“O valor artístico disso é zero“, diz Kisser. Uma coisa é certa: o debate em torno do legado dos SEPULTURA promete durar tanto quanto os riffs que mudaram a história do metal.
Em entrevista ao IMPACT Metal Channel, Andreas Kisser, guitarrista, principal compositor e timoneiro dos SEPULTURA, não poupou palavras quando incitado a comentar as recentes regravações dos primeiros LPs da banda feitas pelos irmãos Max e Igor Cavalera. Como é do conhecimento geral, entre 2023 e 2024, os dois fundadores do icónico grupo brasileiro lançaram , sob o nome CAVALERA, novas versões de «Bestial Devastation», «Morbid Visions» e «Schizophrenia».
Embora as reinterpretações tenham sido aplaudidas de forma quase unânime pelos fãs, Kisser foi enfático ao expressar a sua desaprovação. Questionado sobre as novas versões dos clássicos, declarou: “Para ser muito sincero, não acho nada. Quer dizer, foi uma escolha estranha por parte deles. O valor artístico é zero. Talvez estejam a querer ganhar dinheiro ou algo assim, mas não há qualquer motivo que justifique fazerem uma coisa dessas.“
Andreas Kisser, que se juntou aos SEPULTURA em 1987 e foi essencial na consolidação do som e sucesso global da banda, vê o projecto dos irmãos Cavalera como uma abordagem sem mérito artístico. Mais que isso, o músico foi além, classificando as regravações como uma atitude desrespeitosa, não apenas para os fãs, mas para com os próprios protagonistas da era inicial da banda. Numa comparação directa, o músico elogiou o trabalho de Jairo Guedz, outro ex-elemento dos SEPULTURA, actualmente à frente dos muito aplaudidos THE TROOPS OF DOOM.
Segundo Andreas, Guedz tem prestado uma homenagem bastante mais digna e criativa à fase inicial dos SEPULTURA, ao mesmo tempo que avança com material novo. “Prefiro muito mais os The Troops of Doom, a nova banda do Jairo, que está a fazer um tributo incrível àquela época, muito honesto, mas que também acrescenta algo novo. Os irmãos Cavalera estão a divertir-se, que seja. Não me importo. Só acho que isso é totalmente desnecessário. É realmente muito desrespeitoso com eles mesmos, com eles mesmos no passado.“
As palavras do músico não deixam, de resto, margem para dúvidas sobre a sua posição, sublinhando também a aparente incoerência no comportamento de Max Cavalera, que, segundo ele, contradiz a imagem de artista criativo e inovador que construiu ao longo dos anos. “É muito estranho ver alguém como o Max que está sempre a dizer que fez isto e aquilo, que é muito criativo, que fez tudo sozinho, e fazer essa merda, regravar riffs que fizemos há 30, 40 anos. A retórica não bate com o exemplo. Mas não importa. Eu acho simplesmente que o valor artístico disso é zero.“
A controvérsia entre Andreas Kisser e os irmãos Cavalera remonta ao distanciamento ocorrido em 1996, quando Max deixou a banda, seguido por Igor em 2006. Desde então, ambos os lados seguiram os seus caminhos distintos, mas as trocas de críticas públicas nunca cessaram. Os SEPULTURA estão actualmente na estrada a concretizar aquela que será a sua última tour mundial, apelidada Celebrating Life Through Death. Esta celebração, que combina décadas de música pesada e uma homenagem o percurso do grupo brasileiro, marca a despedida de uma das maiores instituições do metal mundial.