Com o sucesso de «Firestarter», o mais popular single dos THE PRODIGY, as barreiras caíam e, de repente, já era cool gostar de electrónica.
Os anos 90. As histórias lendárias de raves em cidades distantes como Londres ou Nova Iorque. Num ápice, o descobrir de todos os BPMs possíveis de inserir num registo e reproduzir ao vivo. Um namoro violento entre rock e electrónica, que nem sempre resultava bem, mas que aqui e ali despontava. Eram os NINE INCH NAILS ou os MINISTRY do lado de lá do Atlântico, eram os KMFDM ou os ATARI TEENAGE RIOT deste lado. RAMMSTEIN e MARILYN MANSON eram o outro lado mais comercial, mas no metal muitos se deixavam seduzir pelo movimento gabber holandês.
Nomes como METALLICA ou PANTERA editavam singles em que experimentavam as chamadas industrial mixes e, um pouco por todo o lado, o rock experimentava com a electrónica, sem sair do armário. De um momento para o outro, o Verão de 1996 via surgir um vídeo-clip através da MTV, «Firestarter», uma explosão sonora num túnel cinzento; no meio, um misto de Joker com John Lydon numa trip de LSD. O seu nome: KEITH FLINT. A malha agarrou tudo e todos e rapidamente explodiu nos palcos dos festivais europeus.
O vídeo disponível em cima, captado numa das primeiras actuações dos THE PRODIGY num evento de grandes dimensões, é o retracto perfeito da descarga de som, luz e movimento que sempre caracterizou as actuações do grupo britânico. Em palco, a banda sempre foi mais punk rock que electrónica, às vezes cruzando o d-beat de uns Discharge ou GBH, com um ritmo endiabrado, sem abdicar da anarquia. Para fãs de metal, encontrava-se mais energia nas malhas dos THE PRODIGY que em muitos nomes do death metal da época. Com o sucesso de «Firestarter», as barreiras caíam e, de repente, já era cool gostar de electrónica.
Ao sucesso desse primeiro single de «The Fat Of The Land», seguiu-se «Smack My Bitch Up», com o vídeo polémico à época, mas mais censurado hoje que na altura. O sueco Jonas Åkerlund, realizador que tinha começado, anos antes, por dirigir «Bewitched» dos CANDLEMASS, viria mais tarde a realizar vídeo-clips dos METALLICA, entre outros nomes, e o filme “Lords Of Chaos” (sim, esse mesmo!).
Entretanto o álbum «Fat Of The Land» demorava a sair, seria o disco do ano em 1997 e Portugal teve a oportunidade de o ouvir ao vivo, no Porto, antes ainda da edição física. Num cartaz em que o primeiro dia teve CRADLE OF FILTH, MEGADETH e SCORPIONS, foi curioso cruzar a plateia do dia seguinte e ver muitos headbangers que tinham ficado para ver e ouvir os THE PRODIGY, sendo que esse foi talvez uma das primeiras vezes em que se observou a comunidade do metal a cruzar barreiras.
Hoje, já sem o inconfundível KEITH FLINT, os THE PRODIGY regressam a Portugal para uma muitíssimo aguardada actuação no festival CA Vilar de Mouros, que decorre num total de quatro dias, de 23 a 26 de Agosto.