Ingleses de 77 com pronúncia espanhola em 2022? Foi o que os The Wasps nos trouxeram em três datas na tuga, em plena onda de calor. Coimbra fechou a pequena tour, num concerto que começou a meio da tarde com o spoken word de Paulo Eno, mas infelizmente a noite/ madrugada/ manhã de miséria no Porto, que acolheu o concerto da véspera, impossibilitou-nos de assistir a tal performance. Já com o milagroso Ben-u-ron no bucho e umas colas com gelo e limão para acalmar a ressaca, chegámos a meio da actuação dos Sobral Cid, qual circo montado com palhaços de instrumento em punho a tocar um folk avacalhado num vibe de música dos Balcãs. Por momentos parecia que estávamos no filme «Gato Preto, Gato Branco» mas em vez de ciganos tínhamos palhaços. O calor apertava, e para fechar a parte da tarde vieram os Drastiks, banda de punk rock a jogar em casa, que deu um concerto muito competente e entusiasmante. Com membros de Blind Alley Dogs, Zündapp Speedkings e Acesso de Raiva, os Drastiks descarregaram riffs como quem malha cerveja em dias de calor infernal – algo que também fazem muito bem – e revelaram-se muito melhores ao vivo que em estúdio (pelo menos por agora). São uma espécie de Clockwork Boys do centro, com uma guitarra a viajar entre o streetpunk e o rock’n’roll e um baterista em alta rotação que lembra o Animal dos Marretas, mas com mais cabelo. Assim terminou a primeira parte do dia, dado que foi estipulado um intervalo para jantar. Houvesse umas barraquinhas e parecia uma cena à Festa do Avante.
O Atelier A Fábrica é uma sala muito bonita e agradável, espaçosa e funcional. Além do mais é um local renovado e com boa acústica, onde para além de concertos se fazem outras actividades como exposições ou peças de teatro. O problema é que é extremamente quente, e sendo um último andar com contacto directo com o telhado e todo ele em madeira, parece um autêntico inferno, pois não tem qualquer tipo de ventilação ou extracção. Chegada a noite a situação piora, pois se de tarde todas as janelas estavam abertas, à noite as mesmas foram todas fechadas devido ao problema do barulho para o exterior. E foi neste cenário de calor extremo que os Mata-Ratos subiram ao palco, para uma sessão de streetpunk repleta de clássicos como «És Um Homem Ou És Um Rato», «Menina da Rua», «Leis de Merda» ou «Xu-Pá-Ki». Braços no ar, cerveja por todo o lado e o caos instalado. A temperatura subia e já se viam pessoas só de boxers para tentar tornear o bafo! Uma menção para o regresso de Tiago “Arlock” Dias à guitarra, ficando assim os Mata-Ratos com duas guitarras e proporcionando um maior peso ao som do colectivo infame.
Para fechar com a chave de ouro chegou então a vez dos The Wasps, banda que foi formada em 1976, e até terminarem em 1979, tiveram o seu espaço na cena punk Londrina, lançando três singles e tocando bastante ao vivo principalmente no período de 76 e 77. Jesse Lynn-Dean, o vocalista e fundador da banda, decidiu ir gozar a sua reforma para o solarengo sul de Espanha (chama-lhe parvo…) e como devia estar farto de tapas e protector solar, reformou com alguns locals os The Wasps. É neste contexto e com um disco novo que a banda nos chega em 2022. E se tinha tudo para correr mal, pasme-se, a banda surpreende muito ao vivo! Vitalidade e grande frescura, soando muito actual mas sem perder um pingo da irreverência de 77. Óptimos temas numa linha de Buzzcocks e The Undertones, por vezes a roçar o power pop. Tocaram sempre em alta rotação um alinhamento de vinte músicas, onde misturaram os clássicos antigos como «Teenage Treats», «She Made Magic» ou «Can’t Wait ‘Til 78» com temas novos como «Punk Prayer», «Love In 2 Chords» ou «Ohh Baby». Sim, foi bom e os velhos surpreenderam. Parabéns à Syndicat Sect pela perseverança, e venham os próximos, de preferência num sítio mais fresco!
FOTOS: Nuno Ávila