MAX CAVALERA, actualmente à frente dos SOULFLY, entre outros projectos, reflectiu sobre a separação da formação clássica dos SEPULTURA, dizendo que a banda estava “podre por dentro“. O quarteto brasileiro desfez-se em 1996, com a saída de Max após o resto da banda se separar da sua esposa Glória como empresária do grupo. O seu irmão, o baterista Igor Cavalera, ficou com o grupo por mais dez anos, antes de deixar os SEPULTURA e se juntar a Max nos CAVALERA CONSPIRACY. Embora a banda brasileira tenha mantido uma base de fãs obstinada em todas as partes do mundo ao longo da sua história de quase quatro décadas, a verdade é que os álbuns da era Max, sobretudo o «Roots» e o «Chaos A.D.» foram de longe os de maior sucesso comercial, tendo ambos sido certificados como ouro nos Estados Unidos por vendas superiores a quinhentos mil exemplares.
Agora, Max relembrou o seu último álbum com os SEPULTURA numa entrevista com o Heavy1 / Hard Force. “Toda essa coisa do «Roots» aconteceu numa época muito confusa da minha vida, porque acho que não sabia como lidar com toda aquela coisa da fama muito bem — especialmente no Brasil“, começa por explicar o músico. “Nós fomos para o Brasil, e o álbum era massivo — tipo, realmente grande; tipo, tão grande como os BEATLES. E eu lembro-me que tentei ir ao shopping com a minha esposa, e fomos cercados. Eu sabia que 70% das pessoas não tinham um disco dos SEPULTURA; era apenas a curiosidade gerada pelas celebridades. E isso incomodou-me.”
“E, claro, esse período é marcado pela glória e pela tragédia. Ao mesmo tempo que estávamos a comemorar esse grande álbum , houve uma grande tragédia bem no meio da coisa, que foi a morte do Dana [Wells]”, continua Max, referindo-se ao falecimento do seu enteado em Agosto de 1996. “E foi amargo, meu. Acho que nunca gostei muito do que o «Roots» trouxe por causa disso. Foi cortado pela metade. Mas a vida é assim vida“. Questionado se a morte de Dana acabou por ser o ponto de partida para muitas das desavenças que levaram à eventual ruptura do grupo, o músico diz que “a situação já estava a piorar há algum tempo“. “Muitas pessoas não sabem a história — estávamos em Inglaterra, prontos para tocar em Donington com o Ozzy. E recebemos a notícia de que o Dana tinha morrido“, recorda o Cavalera mais velho. “A minha mulher estava em total desespero. E eu sou o marido dela; tinha de a confortar. Por isso, voei para os Estados Unidos para estar com ela. E depois descobri que a esposa do Andreas tentou mover o corpo, tentou roubar o corpo de Dana e tentou enterrá-lo bem rápido para voltarmos para a estrada. Quem raios faz isso? Isso fez-me pensar nas pessoas com quem estava a fazer música.”
Em relação à última digressão que fizeram juntos, Max Cavalera explica que “foi muito confuso, meu. E acabou por piorar porque, eventualmente, eles uniram-se, incluindo o meu irmão, não o posso ilibar, foi como um motim. Eram eles três contra mim e contra Gloria. E eles nem falaram com ela. Aquela última digressão europeia, foi pura miséria; foi miserável mesmo. Claro que isso não se notava na música; a música era óptima e os concertos foram óptimos. No entanto, as outras 23 horas do dia eram terríveis — e era difícil lidar com isso.” No entanto, de acordo com Max nesta entrevista, havia outras divergências que contribuíram para a separação, incluindo as aspirações do resto da banda de trabalhar com figuras mais estabelecidas dentro da indústria musical.
“Eles tinham ideias diferentes das minhas“, explicou o músico. “Uma delas era substituir a Gloria e muitos outros elementos da nossa equipa por pessoas muito ‘profissionais’, com mais nome. E para mim, isso parecia uma coisa muito fodida de se fazer, porque era estarmos a trair as pessoas que nos ajudaram a chegar onde chegámos. […] E eu nunca concordei com isso, porque achava que as coisas estavam realmente a correr bem. Estávamos a receber convites de todos os grandes festivais; íamos ser a atracção principal do Big Day Out na Austrália, por isso a Gloria não era uma manager tão má como eles pensavam. Honestamente, acho que a melhor coisa que poderíamos ter feito teria sido tirarmos um ano inteiro de folga e todos deviam ter ido a algum lugar, para limpar a cabeça e voltar um ano depois e conversar sobre isso. Mas mesmo que o tivéssemos feito, não havia remédio. O elo de ligação já estava quebrado. Está podre por dentro, meu.” Podes ouvir a entrevista, na íntegra, no player em cima.