Noite de verdadeiro heavy metal no RCA Club. Poderá ser presunçosa esta conversa do “verdadeiro”, mas não deixa de ser adequada ao facto de serem raras as ocasiões em que os apreciadores de sonoridades mais tradicionais e clássicas da música pesada se possam reunir, excluindo, claro, as visitas da donzela de ferro ao nosso país. Quem nos visitou agora não se poderá comprar em termos de longevidade e alcance, mas é sem dúvida um talento e voz que merece o estatuto que ocupa. Falamos obviamente de TIM “RIPPER” OWENS que não só viveu um conto de fadas ao tocar numa banda de covers de Judas Priest para depois ser escolhido para suceder a Rob Halford como frontman (bonito conto triturado por Hollywood no triste «Rockstar»), como depois foi acumulando um sem número de participações, onde se inclui obviamente a passagem pelos Iced Earth e a mais recente participação nos KK’s Priest. Para fazer o devido acontecimento, tivemos duas bandas portuguesas que são óptimas representações da ascensão do novo sangue do metal tradicional nacional – TOXIKULL e SPEEDEMON.
Os primeiros a tocar foram os ribatejanos SPEEDEMON que regressaram ao palco do RCA Club, pouco mais de uma semana de terem aberto para os Sacred Sin e Bleeding Display. Uma semana depois e mais ou menos com o mesmo espaço temporal disponível, não seria expectável que o alinhamento fosse muito diferente. E não foi, mas ainda assim conseguimos mais uma vez comprovar de que a banda está cada vez mais sólida ao vivo e que temas como «Atrocity Divine» e «Legion Of Fools» são capazes de suportar o teste do tempo e soar sempre bem. Um diamante em formação. Por falar em diamante, o que dizer dos TOXIKULL, que têm tido um percurso único no underground nacional e uma mentalidade que não se limita às fronteiras do nosso país. Esta foi a primeira data da banda portuguesa e a única em solo nacional antes de arrancarem para uma digressão europeia, a mais ambiciosa até ao momento. Já com um repertório de clássicos à sua disposição. a banda agarrou o público desde o primeiro momento, numa sala já muito bem composta e com um alinhamento que passou por diversos pontos da sua carreira, com destaque para os singles, onde está impossível não destacar os hinos «Metal Defender» e «Darkness». Houve ainda espaço para uma inspirada cover dos Motörhead, «Killed By Death», que foi celebrada por todo o RCA Club.
Antes que se desse conta, já estava tudo pronto para receber TIM “RIPPER” OWENS, que se apresentou em palco com uma banda reunida especificamente para esta digressão ibérica, composta por músicos experientes do heavy metal espanhol, uma banda que impressionou pela forma como estava entrosada entre si. Facilitava também estarem a interpretar clássicos, e foram muitos, ainda que tenham passado por alguns temas que não são dos mais marcantes da passagem de OWENS pelos Judas Priest (como «One On One» ou «Hell Is Home»). Não deixou de ser refrescante ouvir uma poderosa «Burn In Hell» que nos fez recuar até 1997/98 (anos em que o potente «Jugulator» foi lançado e em que se deu a primeira visita do vocalista ao nosso país, respectivamente) e para quem queria clássicos, também seria previsível ouvirmos «The Ripper», «Metal Gods», «Grinder», «Breaking The Law», «Hell Bent For Leather» e «Electric Eye». As surpresas no alinhamento também foram bem encaixadas, sendo que foi muito recebida a emocional «When The Eagle Cries» dos Iced Earth, assim como as homenagens a Dio com «Last In Line» e «Heaven And Hell». Talvez a surpresa maior tenha sido ouvir a «Hellfire Thunderbolt» dos KK’s Priest, uma estreia em solo português. O público estava ávido numa sala cheia de entusiasmo e o vocalista norte-americano alimentava ainda mais esse entusiasmo com a sua simpatia e voz que nunca falhou, nem ao replicar as prestações de verdadeiros imortais como Rob Halford e Ronnie James Dio. Uma noite memorável para todos os presentes. E ainda dizem que a magia do heavy metal está morta…