Ora aqui está o primeiro trabalho da nova banda de Mike Gaspar. Erguida em período de pandemia, com edição por um selo importante, a novel Atomic Fire Records. Não é fácil erguer um grupo de raiz, escrever temas e compor um disco em cerca de dois anos, se calhar dezoito meses. Obviamente que ser “ex” de um nome importante, contribui para a celeridade. Há contactos, caminhos já percorridos. Mike nunca o escondeu. Acontece que o elefante na sala fica por aqui. Musicalmente, a comparação entre os SEVENTH STORM e o passado é simples e passa por dois pontos: ambos os nomes são formados por músicos portugueses, ambos praticam rock pesado. Exaurido esse debate, importa centrar no presente e no futuro. Para surpresa de muitos, «Maledictus» não é um disco de um baterista, apesar da quase sinfónica «Inferno Rising», por acaso com um solo de guitarra Malmsteenano. É, isso sim, um bom disco, de uma jovem banda, em que existe um veterano da cena, que centra as atenções.
Esquecendo a marca Mike Gaspar, pode passar-se a escutar as orquestrações presentes no disco, a potência vocal de Rez, os solos de Ben Stockwell e todo o trabalho de formiguinha de Josh Riot e Butch Cid. Ora embarcando um hard rock pesadão, como no tema «Seventh», ora optando por uma veia de metal europeu. Talvez aqui resida o calcanhar de Aquiles do disco, não se definindo bem neste ou naquele estilo. Há em «Maledictus» momentos que podem agradar aos fãs dos Hammerfall, ou até de Jorn, por exemplo, mas depois aqui e ali está a malha orelhuda que agrada ao que resta do rock FM norte-americano. Com boas orquestrações, o trabalho possui faixas eventualmente longas para o género, muitas vezes sofrendo do problema de bandas novas, ou seja, demasiadas ideias e música para um só tema. Nada que a passagem por um produtor mais experimentado, leia-se estrangeiro, não pudesse limpar. Exemplo desse bom trabalho de orquestração é «My Redemption», um dos temas mais rápidos do disco. Ou a curta «Sarpanit», que antecede o início exótico de «Gods Of Babylon», um dos temas onde o potencial vocal de Rez, se revela, e um dos melhores do disco.
Finalmente tem-se «Saudade», versão nacional e internacional, acústica e eléctrica. Quatro versões, pelo menos no promocional distribuído para imprensa. Um pouco excessivo, colocando demasiado peso no tema, num disco que até se sustenta muito bem sem a necessidade de exaltar, em particular, aquele que foi o primeiro single. Há a natural veia lusitana que mesmo que não percebida fora de fronteiras, possui a marca da guitarra, imitando o som das cordas típicas do fado, que poderá seduzir quem escutar, mesmo sem saber da herança musical que acarreta. De resto, a faceta lusitana do grupo está bem patente na capa e em muitas das letras. Talvez seja este o caminho a seguir pelos SEVENTH STORM, o primeiro grupo nacional, com exposição internacional, a explorar a temática muito lusa dos oceanos. Já explorado no passado, o tema pode agora ganhar outra faceta com esta abordagem. Tal como nos séculos XV e XVI, os portugueses arriscavam a navegação, sem perceberem o destino final, e também estes músicos começam agora a sua odisseia, sem saberem o que encontrar e, espera-se, com o Adamastor já lá atrás. [8]