Duas décadas depois, o «Ascendancy», que foi originalmente editado no dia 15 de Março de 2005, permanece um marco intemporal no panteão do metal moderno, um testemunho da força criativa dos TRIVIUM e da ligação emocional que a banda construiu com os seus fãs.
O ano de 2005 ficou marcado pelo lançamento de um dos álbuns mais influentes do metal moderno. O «Ascendancy», segundo longa-duração dos TRIVIUM, foi editado a 15 de Março desse ano e tornou-se rapidamente o primeiro disco clássico da carreira da banda da Florida. Proclamado “Álbum do Ano” pela revista Kerrang!, atingiu o estatuto de ouro no Reino Unido e, desde então, ultrapassou a impressionante marca de 500.000 cópias vendidas em todo o mundo.
No entanto, o impacto de «Ascendancy» não ficou apenas nos números, o disco abriu portas para uma nova geração de bandas de metal, consolidando o nome dos TRIVIUM como uma força a ter em conta. Pouco depois do lançamento, Matt Heafy e companhia subiram ao palco principal do festival Download, perante uma audiência impressionada com a técnica e a energia da banda — um concerto que viria a ser votado pelos leitores da Kerrang! como o décimo melhor espectáculo de todos os tempos.
Na altura, os quatro membros da banda mal tinham saído da adolescência, mas o impacto do álbum foi imediato e profundo, garantindo-lhes um lugar de destaque entre os nomes mais promissores da cena metal. Duas décadas depois, os TRIVIUM estão a celebrar o 20.º aniversário de «Ascendancy» com uma digressão especial que os trouxe de volta a Lisboa, para um apoteótico concerto no Campo Pequeno. A ocasião não foi apenas uma celebração para os fãs — revelou-se também uma boa oportunidade para o vocalista e guitarrista Matt Heafy revisitar o seu passado e confrontar-se com as emoções que deram forma ao disco.
Em conversa sobre o impacto de «Ascendancy» na carreira dos TRIVIUM e na cena metal em geral, Matt Heafy refletiu sobre como o álbum e o seu lançamento ajudaram a moldar o cenário musical da época. “Diria definitivamente que, há vinte anos, os Trivium ajudaram a abrir as portas para muitas outras bandas modernas”, começou por dizer-nos o músico. “Sinto que criámos definitivamente esse caminho para outros grupos fazerem algo semelhante, porque, naquela época, estávamos no fim da moda do nu metal. A New Wave Of American Metal já tinha surgido, mas nós não fazíamos parte porque chegámos tarde ao jogo.”
Enquanto o nu metal perdia força e a New Wave Of American Metal já se afirmava, os TRIVIUM seguiram um caminho próprio, misturando diferentes estilos de metal para criar um som único. Matt explica: “Nós começámos a fazer as coisas de forma diferente. Foi uma questão de misturar os nossos estilos favoritos de metal; o thrash, mas também o death metal melódico da Escandinávia, também um pouco do metalcore alemão… Misturámos tudo isso num som só nosso.”
O resultado foi um álbum que antecipou tendências e influenciou uma geração de músicos. Matt acredita que «Ascendancy» estava, inclusivamente, à frente do seu tempo. “Agora, quando olho para trás, sinto que o «Ascendancy» estava muito, muito à frente do tempo naquela altura. Diabos, sinto que o «Ember To Inferno» estava provavelmente quinze, vinte anos à frente do tempo. Ouço frequentemente bandas a fazer esse tipo de som agora.”
Apesar de terem tocado muitas das músicas de «Ascendancy» regularmente ao longo das últimas duas décadas, os TRIVIUM dedicaram quase um ano à preparação desta digressão especial. Matt Heafy revela o esforço que a banda colocou na preparação para garantir um espetáculo à altura das expectativas. “Na verdade, começámos a ensaiar como banda em Abril do ano passado, estivemos a ensaiar quase um ano para esta digressão”, revelou o músico. “Desde que nos juntámos, ensaiámos todos os dias até ao início da tour. Provavelmente nem seria necessário, mas gostamos de ter memória muscular suficiente para podermos desfrutar do espectáculo e deixar a música falar por si.”
A dedicação compensou. Os concertos têm sido intensos e emocionalmente carregados, com a banda a mostrar uma precisão técnica impressionante e uma entrega emocional rara. No entanto, para o líder dos TRIVIUM, algumas das canções ainda apresentam desafios particulares, tanto em termos técnicos como emocionais: “Liricamente, a «Departure» é muito intensa. Escrevi-a sobre pensamentos que tinha sobre o fim da vida. Por outro lado, a «Declaration» é, provavelmente, uma das músicas mais técnicas do álbum… No entanto, como estamos tão ensaiados, tem sido muito divertido. A «Declaration» causa sempre um impacto enorme porque, nos versos, é quase um tema de death metal — é como se os Slayer tocassem death metal.”
Por tudo isso, revisitar o «Ascendancy» não foi apenas uma experiência musical para Matt Heafy — foi também um processo de autodescoberta. As letras que escreveu há duas décadas, repletas de angústia e ansiedade, continuam a ressoar na sua vida. O vocalista explicou-nos como o regresso a este material o levou a enfrentar questões pessoais profundas: “Comecei a olhar para as letras com atenção no início do ano passado e dei por mim a pensar que ainda sentia muitas destas coisas que sentia há vinte anos. Canções como a «Rain» ou a «Suffocating Sight» são sobre ansiedade e sobre aquilo de que não gostava em mim. E sim, é óbvio que mudei nestas duas décadas, mas só até certo ponto.”
Para enfrentar esses sentimentos, Matt procurou ajuda profissional. “Passei muito tempo a fazer terapia extensiva e terapia cognitivo-comportamental, a trabalhar em mim mesmo para poder ultrapassar de vez estes sentimentos. E devo dizer que estou a gostar muito mais da vida do que alguma vez gostei”, revelou ele. Curiosamente, esse trabalho interior teve também um impacto positivo na sua performance vocal:
“Graças à terapia que fiz nos últimos tempos, consegui recuperar a forma como gritava e cantava. Encontrei uma forma de fazer as coisas funcionarem a meu favor. É exactamente a mesma técnica, mas estou muito mais confiante e confortável. Esse foi um dos bónus que a revisitação do «Ascendancy» me trouxe, porque funcionou como um lembrete de que ainda estava a passar por muitas dessas coisas e precisava de trabalhar nelas.”
Duas décadas depois, a verdade é que o «Ascendancy» permanece um marco intemporal no panteão do metal, um testemunho da força criativa dos TRIVIUM e da ligação emocional que a banda construiu com os seus fãs. E, ao que tudo indica, a história está longe de terminar por aqui.
