Caso não tenhas estado no festival ou tenhas perdido a transmissão, podes ver agora. Se lá estiveste… Bem, podes sempre rever, porque os TURNSTILE demoliram e vale bem a pena.
Sob o céu cinzento do Porto, os TURNSTILE voltaram a provar por que razão são, hoje, uma das bandas mais estimulantes e imprevisíveis da cena alternativa mundial. A actuação, ocorrida no passado Sábado, dia 14 de Junho, no palco principal do Primavera Sound Porto, onde os DEFTONES tinham actuado na noite anterior, foi um verdadeiro manifesto emocional de liberdade e comunhão sonora.
Agora, para alegria dos fãs e curiosos, o espectáculo completo dos TURNSTILE está disponível na íntegra no YouTube, numa captação bootleg da transmissão televisiva, captada em alta qualidade e de uma forma profissional, que eterniza um dos momentos altos da edição deste ano do festival portuense.
Com uma multidão rendida à energia contagiante do colectivo oriundo de Baltimore, o grupo liderado por Brendan Yates arrancou com o novo tema «NEVER ENOUGH», que dá título ao seu mais recente LP. Uma escolha simbólica que serviu para colocar o pé no acelerador logo desde o primeiro segundo — não como aviso, mas como um convite para a festa. O som estava nítido, poderoso, envolvente. E o público respondeu de imediato, num frenesim colectivo que contrastou com a serenidade típica de um fim de tarde no Parque da Cidade.
«T.L.C. (TURNSTILE LOVE CONNECTION)», verdadeiro hino da discografia dos TURNSTILE, surgiu logo a seguir, confirmando que a ligação emocional entre banda e plateia permanecia intacta. “Eu quero tocar uma canção que te faça sentir”, canta Yates, e no Porto, isso tornou-se quase palpável. Cada refrão, cada batida, cada movimento no palco parecia parte de uma coreografia invisível entre artista e audiência.
Em «ENDLESS», os ritmos quebrados e os riffs sincopados ecoaram no recinto, numa espécie de colisão entre o espírito punk e a sensibilidade pop que marca o ADN dos TURNSTILE. Já em «Come Back for More» / «Fazed Out», o grupo navegou entre intensidade e contemplação, sem nunca perder o pulso rítmico que faz da sua música uma experiência física. A meio do alinhamento, houve espaço para a urgência quase ritualística de «7», a vulnerabilidade latente de «I CARE» e a desconcertante suavidade de «DULL», num trio de canções que provou que os TURNSTILE não se contentam com um só registo.
A seguir, «DON’T PLAY» e «Real Thing» voltaram a acelerar os corações, com Daniel Fang na bateria a ditar o ritmo como se o mundo dependesse disso. Com «Drop» e «UNDERWATER BOI», os contrastes foram levados ao extremo — da ferocidade dos riffs à dreamscape lo-fi que tornou o Porto quase numa cidade submersa. A sequência prosseguiu com «HOLIDAY», explosão de cor e groove que pôs todo o recinto a saltar, e «ALIEN LOVE CALL», que trouxe Franz Lyons ao centro da acção, num momento quase etéreo de soul pós-hardcore.
Entrando na recta final, os TURNSTILE ainda desferiram três dos seus maiores trunfos: «LOOK OUT FOR ME», «MYSTERY» e «BLACKOUT» formaram um bloco de pura intensidade que varreu qualquer hipótese de desatenção ou cansaço. O Porto rendeu-se por completo, em dança, gritos e aplausos — e os sorrisos de Pat McCrory e companhia deixaram claro que o sentimento era recíproco. O fecho, reservado para «SEEIN’ STARS» e «BIRDS», foi suave e comovente. Em vez de uma explosão final, os TURNSTILE optaram por um pouso suave, como quem regressa à terra depois de um voo astral.
Foi um adeus sem ser despedida, uma espécie de promessa não dita: de que esta relação, entre a banda e os seus ouvintes, está longe de terminar. Agora eternizado em vídeo, o concerto no Primavera Sound Porto confirma aquilo que muitos já sabiam: os TURNSTILE não são apenas uma banda em ascensão. São um fenómeno em expansão contínua, cuja linguagem ultrapassa géneros e fronteiras. O palco foi deles — e, por 70 minutos, o mundo também.