Que noite fantástica de rock! De tal forma que até nos leva a começar esta reportagem pelo fim. Para quem não esteve lá, parece fútil tentar explicar como a magia em cima do palco, movida a rock’n’roll, ainda acontece assim com tanta intensidade. E mais que acontecer, neste caso marcou todos os que tomaram contacto com ela. Ainda assim, o dever de reportar sobrepõe-se a tudo o resto, até porque é importante perpetuar a memória daquilo que foi um dos grandes concertos do ano em solo nacional. Falamos, claro, do regresso dos THE LAST INTERNATIONALE, a mais portuguesa das bandas norte-americanas, que começou a sua mais recente digressão europeia no nosso país com três datas (com concertos também no Porto e em Coimbra), que terminariam de forma apoteótica no LAV – Lisboa ao Vivo. Foi com a intro de «Os Vampiros», de Zeca Afonso, que uma sala bem composta se preparou para receber Delila Paz, Edgey Pires e o resto da banda, que entraram em palco com tudo, e uma explosiva «Killing Fields» em que não faltou uma interacção fantástica com o público que depressa cantou, bateu palmas e saltou perante uma fonte fr energia que nos parecia inesgotável.
Esse andamento manteve-se nos temas seguintes, «Life, Liberty And The Pursuit Of Indian Blood» e «Mind Ain’t Free», e tornou-se mais patente à medida que o esepctáculo ia avançado. Depois do público devidamente aquecido, foi a vez de apresentarem alguns temas do novo álbum: «Hero» foi o primeiro a ser escolhido, seguindo-se «1984» e «Hoka Hey» (com a «Fire» pelo meio), provando que esta é uma banda que não tem rival no que diz respeito a colocar palcos em chamas. Quando os temas novos são recebidos de forma tão efusiva, temos que atribuir o mérito não só à música em si, mas também à forma como é apresentada. Delila é, sem qualquer dúvida, impressionante na energia que consegue transmitir e na maneira como cria uma conexão com o público, mesmo através das coisas mais simples. A mudança de palco para «Soul On Fire», com os teclados chegados para a frente, provocou silêncio, com a vocalista norte-americana a elogiar o público, por este se aperceber que iria ser um momento mais calmo. Mais calmo, mas não menos intenso, dizemos nós. Apesar de alguns problemas da cantora com o seu auricular, que dizia estar com volume muito alto, não deixou de salientar aquilo que já sabíamos: isto é rock’n’roll, um género onde a perfeição também é a imperfeição, a visceralidade e a pureza do momento. Tudo o que esta banda quer mais do que ser perfeita, é ser real. Verdade seja dita, mais real que isto é impossível. Acabou por ser um dos temas mais inspirados da noite, com vários momentos a capella, público a acompanhar e um grande solo de guitarra.
Do novo álbum ainda se ouviria o tema-título, «Running For A Dream»; outro momento arrepiante que, na recta final, antecedeu uma verdadeira sucessão de clássicos. «Wanted Man», com Delila a acumular o baixo e a voz enquanto o baixista foi para os teclados, revelou-se mais um momento espantoso de comunhão, que acabou com o público a continuar a cantar muito depois da banda ter acabado e a vocalista a dizer em tom divertido que a música não tinha fim. «Hard Times» era outro tema que não podia faltar, com Delila a revelar que, quando cresceu no Bronx, era muito tímida, frisando mesmo que ainda o é actualmente. Depois de alguém do público contestar a afirmação, respondeu que em palco tudo é diferente, e que se sente mais à-vontade. Edgey Pires acrescentou que isso também acontece porque estava em casa e aquela era a sua família. Delila acabou a apresentação do tema dizendo que podemos mudar o que somos, podemos evoluir, mas temos de manter a nossa essência. Mensagem inspiradora que servu de mote a uma interpretação selvagem de um grande tema de rock’n’roll, durante o qual Edgey partiu as cordas da guitarra de forma selvagem. Teria sido o ponto mais alto, não fosse Delila ter ido para o meio do público em «1968», pedindo a todos para se baixarem, para logo saltarem efusivamente ao som das palavras “freedom right now“. Para o encore estava reservada a «Hit ‘Em With Your Blues», tema onde a vocalista pediu para o público subir para o palco. Algo que inicialmente até parecia ser feito de forma tímida, mas pouco tempo depois, já estava o estrado cheio de fãs aos saltos e nem sequer faltaram alguns duetos improvisados (e inspirados) com uma fã. Resultado, nesta ocasião os THE LAST INTERNATIONALE mostraram mais uma vez como o espírito do rock’n’roll é tão imortal quanto o espírito humano e como o desejo pela liberdade, justiça e igualdade continuam a ter uma força desmedida.
FOTOS: Sónia Ferreira