SLAYER: O Adeus à Europa [reportagem]

Noite fria em Dublin para a receber a primeira data da digressão de despedida de um dos nomes mais lendários do universo do metal, os SLAYER. Quase 40 anos no activo, e tendo em conta o passado recente da banda, não podemos censurar que tenham querido – principalmente o vocalista Tom Araya – colocar um ponto final numa carreira ilustre e que acabou por ajudar a definir um dos géneros musicais mais intensos de que há memória.

Apesar do frio, vivia-se um ambiente de grande expectativa fora da arena. A verdade é que, quando anunciou esta data, nem o próprio promotor estaria à espera de resposta tão positiva por parte dos fãs. Na melhor das hipóteses, seriam esperadas à volta de 8 mil pessoas, mas no dia compareceram ao evento quase 13 mil almas que encheram quase por completo a 3Arena na capital irlandesa. Pouco faltava para as 18:30 quando os OBITUARY subiram ao palco ao som de «Redneck Stomp». Por esta altura ainda havia muitas pessoas a entrar no recinto e a preferir abastecer os copos de cerveja primeiro ou dar uma vista de olhos pelo merchandise disponível. Os norte-americanos lá foram debitando mais alguns clássicos, como «Don’t Care» e, a terminar, «Slowly We Rot», já que o tempo para estar em palco era curto.

Seguiram-se os ANTHRAX, que aproveitaram da melhor maneira os 30 minutos a que tinham direito para agitar o público e começaram logo a abrir com o clássico «Caught In A Mosh». Seguiram-se «Got The Time» e «Madhouse», com o público a responder de forma intensa aos constantes pedidos de agitação por parte do vocalista Joey Belladonna. A terminar, ouviram-se «Antisocial» e «Indians» – que contou com um excerto de «Cowboys From Hell», dos Pantera, no final – com os fãs mais uma vez a fazerem-se sentir presentes, criando um verdadeiro ambiente de festa.

Anthrax
Anthrax

Os LAMB OF GOD apresentaram-se com Art Cruz na bateria, no lugar de Chris Adler que continua ausente da banda por tempo indeterminado, mas a intensidade do grupo da Virginia continua intocável, principalmente na pessoa de Randy Blythe que mais parece um animal enjaulado a andar de um lado para outro à espera que as portas se abram para se soltar. E foi isso que fez, juntamente com os restantes colegas de banda, que não tiraram o pé do acelerador durante 45 minutos. Não faltaram no alinhamento «512», «Walk With Me In Hell», «Laid To Rest» e, claro, «Redneck».

Lamb Of God

A noite era, no entanto, dos SLAYER. É certo que, verdade seja dita, já não têm nada que provar a ninguém, mas pelo que vimos parecem fazer questão de deixar bem vincado na memória dos fãs o significado da expressão “sair em alta”. Dois panos gigantes cobriam por completo o palco e, com as luzes totalmente apagadas, ouviram-se as primeiras notas de «Delusions Of Saviour». Eis que cai o primeiro pano. Começam a perceber-se as primeiras movimentações em palco e o público entra em ebulição… Finalmente cai o segundo pano e a banda começa a debitar as primeiras notas de «Repentless»; a partir deste momento, está a fazer-se história. Fogo, muito fogo, vai saindo por detrás dos amplificadores de Kerry Kerry e Gary Holt, com o baterista Paul Bostaph a sentir bem de perto todo o calor que é expelido ao longo das canções. Só um ou dois temas não contaram com pirotecnia, todos os outros tiveram direito a um pequeno “espectáculo extra”.

Slayer

Seguem-se «Blood Red», «Disciple» e, com os SLAYER em perfeita sintonia, chega a vez de «Mandatory Suicide» e «Hate Worldwide». Com a luz centrada em Tom Araya, o vocalista dá as boas-vindas aos fãs e quer que o público grite uma palavra “War!” e só isso que precisa de ouvir para dar início ao clássico «War Ensemble». A “guerra” continua com «Jihad», depois o ambiente acalma um pouco com «When The Stilness Comes» e volta a carregar com «Postmortem» e a muito saudosa «Black Magic».

É certo e sabido que sempre foram conhecidos pela intensidade das suas actuações, mas há algo de novo nestes SLAYER que nunca tínhamos visto. Talvez por saber que o fim está próximo, a verdade é que a banda se apresenta com uma energia e vontade de estar em palco renovadas. Araya manteve-se tranquilíssimo até ao momento de apresentar o tema «Payback», que como o próprio diz, reflecte aquilo que se vive actualmente nos Estados Unidos e, sem querendo entrar na política, diz apenas que há muitas pessoas estúpidas e quando chegar a altura do payback, “payback is a bitch muthafucker!”.

Slayer

Começamos a entrar na recta final do espectáculo com «Seasons In The Abyss», depois fazemos uma viagem até ao «Divine Intervention» com «Dittohead», logo seguido pela sempre arrepiante «Dead Skin Mask» e pela velhinha «Hell Awaits». O encore começa com «South Of Heaven» e «Raining Blood», aqui com Tom Araya a trocar-se um pouco com a letra nos primeiros versos. Depois de «Chemical Warfare», os SLAYER despedem-se dos fãs irlandeses e de outras nacionalidades que decidiram marcar presença na aqui com a já habitual «Angel of Death».

Se esta é a memória que nos vão deixar, então a ideia que fica é de uma banda num pico de forma — e que vai deixar muitas, muitas saudades.