SLASH

SLASH: Alucinações, sexo, dinheiro e armas de fogo no auge do vício

Sexo, drogas, armas e rock’n’roll — já para não mencionar pequenos homens azuis a rastejar pelo chão: com os GUNS N’ ROSES no auge da sua fama, SLASH viu de tudo um pouco.

SLASH nasceu Saul Hudson a 23 de julho de 1965, em Stoke-on-Trent, Inglaterra, de pais artistas ambos envolvidos na indústria do entretenimento; a sua mãe era designer de moda e trabalhou com Bowie no filme “The Man Who Fell To Earth”, e o seu pai desenhou capas de álbuns para artistas como Neil Young e Joni Mitchell. A família eventualmente mudou-se para Hollywood, onde Hudson frequentou o ensino secundário, recebeu a sua primeira guitarra e conheceu Steven Adler, o futuro ex-baterista dos GUNS N’ ROSES.

Com Hudson a adoptar o nome artístico SLASH, dado por um amigo da família, os dois formaram uma banda chamada ROAD CREW e, embora não tenham alcançado sucesso, foi através dela que conheceram os outros membros dos GUNS N’ ROSES. Mesmo antes da edição da estreia «Appetite For Destruction», em 1987, os membros da banda adquiriram a reputação de notórios consumidores de álcool e drogas. À medida que a sua popularidade crescia, o reservado SLASH estabeleceu-se como uma parte importante da imagem visual da banda, com a sua cartolae um emaranhado de cabelo negro a cobrir-lhe o rosto enquanto típica e cambaleantemente percorria o palco com um cigarro pendurado na boca.

Como é sabido, o excesso hedonista consumiu a maioria da banda. Neste excerto autorizado ao THE GUARDIAN de “Slash: The Autobiography”, editado originalmente pela Harper-Collins, e assinado por SLASH e Anthony Bozza, o guitarrista regressa a 1989, logo após o final da digressão de promoção ao icónico álbum de estreia «Appetite For Destruction», e recorda uma época em que estava, literalmente, mergulhado no vício.

“Estávamos em 1989; depois do término da digressão de promoção do «Appetite For Destruction». Eu estava de volta a Los Angeles verdadeiramente sem rumo e desconfortável; pela primeira vez em dois anos não tinha um lugar determinado para estar, sem emprego, nada para fazer ao acordar. Estive fora tempo suficiente para que nada me satisfizesse e para que todos os aspectos normais da vida parecerem estranhos.

Não sabia bem como ou quando ir ao supermercado fazer compras após ter tocado em locais grandes no Japão uma semana antes. Tinha estado em digressão tempo suficiente para esquecer que houve um tempo em que comprava a minha própria bebida e os meus cigarros, e a excitação de tocar todas as noites era algo que não conseguia largar.

Certo dia, o Izzy ligou-me e fomos à casa de um amigo de um amigo, a quem chamaremos Bill. Tínhamos experimentado heroína na Austrália, por isso a vontade já tinha começado a bater quando chegámos a casa. Além disso, subconscientemente, após dois anos em digressão, sentíamos que merecíamos um prémio. De qualquer forma, o Bill apreciava drogas e tinha sempre de todas as variedades; era também muito generoso.

Quando alguém começa a tornar-se famoso e assim, começaram a acontecer algumas coisas típicas: em Hollywood, se estás num bar, toda a gente te quer pagar uma bebida, e é possível entrar em qualquer discoteca; goste-se ou não, tornas-te uma figura da vida nocturna. Quando isso começou a acontecer connosco, não havia nada menos interessante que eu pudesse imaginar fazer com o meu tempo. A cena de Hollywood era sempre a mesma, e quanto mais reconhecido ficava, menos gostava disso.

A quantidade de ‘amigos’ que queriam ‘curtir’ comigo já tinha quadruplicado e, como resultado disso, tornei-me completamente insular; olhando agora para tudo aquilo, faz todo o sentido que, na altura, tivesse optado por seguir para uma acolhedora zona de conforto com a heroína. Não queria ir a clubes de strip ou procurar raparigas atraentes, ou fazer exercício. Tudo o que queria era passar o tempo na casa do Bill e drogar-me. Isso acabou por tornar-se uma longa e atormentadora obsessão pela heroína, que durou de 1989 até 1991.

