Temos assistido com satisfação ao regresso a uma (relativa) normalidade e não só temos tido concertos de uma forma mais regular como também os festivais começam a arrancar a partir do ponto em que tinham ficado. O VAI D’EMBUTE PUNK FEST teve a sua segunda edição no RCA Club, em Lisboa, mas a organização decidiu voltar às suas raízes mais punk e mudou-se para a Aquipa Desportiva & Cultural em Sacavém. Com o apoio do Grupo Motard Montanelas no catering e serviço de bar, e num espaço perfeito para a festa com um ambiente familiar, é claro que estava tudo pronto para o início. O pontapé de saída deu-se então com os ESTADO TERMINAL, uma jovem banda — com início de carreira em 2018 — do Barreiro, que lançou a primeira pedrada. Houve um atraso em relação ao planeado devido a problemas técnicos que não foram ultrapassados durante a actuação — com a guitarra completamente abafada pela bateria e pelo baixo. Como se não bastasse, o baterista Sérgio sentiu-se mal durante o concerto. De qualquer forma, e após uma pausa para se recompor, não se poupou no pedal-duplo. Apesar das contrariedades, não deixou de ser um bom início para a festa. Seguiram-se os SULTURA, banda que se define como “punk merdoso do Vale do Souza”. Na verdade, mais uma vez o som não esteve propriamente brilhante, o que aliado ao seu punk/crust/hardcore tornou difícil apreciar o que fizeram. Algumas quebras na fluidez da actuação também não ajudaram a que a sua tivessem o impacto que se desejava.
As primeiras movimentações a sério entre o público vieram com a entrada em palco dos ACESSO DE RAIVA, banda de punk/hardcore de Pombal, que lançou recentemente «TV, Pão e Circo». Foi nesse registo que se baseou grande parte da actuação. «Desobedece» abriu o gostinho, «Estado», «Combate Ao Poder» e «Escravo» conquistaram a plateia por completo, muito graças a um som no ponto para fazer a festa. De seguida, ninguém baixou o nível do entusiasmo (nem a qualidade do som que vinha do palco) com o concerto dos RAZIA, que ainda têm fresquinho «Alegadamente» e pérolas como «Inshallah», «O Polvo» e «Vejo-me Grego». O alinhamento foi equilibrado entre «Alegadamente» e «Rebaldaria», o anterior trabalho, e o bailarico foi feito ao som deste punk rock para ser cantado pelo público, que foi o que aconteceu precisamente. Um dos nomes históricos do underground punk nacional veio de seguida — BARBA DE SAPO. O grupo, que conta com mais de um quarto de século, não tem muito material gravado, mas ainda assim tem mais que material suficiente para provocar a animação entre as hostes punk. Clássicos como «Ó Governo» (com o refrão a ser entoado por todos), «Bêbado Por Prazer» e «Anarquia Oi» fizeram a festa assim como o tema clássico dos CENSURADOS, «Angústia». Zorb, dos DALAI LUME, também não resistiu a dar uma perninha ao palco. Foram eles os senhores que se seguiram. O alinhamento era longo (ou, pelo menos, era esse o plano) apoiando-se nos dois trabalhos já lançados, «Para Manter A Chama Viva» e «Sentido Proibido». A festa chegou aos píncaros logo no início, contando até com a participação de Cardoso (dos ARTIGO 21) na voz em «Soluções» — e, até ao final, foi um autêntico rebuliço em que o estado ébrio generalizado também ajudou. Os atrasos que se foram acumulando ao longo do dia fizeram com que a actuação dos DALAI LUME tivesse de ser encurtada, mas o sentimento geral no final foi o de festa entre família e amantes do punk rock. Uma daquelas festas que faziam (e fazem!) mesmo muita falta.
Fotos: Sónia Ferreira