Se a Oprah tem um, o gato do Amorim também.
Para não ser sempre no sofá ou noutras peças de mobília, joguei uma garra à estante e saquei de lá este volume. O papel tinha um cheiro especial e não me inibi de lhe arrefinfar umas trincas a ver se o sabor correspondia. Nem por isso, pelo que decidi folhear o sacana do livro a ver se aprendia alguma coisa, uma vez que agora toda a gente fala de death metal e grindcore como se fosse a grande novidade musical da época.
Antes de saírem do armário do prog, o que o que os Opeth faziam nos últimos anos, além de aborrecer as pessoas, corresponderia à ideia de muitos do que seria o death metal ou, mais grave ainda, os inenarráveis Arch Enemy. Mas ambas as bandas são mencionadas no livro de Mudrian, editor da revista norte-americana Decibel, bem como todos os nomes incontornáveis no nascimento e desenvolvimento de ambos os géneros que, embora diferentes, têm mais pontos em comum que divergências.
Dividido em dez capítulos, que seguem uma perspectiva história e geográfica dos géneros, conta ainda com uma introdução do grande John Peel, que merece a vénia de qualquer ser celular, incluindo a de um gato, e um prefácio de Nick Terry, nome incontornável para quem acompanha o jornalismo de peso, especialmente durante os anos 90.
O livro documenta de forma apaixonante as origens dos géneros, as influências determinantes, a busca incessante por uma sonoridade cada vez mais extrema, o circuito de tape-trading, as tricas do underground e permite um olhar profundo pelas carreiras de nomes determinantes como Napalm Death, Repulsion, Morbid Angel, Death ou Entombed. Com entrevistas a muitos dos protagonistas dos movimentos, acompanhadas por fotos e flyers raros, «Choosing Death» é de leitura essencial não só para apreciadores como para qualquer pessoa que se interesse por música ou cultura alternativa.
Um dos grandes méritos desta obra de Albert Mudrian é não se limitar à história mas reflectir sobre o futuro dos géneros a que alude, na sua influência sobre os géneros mais mainstream, como foi o óbvio caso dos Slipknot, e conseguir manter um olhar crítico sobre algo que lhe é, claramente, tão caro. Portanto, fica a recomendação: se blogues ranhosos e desinformativos são uma doença, este livro é a cura. Ou pelo menos um potente antibiótico.