Nessa altura, passei por uma interessante sucessão de namoradas e um punhado delas vinha à minha casa, cada uma em noites diferentes. Em algum momento durante esses meses, o meu empresário teve a brilhante ideia de eu apresentar um prémio para não sei quem nos MTV Music Video Awards. Nem me lembro a quem entregámos o prémio, mas a minha co-apresentadora era Traci Lords, a estrela porno, por isso encontrámo-nos nos bastidores e começámos a namorar imediatamente.

Estava numa situação estranha; era ligeiramente famoso, infame, mas ainda preso a uma mentalidade restrita e limitada em termos de qualidade de vida. Naquela altura, podia ter 15 milhões de dólares na conta bancária, mas isso não mudava de todo o meu estilo de vida; não tinha carro, estava feliz por ter o meu apartamento de um quarto que parecia um quarto de hotel normal, e não precisava de mais nada — era assim que pensava. Ao mesmo tempo, sabia ser cavalheiro, que era exactamente o que a Traci Lords procurava.

No entanto, ela não queria ser vista em público comigo; se fôssemos a algum lugar onde pudesse haver alguma atenção, ela fazia-me entrar depois dela e encontrava-se comigo lá dentro, como se fosse por acidente. Claro que era reconhecido, pelo que ela insistia sempre que entrássemos por alguma porta de serviço num beco escuro. Parece que ela queria passar despercebida para não ser considerada uma groupie vulgar ou uma das meninas do mundo porno com quem tipos como eu saíam.

Nunca fui alguém que julgasse as pessoas por esse tipo de coisas e nunca entendi aqueles que o faziam; na verdade, a única razão pela qual sabia quem ela era foi tê-la visto num filme onde estava muito bem. Valorizava realmente isso, e achava que todos o valorizariam também. Não percebia o que se passava na cabeça dela. Claro que, quando começámos a sair juntos, o meu amigo West Arkeen trouxe uma cópia do ‘New Wave Hookers’ para vermos. Foi divertido, mas meio provocador porque eu e a Traci ainda não tínhamos dormido juntos. A nossa relação tornava-se insustentável devido ao stress.

A dada altura, a Traci ligou-me para fazer planos e, nesse dia, o West apareceu em minha casa com uma pedra de crack. Estivemos acordados durante os dois dias seguintes e, quando ela chegou para sair comigo, o West e eu estávamos tão alucinados que andávamos pelo chão à procura de pedrinhas. Sabia que ela iaaparecer, mas não consegui evitar: estávamos alterados; a única pessoa que lidaria bem com aquilo seria uma prostituta de rua viciada.

A minha casa estava um caos em todos os aspectos e não ajudou que o West estivesse como se fosse um pigmeu sentado: ele tinha apenas 1,60m e cabelo loiro liso que estava todo oleoso depois de dois dias a fumar crack. O West tinha sempre um sorriso idiota na cara, que se tornou mais e mais perturbador com o passar dos anos. Nessa tarde em particular, estava tão louco que decidiu atirar-se à Traci de uma forma totalmente descarada!

Estava tão drogado que não hesitou em ir até a estante, pegou no vídeo do ‘New Wave Hookers’ e, a apontar para a capa, disse: “Esta és tu, certo? Tu és a Traci Lords!”, enquanto se ria para ela, que, por sua vez, começou a olhar à sua volta. “Volto já,” disse ela com aquela vozinha. “Esqueci-me de algo no meu carro.” “Claro, vai lá,” disse eu. Eu estava totalmente fora de mim e com pouca noção do tempo, mas eventualmente percebi que ela já tinha saído há muito tempo e não iria voltar.

Decidi então fazer o que qualquer pessoa com dinheiro devia fazer após alugar por um tempo: comprei uma casa da forma como o meu gestor financeiro me aconselhou. Não fazia ideia do que seria o meu futuro ou de como gerir as minhas finanças; não tinha ambições mentais. Aos olhos dos outros, não gastava muito; o dinheiro continuava a ser um conceito abstrato para mim. Encontrei uma casa no final de Laurel Canyon.

