Liderados por PHIL ANSELMO, no seu LP de estreia, os SCOUR afirmam-se como um super-grupo norte americano a ressoar dos fiordes nórdicos. Resta saber se o brilho deste ouro resistirá ao teste do tempo ou se desvanecerá como tantas outras homenagens ao legado ‘norsk’.
Lançado pela Nuclear Blast Records, o novo álbum dos SCOUR, intitulado «Gold», apresenta-se como uma portento de black metal híbrido, assinado por um super-grupo americano liderado por Philip H. Anselmo, dos PANTERA. Desde o primeiro acorde, o primeiro longa-duração do colectivo revela-se um forte candidato a uma possível lista de títulos de melhor álbum do ano, não apenas no universo do black metal moderno, mas em todo o espectro do metal extremo.
Ainda assim, por trás do brilho dourado, é essencial analisar o que torna este trabalho tão poderoso e o que poderá limitar a sua longevidade no género. Gravado entre 2023 e 2024, «Gold» beneficia de uma produção meticulosa por Dennis Israel, com a masterização a cargo de Jens Bogren, na Suécia. O som é poderoso e polido, evitando a armadilha do lo-fi que muitos projetos de black metal contemporâneo ainda insistem em perseguir. A clareza da mistura permite que cada instrumento ressoe com nitidez, conferindo ao álbum um impacto visceral.
O elefante na sala: em «Gold», os SCOUR mergulham profundamente na tradição escandinava do black metal, uma escolha ousada para uma banda norte-americana, ainda que a experiência dos seus membros legitime essa abordagem. Mark Kloeppel ( dos MISERY INDEX, CAST THE STONE) e Derek Engemann (dos PHILIP H. ANSELMO & THE ILLEGALS, CAST THE STONE, ex-CATTLE DECAPITATION) dominam as duas guitarras com um duelo de tremolo picking que ecoa as paisagens sonoras da Noruega.
Esse virtuosismo é especialmente notório em «Blades», um daqueles temas em que o som gelado e implacável se aproxima muito perigosamente das raízes dos DARKTHRONE ou IMMORTAL, quase obliterando qualquer traço de identidade americana. O mesmo estilo de picking alternado percorre «Coin» e «Evil», onde a banda constrói uma parede sonora impressionante, embora previsível.
Se, por um lado, isto presta uma homenagem respeitosa ao legado do norsk black metal, por outro, levanta a questão: até que ponto é inovador replicar uma fórmula que já foi aperfeiçoada pelos pioneiros nórdicos? Onde os SCOUR realmente se destacam é na sua capacidade de fundirem black metal com nuances de death e grind. Feitas as contas, a espinha dorsal de «Gold» é mesmo a secção rítmica liderada pelos irmãos John Jarvis (AGORAPHOBIC NOSEBLEED, ALL WILL FALL, ex-PIG DESTROYER) e Adam Jarvis (MISERY INDEX, LOCK UP, PIG DESTROYER).
Juntos, criam um ataque sonoro implacável, que não dá tréguas ao ouvinte. A precisão e ferocidade da bateria de Adam, combinadas com as linhas de baixo devastadoras de John, formam uma base sólida e brutal, onde vários géneros se cruzam (há até uma participação especial de Gary Holt, dos SLAYER e EXODUS) com uma facilidade dos diabos. Esta fusão é particularmente evidente em «Infusorium», onde a agressividade do grindcore é habilmente misturada com atmosferas sombrias e melancólicas.
Em momentos como esse, a banda mostra um lado criativo que vai muito para além da simples emulação do passado e a incorporação destes elementos é feita de uma forma tão, mas tão, subtil que poderia ter sido explorada ainda com mais ousadia. Isto porque os SCOUR têm potencial para desafiar os limites do género, mas optam frequentemente por seguir caminhos seguros. Portanto, «Gold» é, sem dúvida, um notável álbum de black metal modernaço e um marco na carreira dos SCOUR, mas a obsessão em recriar o som escandinavo clássico acaba por limitar a originalidade do apresentam.
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