Olhando para 2020, conjugava-se a edição de múltiplos títulos de nomes maiores do metal nacional. Com a pandemia, a esses trabalhos somaram-se outros, transformando 2022 num ano particularmente produtivo entre nomes maiores da cena nacional. Nesse contexto, os SACRED SIN são um deles – e não apenas “mais um”. Dois factores despertaram a curiosidade para este sétimo selo do pecado sagrado. Primeiro, o regresso de Tó Pica ao grupo embora, em palavras recentes de José Costa, o guitarrista nunca tenha estado realmente afastado. Depois, o excelente EP lançado em 2020. Esse disco, «Born Suffer Die», acaba por ser um problema para o novo longa-duração. Aquilo que seria um cartão de visita, acabou por ser, durante dois anos, tudo o que havia para ouvir da nova formação. Com isto, perdeu-se um pouco o efeito surpresa sobre este novo LP. E apenas isso. Mais de três décadas após a fundação de uma das bandas maiores da segunda geração do metal nacional, aquela que realmente bebeu do movimento thrash e similares, não se espera que «Storms Over The Dying World» traga novidades ou experimentação. E os SACRED SIN sabem disso. Jogar pelo seguro, mas jogar bem, é tudo o que se deve pedir a veteranos como estes. E foi isso que fizeram aqui.
A voz de Costa aparece mais colocada que em outros momentos, mas sem grandes invenções. O seu baixo opta, quase sempre, por acompanhar os restantes instrumentos. Já a bateria de Fernando Dantas destaca-se pela abordagem diferente, como acontece em «Hell Is Here», por vezes sendo mais um instrumento que um marcador de ritmos, como muitos bateristas se conformam em ser. Restam as guitarras, e é nelas que reside muito do segredo deste disco. O uso de duas guitarras neste grupo não é novidade, mas os solos Pica, alguns mais clássicos, outros mais death oriented, conseguem destaque porque, no ritmo, há uma guitarra que soa alto o suficiente para o solo assentar. Escute-se «Defy The Master», por exemplo; o refrão, e a entoação, em “master”, podem até lembrar a hoje tão popular «Master Of Puppets», mas a dinâmica da primeira parte é puramente Slayer – e se Pica saca aquele loop de guitarra, meio folk, ali aos dois minutos e meio, é porque, por baixo, está sempre um ritmo bem denso, que suporta o tema, e as mudanças de cadência, a cargo de Luís Coelho.
Em 2022, os SACRED SIN soam como uma boa mistura dos Slayer com os Kreator, não só na construção musical, mas também por, tal como ambos os nomes, conseguirem atingir as três décadas de existência com um disco homogéneo, sem fillers. Quantos nomes, nacionais e internacionais se poderão gabar do mesmo? Finalmente, numa velha tradição do metal, chega-se a «Skull Crushing Darkness», tema longo, mid tempo, com teclados pelo meio, num ambiente mais negro. A uns samples, a assinalar a típica faixa épica/atmosférica, para encerrar o disco, juntam-se novamente as guitarras, com Dantas a fazer o seu bonito e Costa a adequar a voz. Afinal, estes são músicos capazes de inventar algo, quando menos se espera. Um disco original? Não. Um disco competente? Também não. Antes um excelente disco, em que se oferece o que o público deseja, se revela aquilo que se aprendeu e se mostra como se pode ser veterano com três décadas e não soar embaraçoso. [8.5]