Estava completamente fora de controlo naquela época. Lembro-me de encontrar o empreiteiro para falar sobre a renovação da casa de banho e pensar que cheirar cocaína seria uma boa forma de quebrar o gelo. Estávamos ambos na casa de banho e ele guiou-me pela porta que precisava de ser feita. “Sim, sim, fixe, pá,”disse eu. Baixei a tampa da sanita e snifei quatro linhas de cocaína. “Queres uma?” Ele pareceu realmente desconfortável. “Não, obrigado. Estou a trabalhar,” respondeu. “OK, sem problema,” disse eu. “É a minha vez, então.” “Não é só isso, são oito da manhã,” sorriu ele, pedindo desculpa.

Naquele momento, tornei-me num autêntico cliché do pesadelo que aquele construtor já tinha ouvido falar acerca de estrelas do rock — especialmente porque ele tinha sido contratado para transformar a casa de banho secundária e o jacuzzi num viveiro de cobras que ocupava um quarto do espaço. A ideia era construir paredes de vidro do chão ao teto em redor da banheira, elevada, e um conjunto de escadas de vidro para que se pudesse ver as minhas cobras, onde quer que estivessem. Mal podia esperar para encher aquilo de árvores e tudo o mais que as cobras gostam. Na Casa das Nozes, mantive 90 cobras e répteis.

Nem era preciso ter dons de vidente para perceber que, se quiséssemos voltar a ser uma banda, o Izzy, o Duff, o Steven e eu tínhamos de escrever algumas músicas para chamar o Axl de volta. Continuávamos a ensaiar e, assim que conseguimos ter algumas ideias prontas, fomos à casa do Izzy para compor algo e perceber onde ele estava com a cabeça. Não demorou muito para perceber… Fui urinar à casa de banho e reparei na camada de 5 cm de pó no chuveiro e na banheira. Não tinham sido usados durante semanas — o Izzy estava em maus lençóis.

O Axl apareceu nesse dia e começamos a trabalhar numa música chamada «Pretty Tied Up». Lembro-me do Izzy ter agarrado num prato de bateria e numa baqueta e feito uma cítara com isso; estava totalmente louco. Mas nem tivemos de lhe chamar a atenção; numa noite, entrou em pânico. Ficou tão abalado que não queria falar sobre o assunto. Apenas ligou ao pai dele, que veio de Indiana e o levou para casa. Foi assim que o Izzy se livrou das drogas. Está limpo desde então.

O restante de nós continuou a trabalhar, e uma vez que tínhamos um pouco de material e estávamos a comunicar com o Axl de novo, ele contou-nos que Izzy queria escrever o álbum seguinte em Indiana. Eu não conseguia imaginar porquê; ambos tinham saído de Indiana assim que puderam para vir para Los Angeles e nunca pareceram apreciar muito a ideia de voltar. De qualquer forma, a nossa situação era tão imprevisível que não ia mudar-me sem a garantia de que faríamos algo concreto. No final, concordámos em ir para Chicago.

Eu e o Doug Goldstein, o nosso empresário, fomos dar uma vista de olhos ao local onde iríamos morar e ensaiar. Escolhemos o Cabaret Metro, o famoso clube de rock no lado norte da cidade, e alugámos um edifício de apartamentos a alguns quilómetros de distância, na Clark Street. Mudámo-nos para lá, com os nossos técnicos, o Adam Day e o Tom Mayhew, e o nosso novo segurança, o Earl. O Duff, o Steven e os roadies mudaram-se para o primeiro andar, enquanto o Axl, o Izzy, o Earl e eu fomos para o andar de cima.

