SMASH INTO PIECES

SMASH INTO PIECES + NOWHERE TO BE FOUND @ LAV – Lisboa Ao Vivo | 14.09.2025 [reportagem]

SMASH INTO PIECES e NOWHERE TO BE FOUND dividiram o palco do LAV – Lisboa Ao Vivo numa noite de estreia marcada por contrastes.

Ontem à noite, o LAV – Lisboa ao Vivo foi palco da muito aguardada estreia dos suecos SMASH INTO PIECES em Portugal. A expectativa era alta: muitos fãs esperavam há anos pela oportunidade de ver em carne e osso os músicos que, entre discos marcados pelo elaborado conceito de Arcádia e presença constante nas playlists digitais, se tornou um dos nomes mais falados do rock moderno europeu.

Como os músicos já nos tinham antecipado, e ao contrário do que é habitual hoje em dia para o grupo, o espaço não estava transformado numa arena futurista, mantendo os seus traços de sala de clube com capacidade para oferecer proximidade e intensidade. O cenário revelou-se reduzido, sem grandes adereços, mas as caixas de luz e os lasers garantiram um impacto visual que, em certos momentos, transformou a sala mais pequena do Lisboa Ao Vivo numa cápsula sci-fi.

Foi, de resto, esse contraste que marcou a noite: uma produção espartana para o que se espera dos SMASH INTO PIECES, mas uma atuação demasiado polida e clínica, onde a perfeição técnica e o recurso notório a playback vocal deixaram a sensação de que faltou risco e vulnerabilidade.

Antes dos suecos, os nacionais NOWHERE TO BE FOUND tiveram a missão de abrir o espectáculo. Com a sua mistura de peso moderno e melodias acessíveis, os músicos mostraram muita confiança e maturidade, conquistando aplausos firmes e criando a primeira ligação emocional da noite com a plateia. Canções como «Catchfire», logo na abertura, ou «Traverse», que colocou um ponto final no concerto, soaram bem afiadas, provando que a banda está cada vez mais confortável a dividir palco com grandes nomes internacionais. Além disso, a recepção calorosa mostrou que o público português chega cedo quando sente que há algo de valor na primeira parte – e, ontem, isso ficou bem claro.

Quando a intro dos SMASH INTO PIECES ecoou pela sala, um coro de vozes e aplausos percorreu o espaço. De imediato, os telemóveis acenderam-se para registar o momento. «Flow» abriu o alinhamento e foi recebida com entusiasmo, mas também deixou à vista a estética calculada da banda: movimentos ensaiados, poses estudadas, uma precisão quase maquinal. «Venom» manteve o pulso firme, com Chris Adam a dominar a frente de palco entre gestos firmes e um olhar que percorria a multidão. A resposta foi positiva, embora ainda contida.

Foi, no entanto, em «Wake Up» que a sala começou a ganhar outra vibração. O refrão foi cantado em uníssono, com braços erguidos e um público que parecia finalmente soltar-se. «Big Bang» elevou essa energia com a ajuda das luzes, que transformaram a sala num mar pulsante de cores vibrantes. Já em «Let Me Be Your Superhero», percebeu-se claramente a devoção dos fãs: muitos cantavam cada verso de olhos fechados, como se a música fosse uma confissão partilhada. Esse foi, muito provavelmente, um dos momentos mais emocionais da noite, embora a perfeição quase clínica da execução — reforçada pelo playback vocal, impossível de ignorar — retirasse alguma da crueza que o tema poderia ter ao vivo.

«Glow In The Dark» ofereceu um dos pontos altos do espectáculo visual, com lasers a cortarem o espaço em feixes precisos, recriando no palco o imaginário de Arcádia. Seguiu-se «Heroes Are Calling», recebida como um hino, com palmas ritmadas a ecoarem por toda a sala. O público respondeu com energia, e foi aqui que a ligação entre banda e plateia atingiu talvez o seu ponto mais equilibrado. A meio do concerto, temas como «Trigger» e «Boomerang» mostraram a faceta mais directa e radiofónica da banda, cumprindo o objectivo de manter o público em movimento, mas também reforçaram a sensação de previsibilidade. Tudo soava demasiado controlado, demasiado perfeito.

Ainda assim, «Arcadia» teve peso simbólico, sendo recebida com entusiasmo extra, quase como um sinal de que muitos dos presentes não estavam apenas ali pelos singles, mas pelo conceito que os SMASH INTO PIECES vêm a construir há anos. Na recta final, «All Eyes on You» e «Deadman» serviram de catalisadores para os coros mais fortes, enquanto «Broken Parts» trouxe uma pausa mais emotiva, marcada por vozes em coro que encheram a sala de um calor inesperado. «Running Away From Home» acelerou novamente o ritmo, preparando terreno para «Forever Alone», que fechou a primeira parte em tom de catarse. Houve braços no ar, houve saltos, houve gritos que ecoaram como resposta automática à intensidade do refrão.

O encore trouxe o clímax da noite. «Hurricane» fez a sala vibrar, mas foi com «Six Feet Under» que se deu a explosão final. Desde os primeiros acordes, o público reagiu como se guardasse todas as forças para aquele momento. O refrão foi gritado por todos, a ponto de quase abafar as linhas vocais de Chris Adam. Pela primeira vez na noite, a perfeição polida cedeu lugar à emoção colectiva, e por breves minutos a distância entre palco e plateia desapareceu.

No entanto, o balanço não pode ignorar as fragilidades. O concerto foi sólido em termos de espectáculo visual e de execução musical, mas faltou-lhe imperfeição e entrega crua. O uso de playback, demasiado evidente, comprometeu a autenticidade, e a previsibilidade dos gestos e das transições tornou a noite mais segura do que memorável. Houve entusiasmo, houve energia, mas faltou o risco que tantas vezes transforma uma estreia num acontecimento. Mesmo assim, para os fãs portugueses, a noite ficará registada como o primeiro encontro com uma banda que há muito acompanhavam à distância.

Para os SMASH INTO PIECES, Lisboa revelou-se um palco de potencial, onde há espaço para crescer e para cimentar uma ligação que pode tornar-se mais forte em futuras visitas. Entre lasers milimétricos e refrões ensaiados, entre entusiasmo e contenção, Lisboa conheceu finalmente os suecos de Arcádia. Resta agora esperar pelo dia em que regressem sem receio de trocar a segurança pelo caos criativo que torna um concerto inesquecível.