Com «Maledictus», os SEVENTH STORM conseguiram surpreender tudo e todos. Não só com o disco propriamente dito, mas também com a performance dos músicos. Na década em que estamos, sobram dedos de uma mão para contabilizar as bandas nacionais de peso que estiveram no Top 10 de vendas luso. Pois bem, este novo grupo construído à volta de Mike Gaspar conseguiu atingir o segundo lugar na tabela logo na semana de lançamento do álbum de estreia e esteve durante várias semanas entre os mais vendidos. Junte-se a isto um RCA Club esgotado para a estreia em palco e, agora um Hard Club pronto a recebê-los, para termos aqui uma história de sucesso. Eis uma conversa recente com Mike, o fundador e baterista que dispensa apresentações, Rez, o vocalista, e Ben Stockwell, o guitarrista.
Um disco guardado, durante meses, até poder ser lançado. Como foi gerir a ansiedade durante todo esse tempo? Ben: Com muita paciência. Estávamos confiantes de que tínhamos um grande trabalho em mãos e, felizmente, fomos contando com o apoio uns dos outros para gerir a impaciência e a ansiedade. Durante esse tempo tivemos também a oportunidade ir ensaiando as músicas com calma e de ir preparando outras coisas.
Mike: Acho que todos os discos estão rodeados de uma certa ansiedade e preocupação! Nunca sabemos qual vai ser a reacção do público e aceitação da indústria musical. Neste caso, sendo um projecto novo, ainda subiu mais toda essa expectativa. A melhor forma que arranjámos +ara lidar com isso foi estarmos dedicados ao trabalho. A logística para estar tudo preparado a tempo estava do nosso lado. Desde de Dezembro, quando entreguei o master à editora, até ao lançamento, foi uma corrida louca. Capa, design, vídeos, entrevistas, e todo o social que se faz hoje em dia, realmente ajudou-nos a estarmos ocupados até finalmente sair o disco. Os ensaios, o sonhar com subir a um palco, fui o que alimentou toda essa época. Finalmente, agora podemos respirar um pouco.
Rez: Não foi fácil, mas soubemos gerir bem, utilizando o tempo para maturar as músicas a nível da sua performance com ensaios o mais regulares possível. A música é pura comunhão, como tal, até a podermos partilhar com o público, desde o momento em que o álbum ficou feito até à apresentação do primeiro single, tivemos sempre uma sensação de missão incompleta. Quando o momento chegou finalmente, foi extraordinário.
Era esperada a boa reacção ao trabalho, principalmente por cá?
Ben: Sabíamos que o álbum tinha muito potencial, mas nunca esperámos todo este feedback positivo. Creio que as pessoas sentem que é um trabalho feito de alma e coração, e ficámos muito contentes por ver que se identificavam.
Mike: Sempre tive a esperança que o disco fosse bem aceite pelos portugueses. O apoio do público até ao lançamento por cá foi impressionante. A minha visão era, sem dúvida, conseguir integrar o nosso sentimento e passado histórico, numa obra que também fundisse com os gostos dos estrangeiros, por esse mundo fora. Cada vez mais me convenço que o metal é uma união fortíssima. Seja lá fora, ou cá, estamos em sintonia. Nunca se celebrou tanto o metal como nos dias de hoje. Estou muito orgulhoso do nosso público que me acompanhou por tantos anos. Foram a minha força, e este disco foi mesmo feito, não só cá, mas com a alma lusitana que tantas saudades tinha. Ansiava mesmo um bom sucesso na nossa terra. Iniciar esta viagem com confiança para enfrentar o mundo! Lisboa é o nosso porto de partida. Vamos ver onde o mar nos leva.
As semanas que passaram na tabela de vendas fizeram bem ao ego?
Ben: Acima de tudo, foi uma enorme surpresa! Nunca esperámos que assim acontecesse e até brincávamos entre nós com essa possibilidade; ríamos, mas depois descíamos à Terra. Foi muito recompensador saber que havia muita gente a identificar-se com a nossa música, a querer ficar com o álbum físico, numa altura em que esta música é consumida, sobretudo, em plataformas de streaming. Ao mesmo tempo, eu, o Rez, o Josh e o Butch tocámos durante muito tempo em projectos pequenos que nunca singraram. Sabíamos que não podíamos tomar nada como garantido. Apesar de termos tido o nosso primeiro álbum no top de vendas, sabemos que temos de continuar a trabalhar, tal como fizemos até aqui, porque esse trabalho e dedicação é que trazem frutos.
Mike: Tudo que seja tops ou prémios, reconhecimento, sou um mimado. Tive um pouco de tudo que se possa sonhar como músico. Vejo sempre as coisas de forma diferente quando se tem um sucesso deste género. O que está por trás de um disco, então neste caso, é uma enorme equipa que acreditou, e fez tudo ao seu alcance para nos ajudar a ter este trabalho. Dou tudo a eles, e a elas, que não me deixaram desistir, ou de acreditar na possibilidade de ter um projecto com tudo que merece do melhor. Estou extremamente grato aos amigos e profissionais. Alimentar o ego, no meu caso, é uma coisa que humildemente tinha dificuldade em aceitar. Sobretudo neste caso, pensando na forma como cheguei aqui. Toda a dor e tristeza de fechar um capítulo na minha vida e iniciar outro… Sim, soube muito bem. Agora é continuar a mostrar que, afinal, os gostos musicais em Portugal são mais pesados do que se pensa.
Como referiste, quatro de vós possuíam menos pouca experiência à exposição pública. De repente, há um primeiro concerto esgotado e, agora, um novo concerto numa sala icónica. Como se reage a isso?