Para mim estava tudo bem, porque acabava por ficar sozinho durante a maior parte do tempo — passou mais de um mês até o Axl se juntar a nós, e o Izzy ficou lá menos de uma hora. Com o tempo extra que tínhamos, o Duff e eu esforçávamo-nos para manter a forma. Eu tinha uma das minhas bicicletas BMX lá e costumava andar com ela entre o apartamento e o local de ensaio, saltando por cima de tudo o que conseguisse, andando pelo passeio. Era um bom exercício. Às vezes, ia com o Duff ao ginásio, geralmente logo após as nossas vodcas matinais. Íamos fazer musculação a um daqueles YMCAs públicos com o Earl. Íamos de calças de ganga, fazíamos exercícios entre pausas para fumar cigarros — era muito revigorante.

Todas as noites íamos ao Smart Bar, mas não interagíamos com as pessoas de lá, apesar de termos uma dúzia de mulheres. Aquele lugar parecia um barril de pólvora, e eventualmente acabei por me fixar com uma rapariga. O nome dela era Megan; tinha apenas 19 anos e vivia com a mãe e um irmão mais novo num subúrbio perto dali. Tinha uma aparência realmente exótica, com seios grandes, rechonchuda, uma rapariga doce.

Tentei manter o foco no trabalho quando o Axl chegou, mas houve dois incidentes que puseram fim à minha estadia na ‘cidade do vento’. O primeiro foi a noite em que cheguei a casa depois de beber e vi um banquete de comida italiana no passeio em frente ao nosso apartamento. Olhei fixamente para aquela confusão… Pelo que me lembro, tinha insistido em passar a noite toda deitado no teto do carro enquanto éramos levados de bar em bar.

O nosso restaurante italiano favorito ficava ali ao pé e, aparentemente, o Axl tinha atirado toda a comida do jantar da banda para cima de umas pessoas que descobriram onde vivíamos e estavam a gozar com ele. Depois, destruiu toda a cozinha e todos os utensílios de vidro do apartamento. Como descobriríamos alguns dias depois, durante essa birra, o Izzy chegou, vindo de Indiana. Olhou para aquilo que se estava a passar ainda da rua, deu meia-volta com o carro e foi-se embora imediatamente, sem sequer entrar no edifício.

Devíamos ter percebido que Axl estava realmente infeliz depois desse primeiro incidente, mas tínhamos chegado a um ponto em que simplesmente o deixávamos nas suas viagens e adaptávamo-nos. Quem sabe se tivéssemos escutado o que queria que fizéssemos e concordássemos um pouco mais, não teria enlouquecido tanto. Mas mesmo assim, quem é que sabia o que o deixava infeliz? Ele tinha uma atitude amarga que parecia vir de uma depressão.

A gota de água com o Axl envolveu umas miúdas que a malta trouxe para casa uma noite. A Megan tinha saído e eu estava em casa, na cama. Já tarde da noite, ouvi um alvoroço; barulho de gente a chegar, a passar pela minha porta e a ir para o quarto do Axl. Até aí normal, apesar de o Axl passar a maior parte do tempo lá dentro sozinho, constantemente ao telefone. Aquela noite foi, sem dúvida, uma ocasião rara. O meu quarto ficava na parte da frente do apartamento, separado do do Axl pela sala de estar e por um corredor comprido como uma linha de comboio. Decidi ir ver o que se passava; encontrei então o Earl, o Tom Mayhew, o Steve e o Axl com duas jovens sorridentes do centro dos Estados Unidos.

Ficámos todos por ali e, a certa altura, sugeriu-se que elas se envolvessem connosco sexualmente. Elas concordaram em fazer sexo oral a todos, mas, por alguma razão, não queriam ter relações com nenhum de nós; isso irritou o Axl. As jovens explicaram a razão racionalmente, pelo menos para mim, mas o Axl teimava em discordar. O debate continuou por algum tempo e estava bastante calmo, até que, de repente, o Axl explodiu.

Expulsou-as com uma raiva chocante. A forma como tudo aconteceu foi completamente desnecessária. O melhor de tudo é que, segundo me disseram, o pai de uma das raparigas era um polícia importante de Chicago. Naquela manhã, arrumei as minhas coisas e apanhei um avião para Los Angeles. Alguns dias depois, convenci a Megan a mudar-se também para lá.

