SONIA ANUBIS detalha episódios traumáticos vividos durante a sua passagem pelo grupo suíço, e alega ter sido humilhada e limitada artisticamente. A revelação reacende o debate sobre exploração e controlo abusivo na cena metal feminina.
A guitarrista Sonia Anubis, mais conhecida pela sua passagem pelas CRYPTA entre 2019 e 2022 e pelo projecto COBRA SPELL, voltou a expor um capítulo particularmente doloroso da sua trajectória. Antes de integrar a formação brasileira de death metal, Sonia fez parte das suíças BURNING WITCHES, com quem gravou os LPs «Hexenhammer» e «Dance With The Devil». Agora, numa série de publicações nas stories da sua conta pessoal no Instagram, a guitarrista descreveu a sua passagem pelas banda como tendo sido profundamente traumática, avançando acusações de abuso psicológico, exploração e controlo extremo.
Segundo Sonia Anubis, os problemas começaram com um dado que muitos fãs desconheciam: “Eu nunca fui paga pelas Burning Witches como membro oficial e nunca soube a razão… Talvez vocês devam perguntar à banda”, escreveu. A artista afirmou ter dedicado todo o seu tempo ao projecto, mas, mesmo assim, viu-se forçada a situações que classifica como humilhantes e emocionalmente devastadoras.
A guitarrista relatou que lhe era proibido apresentar-se sem maquilhagem porque, segundo o empresário do grupo, “ficava feia sem ela e faria papel de idiota”. Acrescentou ainda que era obrigada a tocar sempre de pé, mesmo em vídeos pessoais, sendo igualmente impedida de conceder entrevistas porque não era “adequado” falar das suas influências musicais. A isto somou-se um ambiente que descreve como sendo permanentemente hostil: “Era tratada de uma forma muito rude e ofensiva — ao ponto de passar muitos momentos a chorar nos bastidores”, revelou.
Outra das imposições terá sido a proibição de utilizar o seu nome artístico, algo que a artista considera particularmente simbólico do controlo exercido sobre a sua identidade. Segundo o seu testemunho, nem mesmo a participação nos discos da banda foi compensada: “Nunca fui paga pelas minhas gravações nos álbuns dos quais fiz parte.”
Ao longo deste desabafo, Sonia explicou que se manteve em silêncio devido ao medo que a banda e o seu círculo lhe provocavam: “A lista continua e eu nunca falei sobre isto devido ao medo que me causaram. Luto diariamente com a experiência horrível que tive nas Burning Witches. Elas destruíram o que era o meu entusiasmo juvenil. Ridicularizaram a minha felicidade. Cada parte que me fazia brilhar era uma ameaça para elas — encontravam sempre uma forma de me quebrar e de me diminuir.”
Sonia Anubis acrescentou que os efeitos desse período continuam presentes: “Estou a lutar diariamente para recuperar isso. E faço terapia por causa disso.” A guitarrista explicou ainda que estas vivências ajudam a compreender porque evita tocar em bandas onde não detenha controlo criativo: “Tenho muitos traumas e não consigo fazê-lo porque estou assustada e traumatizada… Vou continuar a tocar só na minha própria banda e/ou a solo, porque só assim me sinto segura.”
A polémica ganhou novo fôlego quando um fã questionou se a situação vivida nas BURNING WITCHES seria, de alguma forma, comparável à recente controvérsia que envolveu as chilenas DOGMA, acusadas de abuso e exploração por parte do seu empresário. Sonia foi clara na resposta: “Nas Burning Witches é ainda pior. As integrantes das Dogma ao menos foram pagas e tinham um contrato que verbalizava os seus termos. Eu não tinha nada… Apenas uma guitarra Jackson que comprei com o dinheiro que juntei do meu trabalho como web developer e uma quantidade infinita de paixão e motivação.”
Para sublinhar a gravidade da acusação, a guitarrista publicou ainda uma fotografia da actuação das BURNING WITCHES no Wacken Open Air, dizendo que também não recebeu qualquer pagamento por esse espectáculo — nem por “inúmeros outros”. “E atenção: não estamos a falar de uma banda ‘novata’ que ‘não tem como pagar’. É uma banda corrupta que trata músicos sensíveis como lixo”, concluiu.
Até ao momento da publicação desta notícia, nem as BURNING WITCHES nem os seus representantes emitiram qualquer resposta oficial às alegações de Sonia Anubis. A controvérsia, contudo, continua a multiplicar reacções entre fãs e profissionais do sector, reacendendo discussões sobre abuso de poder, pressão estética e exploração dentro da indústria musical — especialmente em bandas, como é o caso, que se apresentam como defensoras da representatividade feminina no metal.















