A polícia de Los Angeles está a investigar a morte do cineasta ROB REINER e da sua mulher, encontrados sem vida na sua residência em Brentwood, num caso de aparente homicídio que permanece envolto em incertezas.
O mundo do cinema e da cultura popular foi abalado esta segunda-feira, 15 de dezembro, pela notícia da morte de Rob Reiner, realizador, actor e figura incontornável de Hollywood, e da sua mulher, Michele Reiner, num caso que as autoridades classificam, para já, como um aparente homicídio. O casal foi encontrado morto na sua casa em Brentwood, na Califórnia, ambos com ferimentos compatíveis com uma arma branca, segundo informações avançadas por fontes policiais norte-americanas. Não foram detectados sinais de entrada forçada na residência.
Rob Reiner, que tinha 78 anos, e Michele, de 70, terão sido encontrados já sem vida no interior da habitação. Um porta-voz da família confirmou oficialmente as mortes, pedindo contenção mediática e respeito pelo luto num momento de profunda dor. “É com uma tristeza profunda que anunciamos a trágica morte da Michele e do Rob Reiner. Estamos devastados por esta perda súbita e pedimos privacidade neste momento incrivelmente difícil”, lê-se no comunicado divulgado à imprensa.
As autoridades mantêm, no entanto, uma postura cautelosa quanto às circunstâncias do crime. De acordo com informações publicadas pela imprensa norte-americana, o filho do casal, Nick Reiner, de 32 anos, foi identificado como “pessoa de interesse” e estará a ser ouvido pela polícia. Ainda assim, o Departamento de Polícia de Los Angeles sublinha que não existe, neste momento, qualquer suspeito formal.
O vice-chefe Alan Hamilton esclareceu que a investigação se encontra ainda numa fase muito inicial, acrescentando: “Neste momento não estamos à procura de ninguém como suspeito, nem de nenhuma outra forma”. Hamilton frisou ainda que ninguém foi detido ou interrogado como suspeito e que o objectivo passa por ouvir todos os familiares para apurar os factos. “Vamos tentar falar com todos os membros da família que conseguirmos, para chegar à verdade desta investigação”, afirmou.
A notícia reacende a atenção sobre a vida e o legado de Rob Reiner, uma figura que atravessou várias décadas da história do entretenimento norte-americano com impacto raro. Enquanto actor, venceu dois prémios Emmy pela sua participação na série televisiva All In The Family, um marco absoluto da televisão norte-americana dos anos 70. No entanto, foi sobretudo atrás da câmara que construiu uma filmografia extraordinária, marcada pela versatilidade e por um apurado sentido de observação humana.
Entre os seus trabalhos mais celebrados encontram-se clássicos como Stand By Me, The Princess Bride, When Harry Met Sally, Misery, A Few Good Men, The American President, Ghosts Of Mississippi e The Bucket List, títulos que atravessam géneros tão distintos como o drama, a comédia romântica, o thriller psicológico ou o cinema político. Nos últimos anos, Reiner manteve-se muito activo, tendo realizado o documentário Albert Brooks: Defending My Life, nomeado para os Emmy, e Spinal Tap II: The End Continues, a muito aguardada sequela de This Is Spinal Tap.
Foi precisamente This Is Spinal Tap, lançado em 1984, que garantiu a Reiner um lugar absolutamente singular na história da cultura pop. Realizado por si e escrito, improvisado e interpretado por Michael McKean, Christopher Guest e Harry Shearer, o falso documentário começou por passar quase despercebido, ao ponto de alguns espectadores acreditarem tratar-se de uma banda real. O filme acompanha as desventuras de um grupo britânico fictício de heavy metal, célebre pela estranha tendência para perder bateristas em acidentes absurdos, numa sátira mordaz ao universo das bandas de rock.
Com o tempo, o boca-a-boca transformou-o num verdadeiro fenómeno de culto. A forma inteligente como caricaturava excessos e clichés de bandas como STATUS QUO, LED ZEPPELIN ou BLACK SABBATH conquistou tanto o público geral como músicos reais. O impacto foi tal que expressões como “subir o volume até ao 11” entraram definitivamente no léxico popular, e o filme acabaria por inspirar bandas reais, incluindo METALLICA, que reconheceram publicamente a sua influência. Em 2002, «This Is Spinal Tap» foi considerado “cultural, histórica e esteticamente significativo” pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, sendo preservado no National Film Registry.
Para além do cinema, Rob Reiner destacou-se também como activista político e cívico. Foi uma figura central na aprovação de uma taxa sobre o tabaco na Califórnia, cujas receitas foram canalizadas para o desenvolvimento da primeira infância, e presidiu à comissão estatal responsável pela sua implementação. Em 2008, ajudou a fundar a The American Foundation For Equal Rights, organização que desempenharia um papel decisivo no caminho para a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o país.
A morte violenta de Rob e Michele Reiner encerra, de forma abrupta e trágica, a vida de uma das figuras mais influentes e multifacetadas da cultura norte-americana das últimas cinco décadas. Enquanto a investigação prossegue, permanece um sentimento de choque e incredulidade, não apenas pela brutalidade do acontecimento, mas também pela perda de um criador cuja obra continua profundamente enraizada no imaginário colectivo, do cinema clássico à história do heavy metal.