A minha forma de reagir quando me sinto frustrado criativamente é ser autodestrutivo com drogas. É a minha desculpa para seguir esse caminho, algo comum para os viciados. Pouco depois de chegar a Los Angeles, e considerando a situação da banda, mal surgiu a oportunidade, estava desesperado por agarrá-la. A Megan e eu já tínhamos arranjado casa; estávamos felizes no nosso novo lar. Ela revelou-se uma excelente dona de casa, mantendo tudo arrumado, a cozinhar, numa abordagem caseira natural. Ia cedo para a cama, acordava cedo para ir ao ginásio e depois limpava e cozinhava.

Ela ia para a cama às 10 ou 11 da noite, enquanto eu ficava acordado a noite toda, na sala, no rés-do-chão, a injectar-me a cada poucas horas na casa de banho. Algumas noites compunha músicas no sofá, outras ficava a olhar para as paredes. Quando dava por ela, já era manhã e a Megan já tinha acordado, e divertíamo-nos até eu me cansar. Ela nunca perguntava nada e assim fomos andando, felizes. Tínhamos apelidos para tudo. Para ela, tudo era ‘querido’ ou ‘lindo’, e eu geralmente era um ‘docinho’.

Em breve comecei a misturar cocaína com heroína em excesso e gostava realmente daquele tipo único de paranoia alucinatória que surgia da mistura. Ninguém me tinha ensinado a combinar as duas coisas. Achei que era como seguir uma receita de bolo. Coca e heroína são duas coisas boas que ficariam ainda melhores juntas. O pico da cocaína tornava-me mais activo e, depois, a heroína entrava em acção e a viagem dava uma volta; as duas substâncias alternavam-se na minha mente e acabava sempre por injectar toda a heroína antes da coca fazer efeito, acabando por ter um ataque cardíaco.

No final dessas noites, acabava geralmente também com a sensação peculiar de que alguém me andava observar, pelo que comecei a andar pela casa armado, o que me parecia sensato. Comprei várias armas: uma espingarda, uma .38 Especial, uma Magnum .44, e alguns revólveres. Levava o meu .38 nas calças e, depois da Megan adormecer, percorria a casa a pensar nas coisas enquanto começava a ver as figuras da minha alucinação a aparecerem nos cantos dos olhos.

Pleo canto do olho, via-as a saltitar e a arrastar-se pelas estantes, pelas cortinas e a correr pelo chão, mas sempre que virava a cabeça para as ver, desapareciam. Foi por essa altura que deixei de falar com toda a gente que conhecia e comecei a desenhar descontroladamente. Ao longo da minha vida, os desenhos que fazia sempre refletiram aquilo em que estava a concentrar-me na época. Durante esse período, só desenhava dinossauros e uns logótipos variados. Devia ter desenhado os pequenos demónios que nunca conseguia ver ou registar em cassetes de vídeo — também tentei fazer isso, acreditem.

Assim que comecei a consumir heroína e cocaína regularmente, aqueles tipos estavam por toda a parte. Eram figuras pequenas, viscosas e transparentes, que via de longe até se aproximarem quando eu estava drogado. Queria de alguma forma conhecê-los; ficava deitado no chão, à espera que o meu coração abrandasse, a ver o pequeno circo que aqueles tipos montavam no quarto. Muitas vezes pensei em acordar a Megan para ela também os ver. Cheguei até a tirar-lhes fotografias no espelho quando os apanhava a pender do meu ombro e do meu cabelo. Comecei a falar deles e a vê-los tão claramente que até assustei o meu dealer.

Nas raras vezes que saía para comprar droga, geralmente injectava-me em casa dele e começava a ver esses homenzinhos a subirem pelo meu braço. ‘Hei, estás a ver isto?’ perguntava, estendendo o meu braço. ‘Estás a ver este homenzinho, certo? Ele está aqui’. O meu traficante só ficava a olhar para mim. E era alguém habituado ao comportamento peculiar dos viciados. ‘Mais vale ires para casa,’ dizia ele. ‘Estás mesmo louco. tens de ir para casa.’ Até parecia que estava a prejudicar o negócio dele.”