THE HIVES

THE HIVES + BRATAKUS @ Cineteatro Capitólio, Lisboa | 06.10.2023 [reportagem]

Naquela que foi a sua mais recente incursão por solo nacional, os roqueiros suecos THE HIVES assinaram uma noite de puro rock’n’roll carregado de boa disposição.

Mais de uma década depois, os THE HIVES editaram por fim um novo álbum. Não que isso necessário no caso da banda em questão, mas um novo álbum requer sempre nova digressão. «The Death Of Randy Fitzsimmons» é o sexto álbum do grupo e, segundo os próprios músicos, após a leitura de um obituário enigmático num jornal da sua cidade natal, acabaram por ser conduzidos à lápide de Fitzsimmons – o misterioso mentor e criativo da banda. Ao escavarem na remexida tumba encontraram não um corpo, mas fatos completos, uma maqueta com doze canções que se converteriam no álbum e um pedaço de papel com a frase The Death Of Randy Fitzsimmons… Nada como uma boa manobra de marketing, pois claro.

Após diversas passagens por festivais, os THE HIVES regressaram a Portugal para um muito aguardado espectáculo em nome próprio na última sexta-feira, dia 6 de Outubro. Na abertura da noite estiveram as BRATAKUS, duo de raparigas escocesas que, apenas com uma guitarra e baixo, construíram um muro sonoro apoiado por uma bateria programada. A actuação foi bem energética, destilando uma sonoridade a viajar entre as The Distillers e as Babes In Toyland, com muitas palavras de ordem e discursos entre os temas, numa atitude muito punk e muito do it yourself.

A noite estava, no entanto, guardada para os THE HIVES e o seu híbrido contagiante de punk e rock’n’roll apimentado com o mais sujo garage. Sim, estes são aqueles tipos de quem a Spin disse um dia serem a melhor banda ao vivo do planeta – e percebe-se rapidamente por quê. O palco escurece e os ninjas (sim, roadies vestidos de ninja) colocam-se estrategicamente nas laterais do palco. Soa a marcha fúnebre de Chopin enquanto os cinco músicos entram de forma triunfal em palco e, logo de seguida, arrancam com «Bogus Operandi», atacando os instrumentos com a garra a que nos habituaram e nos leva a questionar qual a bebida energética que os patrocina. Sem demoras, entregam-se a «Main Offender» e «Walk Idiot Walk», dois dos maiores clássicos da banda que deixam tudo em polvorosa.

«Rigor Mortis Radio» abrandou um pouco o andamento, sendo que voltam a meter o pé no acelerador com «Good Samaritan» onde fazem o famoso freeze, ficando a banda congelada durante um bom bocado, como se fosse feita de bonecos de cera. É caso para dizer que, se fossem portugueses, também poderiam estar a jogar ao “macaquinho do chinês”. A boa disposição prossegue com «Go Right Ahead» e «Stick Up» antes do talvez maior hit da banda: «Hate To Say I Told You So». A interação com o público cresce a cada tema que passa e o vocalista Pelle Almqvist, aproveitando o calor abrasador que se sentia dentro do Capitólio, explica que o fenómeno das ondas de calor que estão a assolar a Europa se devem à digressão mais recente dos THE HIVES e não a qualquer problema de alteração climática.

Segue-se «Trapdoor Solution» e, antes de «I´m Alive», há tempo para a sala em peso cantar os parabéns a uma aniversariante do público. «Smoke & Mirrors» antecede «See Trough Head» (tocada a pedido de alguém no público com cartaz), sendo esse o único tema que fugiu ao alinhamento que os THE HIVES têm tocado no restante desta tour pela Europa. «Countdown To Shutdown» encerrou a primeira parte do espectáculo, mas a banda avisou logo a plateia para fazer barulho porque ainda tinha cartas na manga.

Os ninjas entraram novamente em palco para afinarem os instrumentos e colocam-se de imediato em posição. Arranca o encore com «Come On!» e a noite fecha da melhor forma com a fantástica «Tick Tick Boom», com Pelle a mandar toda a gente sentar-se a meio do tema e a trocar alguns mimos com um resistente que se recusou a cumprir o pedido, mas que até estava com alguma dificuldade em se manter em pé. A banda despediu-se com o público completamente rendido e o público, esse, despediu-se com a banda seguramente com alguns quilos a menos. Uma noite de puro rock’n’roll!