Da pop mutante à exploração sensorial, os noruegueses ULVER traçam um novo desvio na sua já longa jornada.
Os ULVER anunciaram recentemente o seu próximo álbum, «Neverland», acompanhado pela divulgação do primeiro tema de avanço, «Weeping Stone», sucedido agora pelo segundo single, intitulado «They’re Coming! The Birds!»», que já pode ser escutado em baixo. O disco, que chega em formato digital a 31 de Dezembro de 2025 e em edição física a 27 de Fevereiro de 2026, representa o décimo quarto capítulo da discografia da icónica formação norueguesa — e mais um desvio inesperado no percurso de uma banda que nunca se repetiu.
Os ULVER regressam assim com mais um fragmento da sua metamorfose contínua e «They’re Coming! The Birds!» surge como a segunda janela aberta para o universo que a banda norueguesa prepara revelar no final do ano, reafirmando a reputação do grupo liderado por Kristoffer Rygg como um dos colectivos mais imprevisíveis e visionários da música experimental europeia.
Mantendo inalterada a postura mutável que há décadas define o seu percurso — desde as raízes black metal até às mutações electrónicas, pop sombria e paisagens cinematográficas dos seus lançamentos mais reventes —, os ULVER mostram uma abordagem que se insinua tanto familiar quanto inquietante. «They’re Coming! The Birds!» apresenta-se como uma espécie de prelúdio dramático, sustentado por atmosferas densas, vozes etéreas e uma cadência que parece chegar de um lugar intermédio entre o sonho e a ameaça.
Como mencionado em cima, o novo tema sucede a «Weeping Stone», revelado com um visualizer de atmosfera idílica, que tratou de sublinhar desde logo a linguagem estética solarenga desta nova fase dos ULVER. Essa primeira faixa de avanço, dominada por texturas electrónicas diáfanas e por um sentido de deslocação cinematográfico, funcionou como porta de entrada para um álbum que os próprios músicos descrevem como uma fuga e uma viagem para territórios ainda por explorar.
Após uma tríade de discos mais estruturados em moldes pop — «The Assassination Of Julius Caesar», de 2017, «Flowers Of Evil», de 2020, e «Liminal Animals», de 2024 —, os ULVER abraçam agora um espírito diferente. Segundo a banda, “com «Neverland» abraçámos um espírito mais ‘punk’ — mais sonho, menos disciplina, mais liberdade, simplesmente”. Essa abordagem parece refletir-se tanto na fluidez sonora deste tema como na recusa de seguir uma arquitectura previsível, mesmo dentro do experimentalismo que sempre lhes foi familiar.
O álbum abre com sintetizadores que lembram o romper da aurora e com movimentos sonoros que se deslocam como vento em espaços amplos. A partir daí, os ULVER mergulham numa alternância entre serenidade ambiental e um misticismo quase anárquico. À medida que o disco se desenvolve, surgem pulsações percussivas de carácter hipnótico, camadas melódicas que crescem organicamente e uma paisagem sonora que se expande em direções inesperadas, ora vibrante, ora exótica, sempre envolvente.
Na maioria instrumental, «Neverland» recupera ecos da encruzilhada criativa de finais dos anos 1990, onde a IDM se cruzava com as derivas expansivas do post-rock. Há fantasmas reconhecíveis para quem conhece bem a história dos noruegueses: a estética urbana de «Perdition City», de 2000, a atmosfera rarefeita dos EPs «Silence», de 2001, ou a lógica exploratória de «ATGCLVLSSCAP». Ainda assim, todas essas referências funcionam mais como sombras do que como estruturas, reforçando a sensação de que este novo disco é algo diferente — uma síntese livre, mas não uma revisão nostálgica.
Entre vozes distantes, fragmentos vocais quase subliminares e um tecido musical que parece respirar por si próprio, «Neverland» apresenta-se como um espaço de possibilidades. É uma obra que não se apressa em oferecer significados fechados e que prefere insinuar e deixar que o ouvinte complete o percurso. Os próprios ULVER resumem essa ambiguidade criativa ao desafiarem quem escuta a interpretar o resultado: pop de mundos intermédios? Alucinação sonora? Um conjunto de sonhos justapostos?
Até ao final de Fevereiro, quando o disco chegar finalmente às mãos dos ouvintes nos formatos físicos, a novidade «Weeping Stone» funcionará como um primeiro vislumbre deste novo território que os ULVER decidiram explorar. Depois de quase três décadas a desafiar fronteiras e expectativas, o grupo norueguês parece novamente preparado para dar um passo em frente — ou, talvez, um passo para o lado, para fora do mapa, rumo a esse lugar sem coordenadas que decidiram chamar de «Neverland».

01. Fear In A Handful Of Dust | 02. Elephant Trunk | 03. Weeping Stone | 04. People Of The Hills | 05. They’re Coming! The Birds! | 06. Hark! Hark! The Dogs Do Bark | 07. Horses Of The Plough | 08. Pandora’s Box | 09. Quivers In The Marrow | 10. Welcome To The Jungle | 11. Fire In The End











