SLAYER

SLAYER: 40 anos de «Show No Mercy»

Quatro décadas depois, o álbum de estreia dos SLAYER continua a conter tudo o que se pretende de um disco perfeito de thrash.

É certo e sabido que, mesmo no seio de um grupo com interesses em comum, as opiniões tendem a dividir-se quando chega a hora de discutir quais as bandas mais importantes de uma época. Poucos são, no entanto, aqueles que se atrevem a questionar a relevância de uma banda como os SLAYER. Quem começou a ouvir música durante a década de 90 ou já no Séc. XXI provavelmente não se lembra disto, mas nos anos 80 havia uma divisão estranha entre o metal e o punk.

E sim, era quase como se os metálicos e os punks fossem inimigos mortais, rivais que se uniam apenas no momento em que eram ameaçados pela eterna praga skinhead. O thrash foi o primeiro género a ir beber inspiração aos dois estilos, actuando como força pacificadora entre as duas facções — e os SLAYER foram cruciais para derrubar as barreiras entre os dois géneros.

Corria o ano de 1982 quando os guitarristas Kerry King e Jeff Hanneman se juntaram ao baixista e vocalista Tom Araya e ao baterista Dave Lombardo para formarem a banda em Huntington Park, na Califórnia. O quarteto deu os primeiros passos a tocar versões dos Judas Priest e Iron Maiden, mas os
músicos perceberam rapidamente que poderiam atrair mais atenção e fãs explorando uma imagética
satânica e ameaçadora.

Pouco tempo depois são convidados pelo influente Brian Slagel para participarem com um tema original na colectânea «Metal Massacre, Vol. 3» que, escassos anos antes, tinha mostrado ao mundo nomes tão elogiados do movimento thrash como Metallica e Voivod. Face às boas reações provocadas pelo original «Agressive Perfector», o quarteto assinou então um contrato com a Metal Blade com vista à edição do álbum de estreia.

Originalmente editado no dia 3 de Dezembro de 1983 pela Metal Blade, o primeiro álbum de estúdio dos SLAYER foi captado nos Track Record Studios, em Los Angeles, na Califórnia, com o fundador da Metal Blade, Brian Slagel, a partilhar a cadeira de produtor com o próprio grupo. Mesmo que financiada com um pequeníssimo orçamento pelos próprios elementos da banda, o disco revelou desde cedo a agressão que os tornou famosos, num furacão furioso de riffs cativantes, solos e percussão tresloucada.

O público, na sua grande maioria, tende a ignorar esta gravação, mas a verdade é que algumas das melhores canções dos SLAYER estão aqui… «The Antichrist»», «Die By The Sword», «Crionics», «Black Magic» ou «Tormentor» são clássicos intemporais e até mesmo os momentos menos impactantes, como «Fight ‘Till Death», soam como sovas aos sentidos.

Revelando uma total falta de contenção ou bom senso — os músicos tocam demasiado rápido e são desleixados —, e apesar da abordagem algo precoce e caricatural, o «Show No Mercy» deu logo para perceber a velocidade vertiginosa e a proficiência instrumental da banda, que começou a estabelecer a sua reputação como um dos nomes mais entusiasmantes saídos do underground da altura.