STOP! Vão deixar a cultura underground morrer na Invicta?
Todas as lojas sem licença localizadas no Centro Comercial STOP, no Porto, foram encerradas na manhã desta terça-feira, 18 de Julho. Em notícia avançada pelo Porto Canal, foram “encerrados 105 espaços pelas autoridades por não possuírem licença de utilização“. O edifício, localizado na Rua do Heroísmo, tem 126 lojas, sendo que, de momento, está garantida apenas a continuidade de operação de 21 lojistas.
Este encerramento do STOP, como é conhecido carinhosamente, deve-se sobretudo a queixas de ruído que remontam a Agosto de 2009 e que se mantiveram ao longo dos tempos, e acontece no seguimento de um despacho do vereador Ricardo Valente, do pelouro das Atividades Económicas e Fiscalização. Em Outubro de 2022, a LOUD! já tinha noticiado que o Centro Comercial STOP poderia encerrar portas em breve por questões de segurança.
Referido como “a verdadeira Casa da Música do Porto”, o STOP foi sendo, ao longo dos anos, ocupado por bandas e músicos. Primeiro, apareceu a loja de discos Halloween, que atraiu músicos para o espaço; depois, bandas como WEB, HEAVENWOOD e outras encontraram nas lojas devolutas salas onde podiam ensaiar e guardar equipamento, a baixo custo.
Depois, abriu o Metalpoint, vieram estúdios e cada vez mais salas de ensaios, onde é comum várias bandas ocuparem o mesmo espaço, para diminuírem o valor das rendas. Os KRYPTO, GAEREA, GREENGO, EQUALEFT, 10,000 RUSSOS… Bem, são inúmeros os nomes que surgiram por lá, passaram, ou ainda se mantinham no espaço do STOP. E quanto a concertos, é melhor nem falar, tal o inúmero rol de bandas que passaram pelo palco do Metalpoint, que encerrou no final do ano passado, e de outras salas que ocasionalmente pontuavam por lá.
Inicialmente, foi fácil apontar o dedo à Câmara Municipal do Porto, aos interesses imobiliários e toda uma longa lista de vilões habituais nestes casos cada vez mais recorrentes de gentrificação. No entanto, o tempo passa e percebe-se que são os próprios proprietários das lojas do STOP, muitos deles desconhecidos, que se revelam os verdadeiros irresponsáveis, não respondendo às solicitações camarárias.
Como referido num artigo publicado pelo JN no ano passado, a “Câmara reconhece o valor cultural do espaço e do trabalho dos músicos”. Em 2022, eram já mais de 500 os artistas que usavam as instalações. A LOUD! tem conhecimento de mais de uma dezena de reuniões realizadas para resolver os problemas, com os serviços camarários a serem complacentes, num processo que se arrastava há vários anos. “A realidade é que bastava os bombeiros dizerem e o Centro Comercial era fechado de imediato”, referiu uma fonte à LOUD! à altura da publicação dessa notícia.
Quem frequentou o local, sabe bem que após certas horas da noite, a saída do espaço, onde era normal estarem várias centenas de pessoas, era efectuada por uma porta de um metro de largura. O sistema eléctrico carecia de certificação, falava-se em baixadas de electricidade ilegais, a carga térmica dentro das salas era elevada, além do risco associado aos inúmeros equipamentos.
Em 2012, o Centro Comercial teve mesmo de ser evacuado devido a um incêndio num dos estúdios. Decorriam as gravações de um álbum dos HEAVENWOOD e registaram-se três feridos. Contas à época, enumeravam 95 salas de ensaio, entre as 147 do espaço. Já em 2010, a CMP pediu uma licença de utilização a cada loja ocupada. As bandas decidiram avançar para um pedido colectivo, numa tentativa de diminuírem os custos. Na realidade, parece que tal nunca aconteceu e, actualmente, apenas uma dezena de lojas tem a referida licença, de acordo com a CMP.
Foto do header: HELENA GRANJO [via Hedflow]