Ben: Em parte fiquei algo estupefacto de iniciar as apresentações ao vivo com uma sala esgotada. Por outro lado, quando entrei em palco, estava bastante tranquilo porque estava confiante de que estávamos bem ensaiados e todos muito bem enturmados. Sabíamos sempre que ia haver muita expectativa de voltar a ver o Mike a pisar um palco. Foi uma honra poder fazer parte desse momento. Creio que estamos todos a saber levar as coisas com a maturidade de não deixar que tudo o que está a acontecer nos suba à cabeça, porque sabemos o quão efémeras e voláteis podem ser as coisas neste meio. A experiência do Mike tem-nos ajudado muito a pôr as coisas em perspectiva, no sentido de gerir expectativas e saber manter a calma e o foco.
Mike: Eu passei muito tempo a tentar dar a conhecer toda a minha experiência aos meus piratas. Não é algo fácil, especialmente nos dias de hoje. Uma banda é exposta e mandada ao mundo das redes sociais de uma forma que, quando eu comecei, não existia. Hoje em dia, temos mesmo que fazer tudo ao nosso alcance para promover uma banda. Imagino que cada um lida de forma diferente com isto. Vejo que eles nasceram para isto, o desejo é enorme e a vontade de pisar um palco juntos era desesperante. Portanto, esgotado ou não, o concerto tinha sido o mesmo da nossa parte. Com um público fantástico e de um nível superior, tornou-se fácil e gratificante ter toda a reação. Fomos um só nessa noite. Ligados pela alma e pelo espírito. Só posso estar mais que contente em como a minha banda tem lidado com tudo. O público merece o melhor e a entrega fui absoluta. Muito, mas muito obrigado!
Rez: Quanto a mim, apesar de nunca ter participado num projecto com tanta exposiçã, a minha experiência no mundo da música, a nível do underground nacional, já conta com pelo menos cinte anos, vários álbuns lançados e inúmeros concertos, muitos deles nas mesmas salas onde estamos a apresentar este nosso trabalho. A grande diferença é na quantidade do público, porque a nível de qualidade é igual. Temos dos melhores públicos do mundo a nível de metal, não é por acaso que, cada vez que as bandas internacionais passam por cá, levam sempre consigo uma experiência única a nível da entrega do público. Não fossem as dificuldades logísticas naturais, nomeadamente os custos na deslocação a Portugal, e seríamos sem dúvida alguma um dos lugares de preferência para todas as grandes bandas do metal internacional.
Os novos concertos, entretanto surgidos, estavam nos planos?
Ben: Foram propostas recentes, mas sabíamos que iriam acontecer. Com o feedback positivo do primeiro concerto, acreditamos que irão cair mais propostas. Queremos tocar ao vivo e levar esta música às pessoas.
Mike: Nem por isso. [risos] Planeado foi apenas Lisboa e Porto. Claro que o desejo era fazer mais espectáculos pelo país fora, mas sabia que tinha que ser feito com cuidado. Surgiram novas ofertas, que, sinceramente, ao princípio tinha medo que fossem demasiado, com um concerto tão à porta. E sendo o primeiro, claro que toda atenção estava centrada ali. Quando me apercebi da vontade e dedicação por parte dos promotores, amigos, os fãs de regiões que muitas vezes não conseguem ir a Lisboa ou Porto… É por isso que alguns destes eventos existem. O espírito de trazer o metal para a nossa terra. Tudo isto derrete o meu coração e é também uma das razões porque não desisti. Tinha então que gerir as actuações presentes, e avançar com algo mais para este ano. Ainda bem que o fiz e assim já se pode dar mais a conhecer a nossa música. Estamos a usar Portugal como palco principal, para mostrar também ao mundo quem somos. O melhor começo possível e, voltando ao meu passado, a mesma forma de ganhar experiência. Vamos aos cantos todos do nosso país que tanto potencial têm.
E agora? Pode-se adivinhar uma digressão europeia? Presença em festivais? Mistura de ambos?
Ben: Para já ainda não temos nada traçado, mas vamos ver o que o futuro tem alinhado para os Seventh Storm.
Mike: O objectivo é, sem dúvida, esse. De início, se isto funcionasse, tinha em ideia um plano. A música tinha que ser a prioridade. Depois fazer o lançamento do disco e dar os primeiros concertos. Com toda a confiança, agora posso dizer que estamos prontos. Neste momento, estamos a falar com agências estrangeiras para ter esse apoio profissional. A editora também quer que nos foquemos nos concertos. E ainda bem, porque estava a ficar muito ligado à vida virtual. Ajudou imenso manter o contacto com os amantes de metal, mas estar na sua presença em carne e osso, é outra coisa. Tudo que vier a rede agora é peixe.
Será fácil falar no disco, nos concertos, mas podemos falar no trabalho envolvido nos bastidores? Como tudo se processa? Quantos formam hoje a equipa?
Mike: Bem, a equipa por trás do disco e a promoção foi gigante. A Atomic Fire deu disponibilidade completa de todos os seus meios. Até um apoio especial dedicado a Portugal, sem o qual também teria sido difícil alcançar certas metas. Os jornalistas fizeram um papel crucial, tanto antes do lançamento como depois. Ao vivo, a equipa base foi feita com um misto de família e amigos. Mesmo com alguns que não têm a experiência de técnicos com que trabalhei durante anos. Rapidamente preencheram todos os requisitos. São uma equipa fantástica. Tiraram-me todos os receios de subir ao palco, deram-me segurança e, acima de tudo, alegria. Ver que tudo ia funcionar e que a noite era nossa… Isso é impagável. Em muito pouco tempo, os Seventh Storm já têm uma família gigante. O público demostrou isso, a cantar as letras e a participar do concerto emotivamente. Estamos incrivelmente gratos e com sede para muito mais. Até breve, e obrigado a todos por levarem esta banda ao palco.