Aos poucos está a ser reposta a justiça cósmica com os eventos que foram adiados — e este era, sem qualquer dúvida, um daqueles que mais expectativas tinha gerado. Depois de uma passagem pelo Hard Club, no Porto, na noite anterior, foi altura da digressão que reunia SOILWORK, KATAKLYSM e WILDERUN passar por Lisboa. Bandas substancialmente diferentes, mas que cativaram por completo o público que compôs o LAV – Lisboa Ao Vivo do início ao fim. Em abono da verdade, o início deu-se com a plateia ainda algo despida, mas as pessoas foram chegando durante a actuação dos WILDERUN, um quadro altamente injusto para a qualidade que a banda norte-americana tem evidenciado álbum após álbum. Ainda para mais sendo que esta foi a primeira visita ao nosso país, naquela que foi a sua primeira digressão de sempre pela Europa. Como os temas são longos, só tivemos direito a quatro — que corresponderam a pouco mais de quarenta minutos de actuação –, com um metal progressivo apaixonante que não perde impacto ao vivo, embora numa versão mais crua e sem grande parte dos arranjos extra. O que não deixa de ser uma abordagem honesta, não recorrendo em demasia às backing tracks e mantendo um feeling puro em relação à actuação. O público foi sendo conquistado e muitos estavam lá precisamente para os ver. Embora quatro temas tenham sabido a pouco, esses não saíram desiludidos, principalmente quando o concerto terminou com uma épica «Far From Where Dreams Unfurl».
Quando chegou a vez dos KATAKLYSM, a sala já estava bem mais composta e repleta de fãs da banda canadiana. É curioso ver que, apesar de estarem longe de reunir consensos positivos na crítica em relação aos trabalhos de estúdio, continuam a conseguir cativar o público. Já os tínhamos visto na última edição do Vagos Metal Fest e aqui ainda o fizeram de forma ainda mais convincente. A qualidade oscila quando se caminha por uma discografia tão vasta como a dos canadianos, mas a sua eficácia ao vivo é inquestionável. Os temas mais recentes e mais amigos do groove, como «Underneath The Scars» e «Outsider», resultam particularmente neste contexto e foram promotores de muitos circle pits, mas os momentos clássicos não se ficaram atrás, com devastadoras interpretações de «Manipulator Of Souls», «In Shadows & Dust» e uma impressionante «As I Slither», que promoveu uma vaga interminável de crowdsurfing que não deixou os seguranças descansarem. Maurizio Iacono pediu-lhes desculpas de antemão quando anunciou o tema. Uma actuação sólida, com o volume bem alto.
A terceira banda a estrear-se na capital portuguesa seriam os SOILWORK e as expectativas eram bem altas (assim como o volume que ainda estava ainda mais alto que o da banda anterior), afinal são responsáveis por um dos grandes álbuns de death metal melódico do ano anterior. Como tal, não nos surpreende a sua aposta em «Övergivenheten», com o tema-título logo a marcar presença no início do espectáculo e a ser o trabalho mais representado no setlist de uma banda que já tem uma longa e ilustre carreira. Simon Johansson (dos Memory Garden e Wolf) é o guitarrista que está a substituir ao vivo David Andersson, falecido no ano passado e a quem Björn “Speed” Strid dedicou «The Nurturing Glance». A festa fez-se facilmente ao longo de temas clássicos assim como mais recentes, sendo que «Bastard Chain» provocou bastantes circle pits, assim como uma surpreendente «Death Diviner», sacada ao último EP da banda, «A Whisp Of The Atlantic». Para o encore, após uma curta pausa, ficaram reservados mais quatro temas que fecharam com uma chave de ouro bem apropriada uma grande noite, sendo que «Nerve» foi (mais) um dos pontos altos. Para a memória ficaram três excelentes concertos de bandas que queremos ver novamente, e que já demonstraram vontade de voltar rapidamente.
Fotos: Sónia Ferreira