Tal como identificámos como tendência na nossa lista internacional, também a nível nacional 2022 foi uma explosão criativa de géneros distintos, um ecletismo raro que também nos levou a não ordenar especificamente a lista para este capítulo de álbuns portugueses. O melhor elogio que se pode fazer é que a votação foi altamente espalhada pelo vasto espectro de lançamentos — sem exagero, esta selecção de quinze podia ter sido uma lista de 30 ou 40. De realçar ainda também a saudável convivência entre nomes estabelecidos e celebrados, alguns veteranos, com novos projectos e entidades altamente emergentes, tanto “cá dentro” como também “lá fora”. Assim sendo, mais uma vez por estrita ordem alfabética de nome de banda, fiquem com aqueles títulos que a redacção da LOUD! considerou os quinze álbuns mais essenciais da música pesada nacional de 2022. Mais uma vez também, não se esqueçam de esmiuçar, discutir e estraçalhar a nossa lista à vontade nos comentários — e mostrem-nos a vossa!
ANALEPSY
«Quiescence»
[Miasma]
Depois de alguns anos de reconstrução da formação, os Analepsy regressam com um devastador álbum de valor técnico alucinante, que voltou a impressionar fortemente a cena do slam/brutal death internacional. “Um sério candidato a disco do ano,” considerou o Emanuel Ferreira na altura. Não ordenámos a lista assim desta vez, mas caso o tivessemos feito, estaria de facto na luta.
ANZV
«Gallas»
[Exorcize Music]
E assim de repente, temos mais um valor seguro que poderá vir a atingir patamares muito altos. Os ANZV apareceram já todos crescidos com «Gallas», um petardo de black/death que muitas bandas não conseguiriam atingir com dois ou três álbuns já “no bucho”. É certo que há aqui gente já com algum traquejo de underground nacional, mas os ANZV têm aquele toque especial difícil de definir. Watch this space!
BLACK CILICE
«Esoteric Atavism»
[Iron Bonehead]
O sexto álbum dos misteriosos Black Cilice volta a confirmá-los como sendo uma trave mestra da actual onda de black metal nacional que tanto furor tem feito pelo underground mundial afora. Se é que isso é possível de imaginar, «Esoteric Atavism» ainda é mais cru e primitivo que os seus antecessores.
BLEEDING DISPLAY
«Dawn Of A Killer»
[Miasma]
Num ano de regressos de luxo para o death metal nacional, também os Bleeding Display voltaram finalmente às edições com o seu primeiro álbum em oito anos, um pedaço de selvajaria que fez a espera valer a pena. Disse-nos o vocalista Sérgio Afonso que a banda queria “uma evolução do disco anterior, mais intenso, dinâmico, técnico e pesado,” e assim sendo, o sucesso foi total.
CANDELABRUM
«Nocturnal Trance»
[Hells Headbangers]
O raw black metal nacional continua a dar cartas pelo mundo fora, e às vezes até é difícil elogiar os responsáveis por esta onda de sucesso porque pura e simplesmente eles não se dão a conhecer. Os Candelabrum são mais um desses brilhantes projectos anónimos, e a cada lançamento parece que a obscuridade tenebrosa só cresce, como um espesso nevoeiro a levantar-se.
CAVERNÂNCIA
«no chão»
[Regulator]
Senhor de muitas actividades, tendo sido vocalista de várias bandas e mantendo as suas actividades de DJ e fotógrafo, o Pedro Roque parece ter encontrado agora uma nova voz que promete muito para o futuro – «no chão» é já o terceiro trabalho do seu projecto de noise/drone ambiental a solo, e a riqueza sonora continua a aumentar a cada passo.
CONSUMMATIO
«Desaevio»
[Death Prayer]
Parece que alguém envenenou o nosso solo, e todos os dias brota de lá mais um projecto anónimo de raw black metal de qualidade superlativa. Este ano foram os Consummatio a darem a (des)conhecer-se com «Desaevio», uma tempestade brutal que deixa água (estagnada) na boca para o futuro.
