Regresso há muito aguardado do power trio italiano conjurador de uma abordagem ao sludge infestada de um psicadelismo esgazeado, «Fenice» é um álbum que leva muito à letra a ideia de renascimento. Com um novo baterista na formação, Levre, o grupo liderado por Poia e Urlo pegou no imaginário da fénix para fazer dele o fio condutor de um trabalho que se questiona a si próprio, na mesma medida em que procura encontrar novos caminhos para a sonoridade de uma banda com uma reputação de peso demolidor nas atuações ao vivo.
O trio, que nas entrevistas de promoção ao novo disco tem afirmado o sentimento de ter perdido alguma espontaneidade ao longo da carreira, não deixa contudo de dar sinais de algum desnorte. A verdade é que «Fenice» não deixa propriamente a imagem de uma banda renascida, e apesar de repetidas audições a impressão que ficará a ecoar não será tanto um “vamos lá ver o que é que as alucinações destes italianos nos podem oferecer a seguir”, antes uma dúvida um bocadinho mais angustiante: “o que é que aconteceu à banda de «Eve» e de «Idolum»?” E até o mais recente «Godlike Snake» consegue revelar uma incandescência vibrante e mais viva que este «Fenice». Mas se não encontramos o peso devastador do riff worship de um tema como «Hellectric», nem tão pouco a atitude de genuíno delírio cósmico de «II», o que é que a fénix tem afinal para oferecer? A verdade é que nem tudo está perdido, e o nono disco de estúdio de um grupo de veteranos será sempre, bem…., o nono disco de um grupo de veteranos que apesar de tudo nunca deixou de ter uma identidade bastante própria e vincada. O núcleo duro está cá, a carapaça é que já tem muitos anos de estrada. As composições têm uma lógica conceptual que fazem dos seis temas uma longa experimentação dividida em duas partes, uma abordagem que não é propriamente estranha à ética do grupo, mas que aqui aparece menos comprometida com o que de mais progressivo havia na sonoridade do grupo. Saem a perder com isso porque era desse espírito de jam cósmica que brotavam as melhores ideias e momentos dos discos, mas por outro lado ficam mais livres para pensar o riff de uma forma mais solta. Não salvam «Fenice» da condição de disco menor, mas são os temas onde acendem a velha fórmula Ufomammut que acabam por dar alguma cor à fénix. «Pyramind» e «Empyros», curiosamente os temas que encerram o disco, são os que melhor cruzam o peso devastador do riff com texturas psicadélicas vindas do habitual arsenal de sintetizadores, que quase fazem esquecer a deambulação meio inconsequente que lhes antecedeu. Quase. [6]