O mago STEVE VAI regressou a Portugal para iniciar a segunda digressão europeia de apoio ao álbum «Inviolate», e foi recebido por um Grande Auditório do CCB completamente esgotado. As expectativas estavam, de resto, bem altas antes de se ouvir sequer uma nota e, no preciso momento em que o músico entrou em palco, já a atacar a melodia de «Avalancha», a multidão aplaudiu-o em êxtase e provou estar do seu lado desde o primeiro momento. Atacando rapidamente «Giant Balls Of Gold» e «Little Pretty», só no final do terceiro tema é que o guitarrista se dirigiu ao público, referindo que estava com jetlag e aproveitando para apresentar a banda, da qual se destaca Dante Frisiello, na guitarra e teclados, naquela que foi a sua estreia como parte activa dos espectáculos de Vai, depois de ter trabalhado como técnico de guitarra e baixo na digressão do ano anterior, tendo inclusivamente desistido da sua carreira como advogado.
O primeiro grande (e inevitável) momento da noite foi uma rendição arrepiante de «Tender Surrender» que deixou o público em delírio total e tornou-se notório que, entre grandes momentos e toda a exuberância técnica, são os ínfimos detalhes que nos conquistam, como o facto de haver um técnico que garante sempre que o fio da guitarra está esticado da mesma forma, e que não há qualquer tipo de imprevisto na performance. Também parte integrante dos concertos do lendário guitarrista são as pequenas surpresas que vão surgindo esporadicamente, como aconteceu a meio de «Lights On», quando surgiram em palco vários técnicos, a tocar também guitarra, resultando numa frente unida de cinco guitarristas que protagonizou uma espécie de coreografia, no final da qual acabaram todos ajoelhados perante um público, também ele, prostrado face ao que se ouvia e via. É lógico que, ao longo da noite, os holofotes estiveram centrados em STEVE VAI, mas isso não impediu que o músico permitisse aos seus companheiros terem também o seu lugar ao sol, começando pelo baixista Phillip Bynoe, passando depois por Dante e, por último, pelo baterista Jeremy Colson. Curiosamente, foi o solo de Dante que quase não se realizou, com Vai a anunciá-lo e o rig do músico a falhar precisamente nesse exacto momento. Como o próprio mestre disse, estes são os imprevistos inerentes a tocar ao vivo — o material pode falhar de um momento para o outro. Enquanto entreteve o público, improvisando com a guitarra enquanto um técnico e Dante tentavam resolver a questão, Vai ainda disparou um “desculpa Dante, mas acho que vamos ter que continuar sem o solo“, mas a situação resolveu-se naquele exacto momento. Parece que, por vezes, só é preciso um pequeno incentivo extra. O mestre voltou então a apresentar o solo, antes de sair de cena por alguns minutos.
Outro momento inevitável foi, sem dúvida, a interpretação de «Bad Horsie», um dos temas mais pesados do catálogo de Vai, aqui apresentado com um trecho do mítico «Crossroads» a passar no ecrã quando se ouviu aquele rosnar de guitarra pela primeira vez. A juntar-se à lista de pontos altos, tivemos direito a «Teeth Of The Hydra», interpretado com a bizarra guitarra que junta baixo, cítara, guitarra, harpa e que parece ter sido criada para um universo paralelo de steampunk . Mesmo que o tema esteja longe de ser dos mais memoráveis do último trabalho, o impacto visual de ver o guitarrista feito cientista louco a operar aquela complicada máquina com mestria compensou tudo o resto. Claro, não podia faltar, também um saltinho ao seu clássico maior, «Passion & Warfare», com uma emocionante «Liberty» a anteceder outro dos momentos mais aguardados, «For The Love Of God». Como apresentação ao tema, o músico referiu que a sua equipa e o seu público são como uma família e que, por vezes, ele próprio é surpreendido pelo seu talento. Com isto chamou a palco Dani G., técnico que também é cantor de ópera, para apresentar uma versão bem diferente (e arrepiante) daquele que é o seu tema mais emblemático.
Para terminar, tivemos ainda um regresso ao álbum «Fire Garden» com uma secção de «Fire Garden Suite», durante a qual o músico passeou pela assistência e colocou a sua guitarra à disposição dos fãs para que pudessem modelar o som através da alavanca, chegando até a pedir a uma sortuda para pegar na guitarra enquanto continuava a tocar por atrás, abraçado a ela. Verdade seja dita, foi um daqueles finais que escapam às palavras e que são representativos da forma como, mais que debitar notas, mais que ter uma grande capacidade técnica, STEVE VAI é um mestre da arte de conseguir emocionar o seu público. A sua personalidade, e a gratidão que sente, são notórias, não deixando de referir, quando toda a banda já tinha saído de palco e o público ainda aplaudia de pé, como sentia todo o apoio e carinho que tem recebido ao longo dos anos e que lhe tem permitido realizar o seu sonho. Antes do início do concerto tinha sido pedido ao público que não o fotografasse ou filmasse, mas quase se percebe a opção dos muitos que foram infringindo o pedido na tentativa de registarem o momento.
Fotos: Sónia Ferreira