No entanto, quando se trata de blockbusters saídos do universo hard rock gravados em casa, o sexto álbum dos VAN HALEN, o incontornável «1984», continua a ocupar uma posição sem rival. O complexo 5150, instalado na casa do guitarrista Eddie Van Halen, em Studio City, Los Angeles, dificilmente poderia ser descrito como um estúdio caseiro comum. Começou a ser montado — com a ajuda do engenheiro de som da banda, Donn Landee — quando os músicos estavam a começar a trabalhar no seu sexto álbum, e inicialmente incluía uma mesa de 16 faixas e equipamento 100% vintage.

O nome, esse, foi sacado a um código de lei californiano que dá à polícia autoridade para deter qualquer um que “como resultado de um distúrbio de saúde mental” seja considerado “perigo para os outros ou para si mesmo”. Naqueles primeiros anos, não havia ali nada que o destacasse como state of the art, é certo, mas foi bom o suficiente para que o quarteto captasse as suas novas músicas e as fizesse soar polidas o suficiente serem lançadas.

O ponto principal é que queria ter mais controle”, disse o malogrado Eddie Van Halen à Guitar World em 2014. “Na altura, lembro-me que estava sempre a discutir com o [produtor] Ted Templeman em relação ao que faz um disco ser um bom disco…

Portanto, quando começámos a trabalhar no «1984», o meu maior objectivo era mostrar ao Ted que podíamos fazer um óptimo álbum à nossa maneira, sem termos de gravar versões ou algo desse género. Eu e o Donn descobrimos como construir um estúdio de gravação e, inicialmente, nem sequer havia um plano para montarmos o estúdio completo.

Basicamente, só queria um lugar melhor para gravar a minha música e poder mostrá-la ao resto da banda. Nunca imaginei que se transformaria no que se transformou até começarmos a construí-lo.” Durante os anos 80, as leis de planeamento da Califórnia proibiam os proprietários de construírem estúdios nas suas propriedades, mas a banda lá conseguiu contornar esse entrave e, graças ao conhecimento técnico de Landee e à sua capacidade de lhes fornecer a consola de gravação, o 5150 começou a funcionar mesmo a tempo das sessões do «1984».

Não estranhamente, as condições de trabalho estavam bem longe daquilo a que os músicos estavam habituados, mas ainda assim, seguiram em frente com determinação. “No início, tínhamos só uma sala de captação, por isso é lógico que estávamos muito limitados — foi um enorme desafio gravar a bateria lá”, lembrou Eddie na entrevista citada em cima.

As novidades não se ficaram por aqui e, além das limitações de espaço, as sessões de gravação que acabariam por dar origem ao «1984» adicionaram um novo instrumento ao arsenal do grupo, com os teclados a desempenharem um papel muito mais proeminente, como nunca tinha tido na sua sonoridade até então.

Os sintetizadores Oberheim adquiridos por Eddie ancoraram os dois maiores sucessos do álbum, «Jump» e «I’ll Wait», mas sua utilização não foi imediatamente abraçada pelos companheiros de banda. “Quando lhes toquei a «Jump» pela primeira vez, ninguém queria ter nada a ver com aquilo. O Dave [Lee Roth] disse logo que eu era um herói da guitarra e que não devia tocar teclas“, revelou Van Halen à Guitar World. No entanto, a partir do momento em que Ted Templeman expressou o seu apoio ao tema, dizendo que ouvia ali um hit, “toda a gente começou a gostar mais”, recordou o guitarrista.

No final, Eddie acabou por levar a sua ideia em frente e, eventualmente, percebeu-se que estava certo. Lançado no dia 21 de Dezembro de 1983, «Jump» estabeleceu-se imediatamente como uma das melhores canções dos VAN HALEN e colocou o grupo em primeiro lugar nos Estados Unidos, abrindo caminho para seu sucessor, «I’ll Wait», entrar no Top 20 da Billboard.

Como provado pelo terceiro single retirado do disco, «Panama», e pela esmagadora «House Of Pain», a guitarra de Eddie continuava a dominar os procedimentos, mas não havia como negar que os teclados adicionavam uma nova dimensão ao som da banda. Com «Hot For Teacher» a piscar o olho aos ZZ TOP e a imponente «Drop Dead Legs» ancorada num groove verdadeiramente irresistível, os VAN HALEN entraram no zeigeist com o «1984».

Antes do seu lançamento, a 9 de Janeiro de 1984, «Diver Down», o seu predecessor, já tinha atingido a marda de multiplatina e, graças à aparição em «Beat It», de Michael Jackson, todos sabiam quem era Eddie Van Halen. No entanto, foi esse brilho DIY do «1984», apoiado numa sequência de vídeo-clips compatíveis com a MTV, que levaram a banda a um nível totalmente novo. Quando embarcaram na digressão de promoção ao disco, uma gigantesca jornada que durou nove meses, os VAN HALEN já eram indiscutivelmente a maior banda de rock dos Estados Unidos.