Regresso do VAI D’EMBUTE PUNK FEST, uma das mais emblemáticas festas do punk nacional — e, ainda por cima, num sítio tão emblemático como a Academia Recreativa de Linda-A-Velha, espaço incontornável da cena. Mesmo com a iminente confirmação do novo campeão nacional de futebol a decorrer à mesma hora em que se os concertos teriam início, a “festa” não foi prejudicada por isso, com os ZURRAPA, GRITO!, GATOS PINGADOS, ESCROTO e ESTALO, cinco propostas do melhor que o nosso underground tem para oferecer, a subirem ao palco. Os ESTALO, aqueles que mais tinham os pés assentes no rock e menos no punk entre, foram muitíssimo bem recebidos e nem abordagem menos abrasiva tornou a sua actuação menos apreciada, principalmente por serem filhos de Linda-a-Velha e herdeiros de uma grande tradição cultural underground. O seu rock com músculo e nervo causou logo tanto entusiasmo que um fã acabou em cima da pedaleira de Fernando Santos, o guitarrista da banda, o que fez com que o resto do primeiro tema fosse tocado apenas com bateria e baixo. O percalço ainda demorou algum tempo a ser corrigido, com a pausa a ser colmatada com uma versão do tema só com bateria e baixo, tendo sido tocada novamente de seguida em todo o seu esplendor. Rock poderoso e irreverente, e ainda para mais cantado em português. Destaque para a pesadona «Diabo».
O jogo de futebol ainda durava, o que ia afectando os números da assistência, mas os ESCROTO demonstraram estar imunes a isso, sempre com um espírito de boa disposição desconcertante. Infelizmente, tiveram alguns problemas técnicos, que fizeram com que o início da actuação fosse atrasado. Ainda assim, quando arrancaram, o entusiasmo que espalharam foi irresistível, destacando-se o tema homónimo e uma frenética «Acreditar», sem esquecer as hilariantes tiradas, sempre com fundamento real, entre músicas — como aconteceu na «Políticos», bem acutilante. Os GATOS PINGADOS são um dos nomes mais entusiasmantes do punk da Margem Sul e a sua presença em palco é sempre garantia de música corrosiva em alta rotação. Foi isso mesmo que entregaram. Com um frontman endiabrado na figura de Ricardo e com verdadeiros hinos como «Corda Ao Pescoço» e «Está A Puta Armada», o resultado só podia ser explosivo. Um dos pontos altos foi mesmo «Ódio», onde a animação atingiu níveis máximos, com o público a não ficar indiferente. Da Invicta vieram os GRITO!, que têm marcado presença em eventos um pouco por todo o país e que até vão representar o nosso país naquele que é um dos maiores (senão o maior) festivais de punk do mundo, o mítico Rebellion Fest. Serviram punk rock explosivo, que fez a plateia reagir em concordância. O atraso já se estava a acumular, mas isso não os impediu de despejarem com entusiasmo temas como «Porto A Arder» ou «T-Shirt Dos Ramones», com o público a cantar “Hey Ho, Let’s Go” em uníssono. Adesão fantástica para um grande concerto onde até o vocalista/guitarrista Vítor Hugo largou a guitarra e foi cantar para junto do público.
Os ZURRAPA obrigaram a uma mudança de palco mais demorada, o que acresceu ainda um pouco mais ao atraso já acumulado até então. Havendo uma hora de término (mais ou menos) inflexível, a banda de auto-denominado Punk N’ Roll Xunga fez a festa como já se sabia que iam fazer, com doses elevadas de humor, irreverência e muito rock. Algo alimentou os fãs ávidos, que cantaram e dançaram ao som de temas como «Rosa Grilo É Inocente» e «Estou-me A Cagar (P’ra Eles)». Como a hora já era tardia, a actuação teve de ser encurtada, mas terminou com a sempre épica «Cucaracha Da Cerveja». Ou melhor, teria acabado não tivesse havido vontade para mais a «Taberna do B.A.». NOs últimos anos, temos acompanhado a evolução do VAI D’EMBUTE PUNK FEST, que tem por base o amor à música, a um género específico e, sobretudo, ao convívio que o mesmo traz sempre.
Fotos: Sónia Ferreira