Finalmente recebemos regresso dos THE OCEAN ao nosso país. Como relatámos recentemente (ler aqui), não foi fácil concretizar esta visita, mas — apesar de ter acontecido numa sala mais pequena do que o inicialmente previsto, e de ter passado de duas datas para uma (a passagem pelo Porto acabou por não acontecer) — pode considerar-se que foi uma vitória. E todos cantaram vitória, de facto; tanto as bandas presentes (a que acresceram ainda os PG.LOST e os PSYCHONAUT aos senhores da noite) como o próprio RCA Club, praticamente cheio (com muitos turistas também) e um ambiente de festa que se sentia no ar. Foi com os PSYCHONAUT que a noite começou, frente a uma sala já muito bem composta para fazer uma boa recepção à banda que se estreava no nosso país. Com apenas um álbum lançado — «Unfold The God Man» de 2018 –, a sua actuação centrou-se totalmente neste trabalho, e deu para ver que estavam presentes muitos fãs. Seguros e sólidos num palco reduzido (a bateria dos THE OCEAN já estava montada ao canto direito ao contrário da posição central habitual), encantaram os presentes durante pouco mais de meia hora com «The Fall Of Consciousness» a trazer um apoteótico final.
Os PG.LOST, por seu lado, não se estreavam em Portugal, mas quebravam um longo jejum de aproximadamente uma década — e, tanto a banda como os fãs, não conseguiram conter a alegria pelo reencontro. Com um álbum lançado em 2020 — «Oscillate», que não chegou a ser promovido ao vivo –, tivemos oportunidade de ouvir e sentir temas como «Shelter» e de perceber como os mesmos conseguem encontrar uma vida bem mais pujante para lá do estúdio. Feitas as contas, foram electrizantes, e nem mesmo a lesão do baterista Martin Hjertstedt impediu que assinassem uma actuação memorável, onde até um dos guitarristas saltou para o público para tocar. Com um aquecimento ao mais alto nível, estava tudo pronto para receber um oceano de emoções musicais que começou com escuridão. E com a escuridão veio a excitação e os aplausos conforme os músicos iam entrando em palco.
Tal como indicado anteriormente, a disposição do palco era bastante diferente daquilo que estamos habituados a ver no RCA Club. A bateria ficou encostada à direita e, numa posição central, estava Loïc Rossetti, numa cadeira (ele que ainda anda agarrado às muletas), enquanto ao seu lado havia espaço para as teclas. A linha da frente, composta pelo trio das cordas onde se inclui obviamente o líder Robin Stapps, que assim que teve a primeira oportunidade fez questão de agradecer pela presença de todos e sobretudo pela paciência pelas “85 remarcações” deste concerto. O que se seguiu foi uma actuação onde a componente estética e de iluminação se conjugou na perfeição com a música visceralmente emocional debitada — ainda que tenha provocado dores de cabeça a todos os fotógrafos presentes. Um espectáculo que, tal como os seus discos, deve ser apreciado como um todo, embora tenha havido momentos que se destacaram, como quando Rossetti se levantava para ir até à beira do palco (algo que aconteceu duas vezes) ou quando a troca de posições levou a que o baterista passasse para a voz, o vocalista para as teclas e o teclista para a bateria. Ou ainda quando Stapps se mandou de costas para o público num pequeno crowdsurfing durante o qual não parou de tocar. Intimista e desvastador, um concerto aguardado por muito tempo e que ainda assim conseguiu superar as expectativas. Valeu a pena a espera.
Fotos: Sónia Ferreira