Num raro evento único a norte, os brasileiros SEPULTURA regressaram mais uma vez a Portugal. Entre críticas, habituais haters e aquelas eternas reservas de “no meu tempo é que era”, a banda esgotou a sala principal do Hard Club, algo raro de acontecer com metal nos tempos que correm. Com início mais cedo que o habitual, pouco após as 19:00, coube aos CROWBAR abrirem as hostilidades. Apesar da dúzia de álbuns de estúdio, incluindo o recente «Zero And Below», a banda de Kirk Windstein acabou em terceiro lugar no cartaz, tocando apenas para meia casa. No entanto, esta era uma meia casa que estava lá pelo quarteto sludge, como se pôde perceber pelas várias vezes que a actuação foi aclamada, com o público a gritar pelo nome da banda de New Orleans. Na realidade, o currículo dos elementos merecia ainda mais tempo e atenção, pois em palco estavam elementos dos Down, Soilent Green, Exhorder e EyeHateGod. “Apenas”. Face à carreira, este regresso soube a pouco, mesmo que o disco recente apenas tivesse sido comtemplado com dois temas – e Kirk quase pediu desculpa por abordá-lo. Mesmo assim, para os puristas, se calhar o colectivo aproximou o som em demasia do cartaz, oferecendo uma anordagem mais thrash que o esperado. O sludge ficou praticamente de fora, apenas com a clássica «All I Had (I Gave)» a receber o tratamento merecido.
Alinhamento CROWBAR: «Conquering», «I Feel The Burning Sun», «Bleeding From Every Hole», «To Build A Mountain», «The Cemetery Angels», «Chemical Godz», «All I Had (I Gave)», «Planets Collide», «Like Broken Glass».
Reza a lenda que há umas décadas atrás, na edição de 1989 do festival Dynamo, depois de assistir à actuação de uns quase desconhecidos brasileiros, a manager dos SACRED REICH decidiu trocar um grupo pelo outro. O resto é história, mas a verdade é que os SACRED REICH, que tanto prometiam, ficaram-se apenas por quatro álbuns, falhando uma posição mais alta, e merecida, na popularidade esperada. O quinto disco, intitulado «Awakening», veio já em momentos de saúde periclitante de um dos membros do grupo e, claramente, esta formação destinava-se à bucket list de muitos, pois foi a sua primeira aparição nos palcos lusos, como Phil Rind não deixou de fazer notar. Acontece que, apesar do curto catálogo para mais de três décadas de carreira, o resultado em palco foi muito acima do esperado, no que terá contribuído, em muito, a veterania de Phil e Wiley Arnett, a solidez da bateria de um ex-Machine Head, Dave McClain, e a energia de um jovem Joey Radziwill,que foi, claramente, a surpresa da noite. Joey é rápido nas seis cordas e mostrou uma energia que contrastava com o conformismo das barbas e cabelos grisalhos que toda a noite pisaram o palco. Talvez fosse a ele que a intro «The Boys Are Back In Town» se dirigia. Sem deslumbrar, o grupo de Phoenix esteve uns furos acima da primeira banda da noite e bastante melhor que as habituais investidas de veteranos a conseguirem palcos à custa de velhas glórias. No fim, foi de ficar a pensar o qie teria acontecido se a Gloria tivesse ficado com eles, naquele distante ano de 1989.
Alinhamento SACRED REICH: «Divide & Conquer», «The American Way», «Manifest Reality», «Who’s To Blame», «Killing Machine», «Awakening», «Independent», «Salvation», «Death Squad», «Surf Nicaragua».
A conversa nas redes é a habitual, “banda de covers dos Sepultura”. Na realidade, havia muitas gerações presentes na sala, de tal forma que eram muitos os pares de pais com a sua descendência. As intrigas, as mudanças de formação, podem ter afectado fãs, feito muitos deles desistirem, mas neste concerto, que se revelou curto, percebeu-se que hoje há muito mais no grupo, ainda brasileiro, do que seria de esperar. Como Derrick Green fez questão de lembrar, “nesta noite vamos ter novos temas e visitar a história dos Sepultura”. Apesar de uma história de peso, essencialmente entre 1987 e 1996, o colectivo, bem ou mal, soube reagir a duas saídas de peso, com a perda dos irmãos Cavalera, e conseguir, mesmo que lentamente, criar discos que valem por si. É o caso de «Quadra», que Derrick lembrou aos fãs terem tido dois anos para decorar. E eram esses SEPULTURA de «Quadra» e «Machine Messiah» que o público devia procurar, pois são excelentes álbuns. Pena que este último tenha tivesse ficado esquecido no alinhamento, preterido por uma dispensável visita a «Kairos». Valeramm no entanto, os cinco temas de «Quadra».
Quanto ao passado, foram revisitados alguns clássicos. Dispensava-se, hoje em dia, que o final ficasse a cargo de dois temas do «Roots», disco que, com o passar do tempo, ficou ultrapassado. Face à ausência de temas de «Beneath The Remains», uma «Infected Voice» podia ser descartada. Agora, feito o balanço, ficou um concerto bem sólido, superior, no balanço entre passado e presente, ao que muita banda clássica anda a oferecer em palco. Ouvir uma «Territory» encaixada entre temas recentes como «Isolation» e «Means To An End», sabe bem. Esse tema é, aliás, uma forma de mostrar como o grupo soube, finalmente, adaptar-se ao formato com Derrick… Mais do que este se conseguiu adaptar aos clássicos, convenhamos. Na comparação com o passado, o grupo perde força, sim senhor. Mas parte disso passa também pela idade dos seus elementos. Seria de esperar mais de Eloy Casagrande, por exemplo, enquanto Andreas Kisser se assume cada vez mais como um guitar hero. Podiam mudar de nome? Podiam, mas o passado foi lá atrás. Quando se vêem músicos, ou fãs, a salivarem porque a banda X vai pisar um palco perante escassas dezenas de pessoas, mesmo mantendo um membro original, espera-se mais abertura para um grupo que esteve sempre ali, foi fundamental e se soube reinventar. Neste concerto, um dos melhores da banda em território nacional, não se visitaram as míticas passagens pelo saudoso Dramático de Cascais, mas foi bem melhor do que o esperado.