No dia 16 de Dezembro de 1996, os SEPULTURA fecharam um capítulo irrepetível da sua história. A Brixton Aacademy, em Londres, assistiu ao último rugido de Max Cavalera ao lado da banda que ajudou a definir o metal extremo dos anos 90.
MAX CAVALERA, actualmente à frente dos SOULFLY, CAVALERA CONSPIRACY, NAILBOMB e GO AHEAD AND DIE, entre outros projectos, reflectiu recentemente sobre a separação da formação clássica dos seus SEPULTURA, dizendo que a banda estava “podre por dentro“. O quarteto brasileiro desfez-se em 1996, com a saída de Max após o resto da banda se separar da sua esposa Glória como empresária do grupo. O seu irmão, o baterista Igor Cavalera, ficou com o grupo por mais dez anos, antes de deixar os SEPULTURA e se juntar a Max nos CAVALERA CONSPIRACY.
Embora a banda brasileira tenha mantido uma base de fãs obstinada em todas as partes do mundo ao longo da sua história de quase quatro décadas, a verdade é que os álbuns da era Max, sobretudo o «Roots», o «Chaos A.D.» e o «Arise» foram de longe os de maior sucesso comercial dos SEPULTURA, com os dois primeiros a serem certificados como ouro nos Estados Unidos por vendas superiores a quinhentos mil exemplares.
“Toda essa coisa do «Roots» aconteceu numa época muito confusa da minha vida, porque acho que não sabia como lidar com toda aquela coisa da fama muito bem — especialmente no Brasil“, começou por explicar Max, relembrando o seu último álbum com os SEPULTURA numa entrevista com o Heavy1 / Hard Force. “Lembro-me que, a dada altura, fomos ao Brasil, e o álbum era massivo — tipo, realmente grande; tipo, tão grande como os BEATLES. E lembro-me que tentei ir ao shopping com a minha esposa, e fomos cercados. Eu sabia que 70% das pessoas não tinham um disco dos SEPULTURA; era apenas a curiosidade gerada pelas celebridades. E isso incomodou-me.“
“E, claro, esse período é marcado pela glória e pela tragédia. Ao mesmo tempo que estávamos a comemorar esse grande álbum , houve uma grande tragédia bem no meio da coisa, a morte do Dana [Wells]”, recordou Max Cavalera, referindo-se ao falecimento do seu enteado em Agosto de 1996. “E foi amargo, meu. Acho que nunca gostei muito do que o «Roots» trouxe por causa disso. Foi cortado pela metade. Mas a vida é assim“, refere o ex-timoneiro dos SEPULTURA.
Questionado se a morte de Dana acabou por ser o ponto de partida para muitas das desavenças que levaram à eventual ruptura dos SEPULTURA, o músico revelou que “a situação já estava a piorar há algum tempo“.
“Muitas pessoas não sabem a história — estávamos em Inglaterra, prontos para tocar em Donington com o Ozzy. E recebemos a notícia de que o Dana tinha morrido“, recordou o Cavalera mais velho. “A minha mulher estava em total desespero. E eu sou o marido dela; tinha de a confortar. Por isso, voei para os Estados Unidos para estar com ela. E depois descobri que a esposa do Andreas tentou mover o corpo, tentou roubar o corpo de Dana e tentou enterrá-lo bem rápido para voltarmos para a estrada. Quem raios faz isso? Isso fez-me pensar nas pessoas com quem estava a fazer música.“
Relativamente à última digressão que fez com os SEPULTURA, Max explicou que “foi tudo muito confuso. E acabou por piorar porque, eventualmente, eles uniram-se, incluindo o meu irmão, não o posso ilibar, e foi como um motim. Eram eles três contra mim e contra a Gloria. E eles nem sequer falaram com ela. Aquela última digressão europeia, foi pura miséria; foi miserável mesmo. Claro que isso não se notava na música; a música era óptima e os concertos foram óptimos. No entanto, as outras 23 horas do dia eram terríveis — e era difícil lidar com isso.”
No entanto, de acordo com Max, havia outras divergências que contribuíram para a separação, incluindo as aspirações do resto da banda de trabalhar com figuras mais estabelecidas dentro da indústria musical. “Eles tinham ideias diferentes das minhas“, explicou o músico. “Uma delas era substituir a Gloria e muitos outros elementos da nossa equipa por pessoas muito ‘profissionais’, com mais nome. E para mim, isso parecia uma coisa muito fodida de se fazer, porque era estarmos a trair as pessoas que nos ajudaram a chegar onde chegámos.
[…] E eu nunca concordei com isso, porque achava que as coisas estavam realmente a correr muito bem. Estávamos a receber convites de todos os grandes festivais; íamos ser a atracção principal do Big Day Out na Austrália, por isso a Gloria não era uma manager tão má como eles pensavam. Honestamente, acho que a melhor coisa que poderíamos ter feito teria sido tirarmos um ano inteiro de folga e todos deviam ter ido a algum lugar, limpar a cabeça e voltar um ano depois e conversar sobre isso. Mas mesmo que o tivéssemos feito, não havia remédio. O elo de ligação já estava quebrado. Estava podre por dentro, meu.”















