Mais “banha da cobra” e mais uma manobra que, definitivamente, não funciona a favor dos músicos, cortesia do SPOTIFY.
No caso de quereres tornar o Daniel Ek ainda mais rico, o SPOTIFY acaba de lançar a nova funcionalidade Showcase. O mais recente “recurso” da plataforma de streaming cobra aos artistas que queiram promover as suas músicas como um banner pago na parte superior da página inicial do SPOTIFY para chegarem ao que eles chamam “prováveis ouvintes“.
É claro que a plataforma posiciona a página inicial como o “lugar mais visitado no Spotify, onde milhões de ouvintes vêm para decidir o que ouvir, resultando em biliões de streams todos os dias”, e menciona que “as pessoas que veem um Showcase têm seis vezes mais probabilidade de fazerem stream do lançamento promovido.” A última frase até tem um link para um vídeo que repete essa mesma informação, mas não aprofunda o significado real de qualquer uma dessas estatísticas, ou o quão útil isso pode realmente ser para os artistas.
O tarifário para uma banda exibir a sua música no Showcase começa nuns redondinhos US$ 100 e esse preço tem por base um custo por clique (CPC) de US$ 0,40. Portanto, se tens uma banda e, pelo menos, um tema disponível no SPOTIFY, isso quer dizer que, se aderires ao novo serviço, um clique vai custar-te US$ 0,40 para ganhares cerca de US$ 0,005 em royalties por cada audição. Pois bem, não é preciso fazer grandes contas para perceber que essa matemática não funciona a favor do artista.
No comunicado de imprensa agora disponibilizado, o SPOTIFY aponta ainda que os artistas têm de ter, no mínimo, 1,000 streams nos últimos 28 dias em pelo menos um dos mercados-alvo disponíveis para serem elegíveis à utilização do Showcase.
Recorde-se que, no início deste Verão, e numa manobra que não surpreendeu ninguém, a plataforma de streaming Spotify anunciou um “ligeiro” acerto na sua mensalidade e, quem subscrevia o plano individual, passou a pagar 7,99 euros por mês, mais um euro que até então. O plano Duo, válido para duas contas, passou a custar 10,49 euros, sofrendo um aumento de 1,5 euros; e a assinatura familiar, que permite ter até seis contas, aumentou dois euros, passando a custar 13,49 por mês.
“Já com mais de 200 milhões de assinantes, estamos muito orgulhosos por sermoa o serviço de streaming áudio mais popular do mundo e continuamos a oferecer aos utilizadores acesso a músicas sob demanda e sem anúncios, downloads de músicas offline e streaming de música de qualidade“, dizia a empresa na nota de imprensa em que anunciava esses aumentos. “No entanto, o mercado continuou a evoluir desde que fizemos o nosso lançamento e, para podermos continuar a inovar, tivemos de alterar os nossos preços em vários mercados ao redor do mundo. As actualizações vão ajudar-nos a continuar a agregar valor na nossa plataforma.“
Ora bem, não é segredo nenhum que muitos artistas, sendo um dos mais recentes Dani Filth, o vocalista dos CRADLE OF FILTH, têm criticado abertamente as práticas do Spotify relativamente ao pagamento de royalties aos artistas, descrevendo-os inclusivamente como “os maiores criminosos do mundo“. Algumas tácticas obscuras, como oferecerem exposição por taxas de royalties ainda mais baixas, não têm ajudado a tornar a plataforma de streaming mais popular aos olhos dos músicos.
Nos últimos anos, os custos das digressões dispararam, as vendas de discos começar a caír e os serviços de streaming não são propriamente uma fonte rentável. Dani Filth, o carismático vocalista dos CRADLE OF FILTH, falou recentemente sobre o assunto numa entrevista com filial grega da revista Rock Hard e revelou o quão difíceis estão as coisas nos dias que correm. “A situação em piorado bastante nos últimos anos“, começou por dizer Dani.
“Acho que 2006 foi o ano em que tudo deixou de ser confortável para os músicos — não necessariamente confortável; porque nunca foi confortável. Mas a verdade é que as coisas se tornaram muito mais difíceis com o início da era digital e o surgimento das plataformas de streaming, que não pagam a ninguém. O Spotify é um desses casos, os tipos por trás dessa plataforma são os maiores criminosos do mundo. Acho que tivemos 25 u 26 milhões de reproduções no ano passado e, pessoalmente, ganhei um total de 20 libras, o que é menos do que a actual taxa de trabalho por hora.“
Mais adiante na conversa, o músico britânico não se fez rogado e explicou que a ideia generalizada de que os músicos que tocam em bandas grandes são milionários não poderia estar mais longe da verdade. “Acho que as pessoas têm a capacidade incrível de acreditar que quando um músico tem produtos físicos à venda está a ganhar uma fortuna com isso“, explicou ele.
“As pessoas não percebem que, além de nós, há muito mais gente a querer a sua fatia da tarte — a editora que nos promove, o manager, os contabilistas. E isso é um problema quando não estás a fazer muito dinheiro, porque não há grande coisa para dividir. Hoje, as bandas lançam edições limitadas a pensar nos coleccionadores, que são as únicas pessoas que ainda compram discos; o resto do pessoal ouve a música em streaming e pronto.
Não há forma de negá-lo; a indústria da música está a passar um mau bocado. Eu continuo a gostar muito de fazer música — não me interpretem mal, adoro fazê-lo — mas, sim, os músicos têm um milhão de obstáculos contra eles. Estamos a passar por um momento muito difícil.“
O que é realmente péssimo nisto tudo é que, até ao momento, não há menção absolutamente nenhuma sobre este aumento de preços ter qualquer tipo de efeito nos pagamentos ridículos que os artistas estão a receber do Spotify — e que, de forma vergonhosa, andam na casa dos cêntimos.