A escolha dos UGLY KID JOE como cabeças de cartaz do segundo dia de VAGOS METAL FEST pode ter gerado muita polémica, mas quem optou por ficar em casa perdeu um grande concerto de rock.
Muita polémica houve relativamente ao cartaz desta edição de 2023 do VAGOS OPEN AIR, atiçada pela confirmação do cabeça de cartaz do segundo dia do festival: UGLY KID JOE. Por ser uma banda de hard rock (hard’n’heavy, no limite), por ter o expoente máximo de popularidade e sucesso comercial situado temporalmente no início da década de 90 ou, simplesmente, porque — como sabemos — é virtualmente impossível corresponder às expectativas específicas de cada pessoa. Venha o Diabo e escolha.
No entanto, quem já teve a oportunidade de ver a banda liderada por Witfield Crane ao vivo sabia que a posição seria mais que justificada pela qualidade dos concertos que dão em cima de um palco, seja qual for. Conforme as expectativas, foi isso que se passou neste segundo dia de concertos na Quinta do Ega.
A introdução deu ao mote ao que viria: AC/DC, da era Bon Scott, a representar a simplicidade do hard rock que antecedeu a entrada com «That Ain’t Living», uma das três incursões ao mais recente trabalho de originais, «Rad Wings Of Destiny», lançado em Outubro de 2022. Apesar de se notar nitidamente que o tema era desconhecido do público, não deixou de ter aquele groove descontraído e bem humorado a que os norte-americanos já nos habituaram — até pelo próprio nome escolhido pela banda, uma mordaz resposta aos PRETTY BOY FLOYD.
Terrenos mais familiares seguiram-se com o tema «V.I.P.» de «Menace To Sobriety», um álbum que foi apanhado na transição que ditou a “morte” do hard rock com o desvio de atenções para o grunge e se tornou-se uma pérola subvalorizada na discografia da banda — foi, de resto, a esse LP que foram buscar também também «C.U.S.T.» e «Jesus Rode A Harley Davidson». Depois, com a reacção ao memorável single «Neighbor», ficou provado o já se sabia de antemão: o material de «America’s Least Wanted» era o mesmo o foco de grande parte do público.
Não é, por isso, estranho que a banda tenha tocado cinco temas do mítico álbum de estreia — seis, se tivermos em conta que a «Everything About You» teve uma versão embrionária no EP «As Ugly As They Wanna Be»). O público, esse, cantou e saltou com Crane, um frontman bem hábil na arte de motivar o motivar da melhor forma. Aliás, desde o momento em que pediu aos fotógrafos para subirem ao palco, tendo inclusivamente feito questão de os cumprimentar um a um, até ao momento em que colocou toda a gente a cantar os parabéns à namorada Chris Catalyst, o guitarrista que os acompanha em substituição de Dave Fortman, o que tivemos aqui foi uma enorme lição de como conduzir um espectáculo de rock.
Esses detalhes mais ou menos improvisados fizeram toda a diferença e tornaram a actuação memorável. A gestão dos clássicos foi feita de forma inteligente, e o interesse por parte do público esteve sempre em níveis elevados, conseguindo intercalar hinos como «Panhandlin’ Prince» (com um solo magistral de Klaus Eichstadt) e «Cat’s In The Cradle» (tecnicamente, uma cover, mas que a banda já tornou sua) com novidades como «Dead Friends Play», «Devil’s Paradise» e «I’m Alright».
Na sequência de «Milkman’s Son» e «Goddamn Devil», o Sr. Crane explicou que os UGLY KID JOE não são banda de fazer encores, bastando-lhes que a plateia decida no momento se quer ouvir mais um ou dois temas, e a verdade é que a recta final da actuação não deu descanso. Com as vozes a soar bastante alto, arrancaram para mais uma cover, desta vez a «Ace Of Spades», que contou com a participação de David Ellefson que, como o vocalista explicou, por mais bandas e projectos que tenha, será sempre o Dave Ellefson dos Megadeth.
No final, só faltava obviamente a «Everything About You» que também deu origem a grande animação entre o público quando foi dada a indicação por parte do vocalista ao dizer “como diria Ozzy Osbourne, go fucking crazy“. Feitas as contas, percebeu-se que, no que toca a esta escolha de cabeça de cartaz, tudo foi apenas uma questão de expectativas. As expectativas de quem já os conhecia e que sabia que iria ser um dos pontos altos de todo o festival, as expectativas de quem não tinha nenhuma e acabou por ser conquistado sem ter outra alternativa e a expectativa de quem protestou, não foi e nem soube aquilo que perdeu.
A terminar o dia subiram ao palco os espanhóis MEGARA. Essa e as restantes actuações do dia, por parte dos VICIOUSLY HATEFUL, ALL AGAINST, LECKS INC, GLASYA, GATECREEPER, SEVENTH STORM, TARA PERDIDA e NERVOSA serão alvo de reportagem detalhada brevemente, num artigo focado no segundo dia da edição de 2023 do Vagos Metal Fest, que termina hoje com os suíços TRIPTYKON como cabeças de cartaz.
Fotos por Sónia Ferreira