Esta foi a segunda parte de um momento histórico. Depois dos THE OBSESSED terem tocado pela primeira vez no Porto, no Hard Club, na noite anterior, chegou a vez de Lisboa, com o RCA Club a receber esta que foi a primeira visita ao nosso país da mítica banda norte-americana. Uma oportunidade que não podia ser desperdiçada, como pudemos verificar numa noite bastante especial. Para dar-lhe um gostinho português, tivemos os DESERT’SMOKE a inaugurar o palco com o seu stoner psicadélico, sempre altamente inspirado, não sendo excepção esta sua actuação na sala de Alvalade. O facto de fazerem música instrumental revelou-se a forma perfeita para criarem um ambiente muito propício à hipnose colectiva, efeito que se foi espalhando perante as pessoas que iam chegando (e continuaram a chegar) durante a sua actuação. Em noite de aniversário do baixista João Nogueira ainda houve oportunidade de ouvir uma música nova e os músicos passaram também por momentos incontornáveis, como foi o caso de «The Gate Of Karakum». O manto hipnótico da banda portuguesa revelou-se a melhor forma para introduzir uma banda tão lendária como aquela que tocaria de seguida.
Quanto temos um nome histórico como os THE OBSESSED perante nós pela primeira vez é impossível não se ficar deslumbrado. Não reparar em todos os pormenores, mesmo que esses pormenores apontem todos na direcção da simplicidade inerente ao som, à forma de estar e à própria filosofia da entidade em questão. Após desmontada a bateria dos DESERT’SMOKE — montada à frente do backline da banda norte-americana — e preparados os elementos que compunham um palco despido, ver Scott “Wino” Weinrich entrar em palco de forma tão descontraída, sem pompa nem circunstância, tão de acordo com a imagem que temos dele e até contrariando toda a teatralidade que um concerto de música pesada supostamente deve ter, foi fantástico. O músico começou logo por afirmar que era um prazer estar no nosso país lindo, e agradeceu ao público, aos DESERT’SMOKE e à organização antes de atacar numa pesada «Sodden Jackal», do ainda último álbum de originais «Sacred» de 2017, um dos pontos de passagem da sua discografia mais requisitados.
O público continuava a chegar e a converter-se logo ao todo poderoso Riff. Para qualquer fã de doom que se preze, não existem resistência a temas como «Blind Lightning» e «Streetside», do «The Church Within», a paragem mais requisitada do alinhamento. Aliás, por falar em igreja, há até uma certa poesia na forma como as paredes da igreja de Alvalade tremiam ao som dos riffs que eram debitados e como os acólitos presentes faziam headbanging. Mas nem só de abanar de cabeça se compôs a noite. Houve também momentos de animação no pit, provocados por umas poderosas «Punk Crusher» ou «Be The Night», e ambém tivemos um cheirinho do futuro com «It’s Not Ok» e «Stoned Back To The Bomb Age», temas do próximo álbum, intitulado «Guilded Sorrow», que vai ser lançado, segundo Wino, no final do presente ano. O mítico frontman disse algures que ter adicionado um segundo guitarrista (Jason Taylor) foi a melhor coisa que poderia ter feito e teremos que concordar pela forma como o som da banda surge revitalizado, não só pelo peso de ter uma guitarra por trás nos solos como também nos duelos que tivermos oportunidade de presenciar entre os dois. Após uma breve saída de palco (que nem deve ter chegado a dois minutos), tocaram «Tombstone Highway» e fizeram um brinde na forma de «Freedom», mais um dos momentos altos da noite de uma primeira visita que esperemos que não seja a última e que fez com que muitos dos presentes pudessem riscar da sua pequena lista de bandas essenciais.
Fotos: Pedro Roque