UMA VIDA EM TONS DE SLAYER (capítulo III)

Na nossa série de posts que comemora o regresso discográfico dos Slayer, e também o regresso à capa da LOUD!, cabe agora ao José Carlos Santos debruçar-se sobre o que será o mais aclamado álbum da história dos Slayer, e certamente um dos mais referidos como influência por toda a comunidade metaleira. O «Reign In Blood», desde o seu lançamento em Outubro de 1986, mudou a vida de muita gente, a do nosso chefe de redacção incluída.

REIGN IN BLOOD
[1986, Def Jam]
Lembro-me de cada minuto do trajecto para casa, de volta de uma visita a uma emblemática loja de discos e instrumentos musicais de Vila Franca de Xira especificamente para o comprar, a ler as letras no booklet, a imaginar ao que soariam todas aquelas imagens terríveis e ao mesmo tempo tão fascinantes que o “pacote” completo do «Reign In Blood» estavam a evocar na minha mente pre-teen. O que é , diga-se, um feito de memória nada mau, porque já lá vão mais de 25 anos. O «Reign In Blood» foi o quarto disco que comprei na minha vida, depois do «Kings Of Metal», do «Seventh Son Of A Seventh Son» e do «Ride The Lightning». Foi um início de descoberta de um maravilhoso mundo novo cuidadosamente escolhido a cada passo (até porque três contos ainda eram dinheiro para um miúdo) – os Manowar por terem sido a porta de entrada, os Iron Maiden e os Metallica por terem sido as bandas que já conhecia só de nome e cujos discos já tinha visto com curiosidade nas lojas, e os Slayer… porque me assustavam. Porque via gajos mais velhos que me metiam medo com roupa a dizer Slayer, porque tinha genuíno receio do que me podia acontecer a ouvir aquilo, porque era uma extremidade quase demasiado real. E foi um salto de fé decisivo e do qual não me arrependo. Terá começado aqui, nos 28 imparáveis minutos de um dos discos mais marcantes da história do metal, a minha busca eterna, que ainda hoje se mantém, pela próxima música que me “assuste”, pelo próximo disco que seja tão “feio” e tão fora da minha zona de conforto que me obrigue a ficar a ouvi-lo só pela teimosia de entrar nesse mundo desconhecido. Já com outro “arcaboiço”, sou capaz de dizer hoje que a maior parte dos meus temas favoritos dos Slayer nem são deste disco («Black Magic», «Dead Skin Mask», «Hell Awaits»…), e pedirem-me para escolher o “melhor” deles todos é como pedirem-me para dizer qual dos meus cães eu gosto mais, mas o que começou tudo foi o «Reign In Blood». O que me fez voltar a Vila Franca no dia seguinte para comprar tudo o resto de Slayer que lá havia (mais o «Piece Of Mind», foi uma boa colheita) foi o «Reign In Blood», o mais influente de forma universal é também o «Reign In Blood» (não há UM metaleiro no mundo, tenha 12 ou 62 anos, que não reconheça num segundo o início da «Raining Blood»), e como um bloco contínuo de agressão primária pura, não há nada como o «Reign In Blood».
[J.C.S.]

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