Como já tem sido demonstrado nestas nossas/vossas páginas digitais, a retoma à normalidade tem sido constante tanto no número de eventos como também na participação do público nos mesmos. Mais um indicador disso foi a noite épica de punk/hardcore vivida no RCA Club, em Lisboa, que recebeu os THE EXPLOITED e THE CASUALTIES acompanhados pelos LION’S LAW. A lotação já estava totalmente esgotada no dia anterior ao espectáculo e, no própria dia, os níveis de euforia estavam a rebentar com a escala. Tudo sinais que nos deixam esperançosos em relação ao futuro, mas também que indicam que antes de esperar por uma normalidade (que nem vai chegar, nem nunca existiu) o melhor é mesmo aproveitar o melhor que se tem no presente como todos os (muitos) presentes no clube de Alvalade poderão afirmar com entusiasmo.
Entusiasmo é mesmo a palavra mais indicada para descrever as três actuações e a forma como as três bandas foram recebidas, logo desde o início com a entrada dos parisienses LION’S LAW em palco com uma sala já praticamente cheia. A banda de punk/oi francesa é um pequeno tesouro do underground e muitos queriam comprovar a sua magia ao vivo. «The Pain, The Blood And The Sword», o último álbum de originais, foi o centro do concerto mas não faltaram passagens por outros pontos da sua carreira, sendo que um dos momentos altos foi o fecho com «For My Clan». Muita animação logo desde o início indicavam que o público estava ávido pela festa punk e os LION’S LAW foram para uns confirmação das expectativas e para outros uma excelente surpresa.
Não será ofensa para ninguém dizer que os THE CASUALTIES foram a banda da noite. A introdução com a clássica «I Fought The Law» dos THECLASH e as sirenes que se seguiram colocaram todos em sentido e o inferno desceu à terra logo com a entrada demolidora de «1312», também o primeiro tema do último álbum de originais, «Written In Blood». A indicação que faltava de que esta seria uma actuação (e noite) de muita energia, muitos saltos e muitos coros em uníssono por parte do público. O impacto foi enorme e essa energia andava a circular por toda a sala, da banda para o público e vice-versa. E claro que, depois do vocalista David Rodriguez saltar para meio do público para cantar e organizar ali duas wall of death, o remate com uma «We Are All We Have» explosiva colocou meia sala em cima do palco. Resultado, seria complicado conseguir superar uma fasquia que ficou bem elevada.
Falando dos THE EXPLOITED, as expectativas ficam logo bem altas logo à partida. Até poderia pensar-se no início do concerto que teria menos pessoas a assistir, mas isso foi certamente uma pausa para apanhar um pouco de ar fresco — a táctica mais sábia. Isto porque logo o início, com «Let’s Start A War» e «Fightback», demonstrou desde logo que os cabeças-de-cartaz eram a principal razão de muitas pessoas estarem ali. A festa fez-se com os elementos do costume — cânticos em coro, stage divings, crowd surfing — e os clássicos foram sendo debitados conforme a banda sentia, o que dá logo à partida um ambiente mais fluído ao concerto. Fluído mas não tanto, com as paragens entre os temas a serem mais prolongadas — ninguém queria que o Wattie tivesse uma experiência semelhante aquela que teve numa outra visita a Alvalade. Obviamente que temas como «Troops Of Tomorrow», «Fuck The System» e «U.S.A.» não poderiam faltar, assim como aquele momento em que é Wullie Buchan, o baterista, a pedir para que apenas quatro pessoas subissem ao palco. Em menos tempo que o diabo esfrega o olho, já estava o palco cheio de fãs aos saltos ao som de «Punks Not Dead». Perdeu-se a conta ao número de canções, ao tempo e alguns até perderam conta à própria roupa. Enfim, são todas estas coisas que fazem parte de uma noite inesquecível como aquelas de que já tínhamos muitas saudades.