Para surpresa de, provavelmente, ninguém, os (the) MELVINS assinam uma falsa viagem ao passado com os olhos postos no delírio do presente.
Fazer previsões relativamente aos (the) MELVINS é como tentar apanhar fumo com as mãos: quando achamos que os compreendemos, mudam de forma. Com uma carreira a roçar já as quatro décadas e uma lista interminável de formações, colaborações e reencarnações sónicas, a banda de Buzz Osborne nunca ofereceu conforto à previsibilidade. «Thunderball», o novo álbum, surgiu anunciado como um regresso à formação original de 1983. Mas, claro, sendo que estamos a falar dos (the) MELVINS, até essa premissa é, no mínimo, discutível.
É verdade que o disco junta Buzz a Mike Dillard, o baterista original, reavivando a centelha primitiva que deu origem ao culto. No entanto, entram também em cena os experimentadores Ni Maîtres (de Bristol) e Void Manes (de Atlanta), dois músicos que operam nos terrenos mais instáveis da electrónica e do noise. Esta combinação faz com que «Thunderball» se afaste significativamente do espírito cru de «Working With God», de 2021, o último disco da encarnação (the ) MELVINS 1983, onde o humor escatológico se manifestou em aberrações como «I Fuck Around» — reinterpretação dos Beach Boys que funcionava como manifesto de nonsense.
Há aqui uma curiosa ironia, no entanto: apesar da presença de elementos sonoros aparentemente menos ligados ao ADN clássico dos (the) MELVINS, «Thunderball» é, em muitos momentos, bastante acessível — pelo menos dentro da lógica distorcida da banda. Se «King Of Rome» abre o LP com uma estrutura de três minutos quase radiofónica (e por isso, atípica), somos rapidamente atirados para outras paisagens: a «Short Hair In A Wig», com os seus onze minutos, equilibra tensão sussurrada e explosões de riffs num ciclo hipnótico, enquanto «Victory Of The Pyramids» começa com uma descarga bombástica digna de um épico de prog rock, antes de derivar para territórios mais místicos e contemplativos.
A meio do caminho, «Vomit Of Clarity» insinua-se como uma pausa ominosa — um interlúdio que bebe do trabalho dos convidados experimentais e deixa no ar um desconforto que se cola à pele. Depois, uma «Venus Blood» puxa pelo lado mais reconhecível da banda: uma construção em tensão e libertação, onde Buzz deixa escorrer algumas das linhas de guitarra mais melódicas e sombrias do álbum. A densidade e o peso arrastado evocam o sludge psicadélico da era «Houdini», com uma elegância quase melancólica.
Talvez por tudo isso, é difícil, senão impossível, entender o «Thunderball» como um verdadeiro regresso às origens. Se há algo a que os (the) MELVINS sempre foram fiéis, é à sua própria iconoclastia. Este LP é tudo menos um ponto de chegada nostálgico e mais um desvio desconcertante dentro do labirinto que construíram. Ao mesmo tempo, oferece temas suficientemente estruturados e memoráveis para atrair novos ouvintes — desde que aceitem que o próximo disco poderá soar a algo completamente diferente.
O álbum inclui cinco faixas com um total de 34 minutos e estará disponível em vários formatos, incluindo três variantes de vinil, já disponíveis para pré-encomenda, com destaque para a edição exclusiva Smoke Is A Color e a edição especial Mustard Gas, disponível apenas na loja online da Ipecac Recordings.
