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TESTAMENT: Novo álbum, «Para Bellum», para ouvir na íntegra [review + streaming]

Os veteranos da Bay Area TESTAMENT regressam com o disco mais brutal, sombrio e inventivo da sua carreira recente.

Há bandas que sobrevivem ao tempo. E há bandas que o desafiam, reinventando-se sem perderem o ADN que as tornou lendárias. Os TESTAMENT pertencem claramente à segunda categoria. Mais de quatro décadas depois da sua formação em São Francisco, o quinteto liderado por Chuck Billy e Eric Peterson continua a provar que o thrash metal não é apenas um género histórico, mas um organismo vivo — capaz de evoluir, endurecer e encontrar novas formas de fúria.

Com o seu 13.º álbum de estúdio, «Para Bellum», os thrashers norte-americanos voltam a mostrar porque continuam a ser uma das forças criativas mais relevantes do metal extremo contemporâneo.

Desde «The Formation Of Damnation», de 2008, os TESTAMENT têm atravessado um dos períodos mais consistentes da sua carreira, com sucessivos discos aclamados pela crítica e uma reputação ao vivo que continua a ser uma das mais imponentes do género. Mas «Para Bellum» vai mais longe: é um disco que respira ambição, ferocidade e também imaginação. Não se trata só de mais um capítulo numa carreira exemplar — é um manifesto de vitalidade artística e um golpe certeiro na ideia de que o thrash, em 2025, teria pouco espaço para crescer.

O contexto ajudava a suspeitar de algo especial. A saída de Gene Hoglan, ocupado com o regresso dos DARK ANGEL, poderia ter abalado a estrutura da banda. No entanto, o seu substituto, Chris Dovas (ex-SEVEN SPIRES), revela-se uma escolha soberba — e, de certo modo, o catalisador da nova ferocidade que atravessa o álbum. Desde o primeiro tema, «For The Love Of Pain», fica claro que os TESTAMENT decidiram dar um passo em frente na brutalidade. O novo baterista injecta altas doses de energia, de precisão e uma torrente de blastbeats que empurram a sonoridade da banda para territórios onde o thrash roça o death e o black metal.

O impacto é imediato. «For The Love of Pain» é um turbilhão de riffs cortantes, variações rítmicas e uma agressividade moderna que aproxima o tema tanto do melodeath quanto do thrash clássico. Segue-se «Infanticide A.I.», um dos singles mais devastadores do ano — uma lição de composição que combina técnica, groove e violência numa progressão de tirar o fôlego. Em «Shadow People», os TESTAMENT mergulham em texturas negras que evocam uns SATYRICON, mas sem perderem o núcleo thrash que lhes dá identidade. É uma faixa que soa tanto a renascimento como a declaração de princípios: em 2025, ninguém pratica este equilíbrio de poder e subtileza com tanta mestria.

Apesar da brutalidade geral, «Para Bellum» é um álbum de grande diversidade. Faixas como «High Noon» e «Witch Hunt» soam contemporâneas sem deixarem de evocar o espírito dos clássicos, uma proeza que poucas bandas com quarenta anos de carreira conseguem alcançar. Já «Nature Of The Beast», «Room 117» e «Havana Syndrome» exploram novas nuances melódicas e estruturais — e, pelo caminho, os TESTAMENT reinventam a fórmula thrash com um vigor quase juvenil.

Tudo culmina no tema-título, «Para Bellum», um épico de seis minutos onde cada elemento da banda atinge o seu auge técnico e criativo — uma tempestade controlada de riffs, mudanças rítmicas e melodias incendiárias. No entanto, a maior surpresa do disco talvez esteja em «Meant To Be», a balada que encerra o LP. Longe de soar como um momento de descanso, trata-se de um tema grandioso e emocional, onde Chuck Billy brilha com uma interpretação contida, enquanto Alex Skolnick entrega um solo de enorme elegância.

A produção de Jens Bogren, cada vez mais uma referência no metal moderno, eleva tudo isto a outro patamar e faz os TESTAMENT soarem enormes. O som é nítido, agressivo e tridimensional, permitindo que cada detalhe — dos graves ultra musculados de Steve Di Giorgio à alternância entre o rugido e a voz limpa de Chuck Billy — se imponha sem sacrificar a coesão do conjunto. O resultado é um LP que soa simultaneamente clássico e moderno, uma síntese rara de brutalidade e clareza.

Mais do que um exercício de nostalgia ou uma tentativa de provar relevância, «Para Bellum» é um disco de conquista. É o testemunho de uma banda que, em plena maturidade, continua a arriscar, a reinventar-se e a elevar a fasquia de um género que ajudou a definir. Não será exagero dizer que este é o trabalho mais inspirado dos TESTAMENT desde os anos 90 — uma obra que recupera a intensidade de «Low», «Demonic» e «The Gathering», mas com a sabedoria e o peso acumulados por décadas de experiência.