CORPUS CHRISTII
«The Bitter End Of Old»
[Immortal Frost]
Este não é anónimo! N.H. já se pode considerar um veterano da nossa cena, sem qualquer desprimor na adjectivação, e os seus Corpus Christii continuam, ao fim de quase um quarto de século, em plena progressão e desenvolvimento, com «The Bitter End Of Old» a afirmar-se fortemente como uma amálgama de tudo o que de bom já fizeram antes. “Alheados de modas, mas não insensíveis à evolução musical,” foi como o Emanuel Ferreira elegantemente descreveu o equilíbrio que os Corpus Christii atingem, e este álbum é um culminar perfeito desse equilíbrio.
DEVIL IN ME
«On The Grind»
[Dead Serious Recordings]
“Um dos melhores discos ‘tugas’ de 2022,” disse o nosso David Rosado na sua review, uma afirmação que poderia ser considerada ousada passados apenas 22 dias desse respectivo ano como estavam, mas não quando estamos perante os Devil In Me. Nesse caso, foi só uma constatação óbvia do valor inegável do hardcore orelhudo deste regresso após seis anos sem álbuns.
GAEREA
«Mirage»
[Season Of Mist]
Um caso sério de popularidade internacional nos últimos anos, os mascarados Gaerea rapidamente se tornaram grandes demais para “apenas” consumo interno, e com «Mirage», justificam perfeitamente essa dimensão adquirida. “O colectivo atingiu, com «Limbo», o estatuto de referência, a ‘nova esperança’. Este é, por isso, o disco que vai concretizar o estatuto,” disse o Emanuel Ferreira há uns meses. Responsabilidade pesada, mas os Gaerea parecem ter arcaboiço para a aguentar.
HOLOCAUSTO CANIBAL
«Crueza Ferina»
[Larvae/Selfmadegod]
Tal como com o black metal, também o death/grind brutal nacional tem um dos seus sábios mentores de longevidade assinalável a tomar conta do resto da miudagem nesta lista. Se é preciso explicar porque é que um disco dos Holocausto Canibal aparece numa votação dos melhores do ano, estão provavelmente a ler a publicação errada. “Está lá tudo, nos sítios certos,” considerou o Emanuel Ferreira. E está mesmo.
HOOFMARK
«Blood Red Lullabies»
[Ragingplanet]
Confirmando plenamente o valor mostrado na revelação que foi o «Evil Blues» de estreia em 2021, o projecto Hoofmark continua a misturar música extrema com o folclore das nossas raízes geográficas, chegando a um som que se vai tornando cada vez mais único, desta vez cheio de “vermelho sangue, o vermelho da raiva e o do desejo,” como o seu criador nos explicou há umas semanas.
INDIGNU
«Adeus»
[Dunk!]
Os Indignu já andam nisto há uns tempos, mas 2022 foi definitivamente o ano da sua explosão. Não só este «Adeus» se revelou de uma beleza e classe ímpares, mas o “post-fado”, como é coloridamente descrito às vezes, da banda de Barcelos também ressoou de forma decisiva com o público. “Este primeiro impacto dos novos temas em palco, ainda por cima no Amplifest, foi muito intenso. Tão cedo não o esqueceremos e aguçou-nos a sede de levar o disco a todas as paragens possíveis,” disseram-nos em Novembro, portanto esta explosão vai provavelmente continuar bem por 2023 adentro.
PROCESS OF GUILT
«Slaves Beneath The Sun»
[Alma Mater]
A pandemia prolongou o período de espera pelo novo álbum dos Process Of Guilt para cinco anos, coisa que não se faz a ninguém. Felizmente, como já é expectável nesta altura da carreira de uma das bandas portuguesas mais celebradas nacional e internacionalmente deste século, o peso abrutalhado dos riffs e o negrume espesso dos temas de «Slaves Beneath The Sun» atirou essas considerações todas para segundo plano no segundo em que os ouvimos pela primeira vez. Colossal. Ou como o José Carlos Santos lhe chamou, “um álbum de refinamento, de evolução controlada, de repetição e conquista.“
SEVENTH STORM
«Maledictus»
[Atomic Fire]
A saída de Mike Gaspar dos Moonspell teve como consequência o nascimento de mais um nome forte para juntar à nossa cena. Seventh Storm foi o projecto erguido pelo baterista, e «Maledictus» marcou sem dúvida o panorama nacional de 2022, irrompendo pelo nosso underground (e não só) qual caravela a desafiar o oceano agreste, uma comparação natural, dada a temática do disco, à qual o Emanuel Ferreira também não resistiu na sua review.