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23 anos de «GOD HATES US ALL», o último grande álbum dos SLAYER

Editado a 11/09/2001, o 8.º álbum de estúdio dos ícones SLAYER afirmou-se como a banda-sonora perfeita para o sentimento de desgraça e paranoia pós-11 de Setembro.

Em retrospectiva, a data de lançamento de «God Hates Us All», o oitavo álbum dos SLAYER, foi profética. Na manhã do dia em que o álbum foi lançado, dois aviões colidiram com o World Trade Center, na cidade de Nova Iorque, no que se tornou o ataque terrorista mais mortal de sempre em solo americano. Irónico, não é? No mesmo dia em que os Estados Unidos sofreram uma terrível investida extremista que derrubou o World Trade Center e matou quase 3.000 pessoas, os ícones da música extrema lançaram o infame «God Hates Us All». E, na manhã de 11 de Setembro de 2001 parecia, de facto, que Deus nos odiava a todos.

Para milhões de metaleiros, que tinham planeado passar o dia a abanar a cabeça ao som do novo disco dos SLAYER, tudo mudou rapidamente, com esse sentimento de entusiasmo a ser substituído pela confusão, pelo luto e por uma interrogação pertinente — afinal, que merda de mundo é este em que vivemos?

De repente, o título do álbum parecia algo entre uma piada de mau gosto e um sinistro aviso. A letra de «Disciple» — que contém as linhas “Pessimist, terrorist targeting the next mark / Global chaos feeding on hysteria” — ganharam contornos fatídicos. Dúvidas restassem, os eventos daquele dia tornaram só vieram dar mais força aos motivos pelos quais o guitarrista Kerry King decidiu chamar ao disco «God Hates Us All».

King escreveu a maioria das letras e metade da música contida no sucessor de «Diabolus In Musica», criando uma intensa declaração de protesto contra um mundo escravizado pela religião organizada, pela política e pelo ódio. E sim, para uma banda menor, tanta coincidência poderia ter sido devastadora. No caso dos SLAYER, o «God Hates Us All» mudou tudo.

Para melhor compreender este álbum e o seu impacto na carreira dos SLAYER, é preciso olhar primeiro para o seu antecessor, que — sem ser um disco terrível — representou, em muitos aspectos, uma grande mudança para o quarteto. De repente, era como se os reis do thrash satânico tivessem começado a perder gás. Temas como «Bitter Peace» e «Stain Of Mind» fervilhavam de raiva, mas soavam demasiado seguras, enquanto «Love To Hate» e «In The Name Of God» pareciam tentativas de imitar os grooves repetitivos de uma cena nu-metal em expansão. Pior ainda, os músicos atenuaram a sua arte e a sua mensagem, sacrificando um dos elementos vitais do seu carácter. Resultado, muitos fãs começaram a sentir-se abandonados.

Sem regredirem totalmente, no «God Hates Us All» os SLAYER fizeram a escolha inteligente de regressar às suas raízes. O título e as letras do álbum voltaram aos temas centrais de caos, violência, perversão e pura raiva. O título parecia um retrocesso, mas, dadas as circunstâncias, acabou por afirmar-se como uma das tiradas mais realistas que tinham assinado até então.

As canções, por seu lado, falavam por si mesmas. O disco abre com uma sequência devastadora e que não faz prisioneiros — «Disciple», «God Send Death» e «New Faith». As guitarras de Kerry King e do malogrado Jeff Hanneman rangem e galopam, com os riffs e solos a soarem especialmente ameaçadores face ao demolidor trabalho de Paul Bostaph na bateria e aos gritos revigorados de do baixista e vocalista Tom Araya. No entanto, nem tudo aqui é apenas velocidade desenfreada, com temas mais compassados, como «Seven Faces», «Bloodline» e «Deviance», a darem ao disco um toque de dinamismo que mantém o ouvinte atento durante toda a duração do LP.

Hoje, vinte e três anos depois, a data de lançamento do «God Hates Us All» pode parecer apenas acidental, mas a verdade é que coincidências como estas são verdadeiramente assustadoras — sobretudo quando acontecem aos SLAYER, uma das bandas mais assustadoras do planeta.